sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O Cinema da Lumber


O Cinema da Lumber.

Os anos se passaram e muitos documentos e livros de registros da “Lumber” foram desaparecendo com o tempo. Sobre o cinema, sabemos apenas que logo no início das suas atividades, a “Lumber” possuía um cinema na Vila Argentina, que servia de entretenimento aos seus funcionários. Era o Cine Monroe.

Mais tarde, esse mesmo cinema teria sido mudado para a sede da empresa, atual CIMH. O projetor usado no cinema, era a base de “carvão” e produzia uma imagem excelente. Os tresbarrenses mais antigos nos contam que enquanto uma lâmpada produzia mil wates de potência, o carvão gerava três mil wates.

Em setembro de 1952, com a posse do Exército sobre a área da “Lumber”, o cinema se tornou conhecido como: “Cine Militar”.

O cinema fez parte da história de Três Barras e teve seus momentos de glória e magia através de várias gerações.Era o ponto máximo da cultura tresbarrense.

Suas últimas sessões aconteceram no início de 1980.

Entre as pessoas que trabalharam no Cinema da Lumber (projecionista, bilheteiro, lanterninha, porteiro, etc.) são lembrados com saudades: Vitorino Ferreira, Feres Mansur, Mínero Bitencourt, Antônio Toporoski, Orlando Pecharca, Basílio Bídus, Jeremias Massaneiro, Friederich Brauhardt, Atanázio Braz e seus filhos Víctor João Braz, Déde e Nivaldo Braz, Sebastião Garcia e Antônio.

O descaso com a cultura tresbarrense, deixou em ruínas um espaço que até hoje poderia estar sendo útil para apresentações teatrais, palestras e demais atividades culturais.

É lamentável que as pessoas sejam tão egoístas e acomodadas, chegando ao ponto de deixarem que a nossa história seja esquecida ou levada para fora.

Um povo que não tem memória, jamais terá uma história para contar.

 “O Cinema em Três Barras”.

Três Barras teve como ponto de partida da sua colonização, a Vila Argentina.
E lá, nos idos de 1915, já funcionavam dois cinemas:

O cinema brasileiro (Cine Variedades) e o cinema da Lumber (Cine Monroe).
Nas décadas de 30 e 40, outro cinema funcionou junto ao Clube Recreativo Tresbarrense (centro).

O cinema do qual os tresbarrenses mais sentem saudades, foi o cinema da Lumber, (depois mantido pelo Exército, com sessões abertas ao público em geral).

No início de 1980, em todo o Brasil, muitos cinemas fecharam suas portas e com eles,
também o Cine Militar.

Os tresbarrenses que tinham como ponto de encontro e bate papo, o “Cinema da Lumber”, ainda nos contam que:
• O cinema era mudo e só mais tarde veio o som.
• Os filmes eram em partes. A todo momento havia um intervalo. Depois vieram os filmes colados.
• A tela era pequena e quadrada. Muito depois, é que passou a Cinemascope (tela grande e retangular).
• Se a cópia do filme fosse muito gasta, arrebentava a todo momento e o projecionista recebia uma grande vaia.
• A maioria dos filmes chegavam através do trem, em latões que pesavam de trinta a quarenta quilos.
• O projetor do cinema da Lumber era a base de carvão e não de lâmpada, como outros projetores.
• O cinema da Lumber possuía um total de 250 cadeiras.
• Durante vinte anos ou mais, o cinema utilizou uma música de Tchaikovski (Concerto nº1 para piano), como prefixo musical, que anunciava o início das sessões.
• Nas décadas de 50 e 60, o cinema da Lumber serviu de espaço para atividades teatrais e solenidades de formaturas do Grupo Escolar “General Osório”.
• A maioria das sessões aconteciam somente nos finais de semana: Sábado à noite, Domingo à tarde e à noite.
• Era tradição, em todo 12 de outubro as escolas ganharem uma sessão gratuíta de matinê, em homenagem ao dia das crianças.
• Por que os cinemas fecharam?
Porque os filmes novos passaram a ser liberados mais cedo para a televisão, o vídeo cassete nos oferece uma infinidade de opções, o vídeo game e o computador desviaram a atenção do público infanto-juvenil e a televisão por assinatura complementa a questão.
• Para entender melhor o que representava o cinema na comunidade tresbarrense, é interessante assistir ao filme “Cinema Paradiso”.
Esse filme é dedicado a todos aqueles que fizeram do cinema, a sua grande paixão.
Acredito que toda cidade do interior, tenha também uma história parecida com a nossa.
Enfim, onde existiu um cinema, sempre haverá uma história a ser contada.
• Hoje, reduzidos às capitais e às cidades com um considerável número de habitantes, os cinemas são freqüentados por aqueles que anseiam em assistir ao filme em lançamento.
Raramente, alguém vai ao cinema para ver uma reprise; como acontecia antes.
• Em novembro de 2003, estando trabalhando como professor na disciplina de sociologia,
José Francisco de Souza, juntamente com seus alunos, montaram um projeto sobre a
história do cinema em Três Barras.
O projeto foi apresentado pelos alunos na “Iª Feira Escola Viva”, do Colégio Estadual
“General Osório”, entre os dias de 21 e 22 de novembro.
Uma média de trezentas pessoas (alunos e moradores locais) visitaram a sala que conta-
va um pouco sobre o que era o cinema na nossa comunidade.
“Luz, câmera, ação!”, tinha como objetivo, resgatar um pouco da história cultural dos
tresbarrenses.

Ainda sobre o cinema...

• Os cartazes que anunciavam as novas atrações do cinema, eram expostos diante do Hotel e Bar Tupã (centro).
• Se o final de semana era de chuva forte, faltava energia elétrica. O filme parava na metade e voltávamos todos para casa.
• Em casos assim, recebíamos o ingresso novamente, para voltarmos numa próxima sessão.
• Não havia a televisão e as matinês eram esperadas com ansiedade, pela garotada.
• No ano 2001 foi realizada uma pesquisa com 20 tresbarrenses, que responderam sobre a importância do cinema na cultura da comunidade.
Muitas das informações obtidas, estão descritas aqui neste disquete.
• A influência da Lumber junto às distribuidoras cinematográficas de Curitiba, nos possibilitava assistir aos filmes recém-lançados no Brasil.
• Na pesquisa realizada, foram entrevistadas pessoas de idades diferentes, que freqüentaram o cinema em épocas diversas. Desse modo, cada um contou a história a partir do seu ponto de vista.

• Pesquisa: José Francisco de Souza.

• Três Barras – SC - Dezembro/2001.

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Luz, Câmara, Ação. 
Por José Francisco de Souza.

Houve uma época que já vai longe, em que passar algumas horas numa sala de cinema, era o momento mais importante na vida de muita gente.

Eram momentos mágicos, de sonhos e entretenimento.

Em poucas palavras, esta é a história de um antigo cinema, que durante muitas décadas foi a principal diversão de uma cidade toda.

Lá pelos idos de 1900...no pequeno povoado de Três Barras, chegaram os americanos, vindos da Califórnia e instalando ali a maior serraria da América do Sul: a Companhia Lumber.

Com a grande serraria, chegaