O Cinema da Lumber.
Os anos se passaram e muitos documentos e livros de
registros da “Lumber” foram desaparecendo com o tempo. Sobre o cinema, sabemos
apenas que logo no início das suas atividades, a “Lumber” possuía um cinema na
Vila Argentina, que servia de entretenimento aos seus funcionários. Era o Cine
Monroe.
Mais tarde, esse mesmo cinema teria sido mudado para a sede
da empresa, atual CIMH. O projetor usado no cinema, era a base de “carvão” e
produzia uma imagem excelente. Os tresbarrenses mais antigos nos contam que
enquanto uma lâmpada produzia mil wates de potência, o carvão gerava três mil
wates.
Em setembro de 1952, com a posse do Exército sobre a área da
“Lumber”, o cinema se tornou conhecido como: “Cine Militar”.
O cinema fez parte da história de Três Barras e teve seus
momentos de glória e magia através de várias gerações.Era o ponto máximo da
cultura tresbarrense.
Suas últimas sessões aconteceram no início de 1980.
Entre as pessoas que trabalharam no Cinema da Lumber
(projecionista, bilheteiro, lanterninha, porteiro, etc.) são lembrados com
saudades: Vitorino Ferreira, Feres Mansur, Mínero Bitencourt,
Antônio Toporoski, Orlando Pecharca, Basílio Bídus, Jeremias Massaneiro,
Friederich Brauhardt, Atanázio Braz e seus filhos Víctor João Braz, Déde e
Nivaldo Braz, Sebastião Garcia e Antônio.
O descaso com a cultura tresbarrense, deixou em ruínas um
espaço que até hoje poderia estar sendo útil para apresentações teatrais,
palestras e demais atividades culturais.
É lamentável que as pessoas sejam tão egoístas e acomodadas,
chegando ao ponto de deixarem que a nossa história seja esquecida ou levada
para fora.
Um povo que não tem memória, jamais terá uma história para
contar.
“O Cinema em Três
Barras”.
Três Barras teve como ponto de partida da sua colonização, a
Vila Argentina.
E lá, nos idos de 1915, já funcionavam dois cinemas:
O cinema brasileiro (Cine Variedades) e o cinema da Lumber
(Cine Monroe).
Nas décadas de 30 e 40, outro cinema funcionou junto ao
Clube Recreativo Tresbarrense (centro).
O cinema do qual os tresbarrenses mais sentem saudades, foi
o cinema da Lumber, (depois mantido pelo Exército, com sessões abertas ao
público em geral).
No início de 1980, em todo o Brasil, muitos cinemas fecharam
suas portas e com eles,
também o Cine Militar.
Os tresbarrenses que tinham como ponto de encontro e bate
papo, o “Cinema da Lumber”, ainda nos contam que:
• O cinema era mudo e só mais tarde veio o som.
• Os filmes eram em partes. A todo momento havia um
intervalo. Depois vieram os filmes colados.
• A tela era pequena e quadrada. Muito depois, é que passou
a Cinemascope (tela grande e retangular).
• Se a cópia do filme fosse muito gasta, arrebentava a todo
momento e o projecionista recebia uma grande vaia.
• A maioria dos filmes chegavam através do trem, em latões
que pesavam de trinta a quarenta quilos.
• O projetor do cinema da Lumber era a base de carvão e não
de lâmpada, como outros projetores.
• O cinema da Lumber possuía um total de 250 cadeiras.
• Durante vinte anos ou mais, o cinema utilizou uma música
de Tchaikovski (Concerto nº1 para piano), como prefixo musical, que anunciava o
início das sessões.
• Nas décadas de 50 e 60, o cinema da Lumber serviu de
espaço para atividades teatrais e solenidades de formaturas do Grupo Escolar
“General Osório”.
• A maioria das sessões aconteciam somente nos finais de
semana: Sábado à noite, Domingo à tarde e à noite.
• Era tradição, em todo 12 de outubro as escolas ganharem
uma sessão gratuíta de matinê, em homenagem ao dia das crianças.
• Por que os cinemas fecharam?
Porque os filmes novos passaram a ser liberados mais cedo
para a televisão, o vídeo cassete nos oferece uma infinidade de opções, o vídeo
game e o computador desviaram a atenção do público infanto-juvenil e a televisão
por assinatura complementa a questão.
• Para entender melhor o que representava o cinema na
comunidade tresbarrense, é interessante assistir ao filme “Cinema Paradiso”.
Esse filme é dedicado a todos aqueles que fizeram do cinema,
a sua grande paixão.
Acredito que toda cidade do interior, tenha também uma
história parecida com a nossa.
Enfim, onde existiu um cinema, sempre haverá uma história a
ser contada.
• Hoje, reduzidos às capitais e às cidades com um
considerável número de habitantes, os cinemas são freqüentados por aqueles que
anseiam em assistir ao filme em lançamento.
Raramente, alguém vai ao cinema para ver uma reprise; como
acontecia antes.
• Em novembro de 2003, estando trabalhando como professor na
disciplina de sociologia,
José Francisco de Souza, juntamente com seus alunos,
montaram um projeto sobre a
história do cinema em Três Barras.
O projeto foi apresentado pelos alunos na “Iª Feira Escola
Viva”, do Colégio Estadual
“General Osório”, entre os dias de 21 e 22 de novembro.
Uma média de trezentas pessoas (alunos e moradores locais)
visitaram a sala que conta-
va um pouco sobre o que era o cinema na nossa comunidade.
“Luz, câmera, ação!”, tinha como objetivo, resgatar um pouco
da história cultural dos
tresbarrenses.
Ainda sobre o cinema...
• Os cartazes que anunciavam as novas atrações do cinema,
eram expostos diante do Hotel e Bar Tupã (centro).
• Se o final de semana era de chuva forte, faltava energia
elétrica. O filme parava na metade e voltávamos todos para casa.
• Em casos assim, recebíamos o ingresso novamente, para
voltarmos numa próxima sessão.
• Não havia a televisão e as matinês eram esperadas com
ansiedade, pela garotada.
• No ano 2001 foi realizada uma pesquisa com 20
tresbarrenses, que responderam sobre a importância do cinema na cultura da
comunidade.
Muitas das informações obtidas, estão descritas aqui neste
disquete.
• A influência da Lumber junto às distribuidoras cinematográficas
de Curitiba, nos possibilitava assistir aos filmes recém-lançados no Brasil.
• Na pesquisa realizada, foram entrevistadas pessoas de
idades diferentes, que freqüentaram o cinema em épocas diversas. Desse modo,
cada um contou a história a partir do seu ponto de vista.
• Pesquisa: José Francisco de Souza.
• Três Barras – SC - Dezembro/2001.
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Luz, Câmara, Ação.
Por José Francisco de Souza.
Houve uma época que já vai longe, em que passar algumas
horas numa sala de cinema, era o momento mais importante na vida de muita
gente.
Eram momentos mágicos, de sonhos e entretenimento.
Em poucas palavras, esta é a história de um antigo cinema,
que durante muitas décadas foi a principal diversão de uma cidade toda.
Lá pelos idos de 1900...no pequeno povoado de Três Barras,
chegaram os americanos, vindos da Califórnia e instalando ali a maior serraria
da América do Sul: a Companhia Lumber.
Com a grande serraria, chegaram centenas de famílias, vindas
de todas as partes em busca de trabalho.Logo, como entretenimento para seus
funcionários, a Lumber construiu um cinema.
No início os filmes eram mudos, é verdade.Mas, já em 1927, o
filme “O cantor de jazz” estreava como primeiro filme sonoro, dando mais vida
ao mundo da sétima arte.
Meus pais, tios e demais parentes, foram assíduos
freqüentadores do cinema da Lumber, nas décadas de 40 e 50, época de ouro de
Hollywood.
Mocinhos e bandidos, piratas e princesas, castelos
encantados, castelos assom-
brados...
Viajando pelo velho Oeste em meio às caravanas, pelo Saara
em velozes tapetes mágicos ou pela selva africana, ouvindo o grito do Tarzan, a
platéia vibrava sem se importar, que tudo aquilo na tela, era apenas uma
fantasia.
Era uma linda tarde de domingo de 1965, quando entrei pela
primeira vez no Cine Militar (ex-Lumber), para assistir a uma comédia do
Charles Chaplin.
Naqueles românticos anos 60, a televisão ainda não havia
chegado aos nossos lares e o cinema prosseguia com suas sessões sempre lotadas.
Era a época dos grandes épicos, dos westerns, das aventuras
e dos românticos:
“La violetera” e “Dio como ti amo”.
Hitchcock assustou muita gente com seu bando de pássaros
selvagens, quando aqui foi exibido: “Os pássaros”.
Perigo, aventura e suspense na tela.Mas, na platéia, o
inesperado também acontecia.
A luz acabou ou a fita arrebentou?
Perguntava a platéia enfurecida, quando em meio a uma cena
de ação, o filme parava de repente.Não foram uma, nem duas vezes em que
recebemos os ingressos novamente, para voltarmos em outra sessão, no próximo
domingo.
Quando o final de semana era de chuva forte, geralmente
faltava energia elétrica e lá se ia a nossa diversão.
E se a cópia do filme fosse muito velha e desgastada, não
havia “durex” que colasse.
Hoje, quando entro numa vídeo locadora, posso alugar quantos
filmes desejar.
Naqueles tempos, os filmes demoravam a chegar e vinham em
latões pesados, trazidos pelo trem.
Muitas coisas mudaram até para melhor...
Porém, a magia das matinês já não existe mais.
Alguém acreditaria, que aquela era uma época dourada, em que
as telas dos cinemas faziam brilhar astros e estrelas, que durante décadas a
fio fizeram a alegria de várias gerações? Sim, essa época realmente existiu.
Mas o tempo foi passando...
A televisão chegou de mansinho e se expandiu pelos lares.
Nosso antigo cinema prosseguiu até 1980, tendo como últimas
apresentações alguns filmes nacionais.
Nessa mesma década, de Norte a Sul do Brasil, muitos cinemas
começaram a fechar, sentindo que as salas já não eram mais um filão comercial.
E com a chegada do vídeo cassete e da liberação dos filmes
novos para a TV, a queda de público nos cinemas aumentou ainda mais.
O cinema, já desativado, passou a dar espaço para bailes e
discoteques, para uma gera-
ção alheia à história daquele espaço.
Sendo uma construção antiga, hoje só nos restam as ruínas
como lembranças.
Na última vez em que lá estive, ao tocar as mãos naquelas
paredes, pensei comigo mesmo:
se elas falassem, quantas histórias não teriam para nos
contar?
* José Francisco de Souza, é pedagogo e professor de teatro.
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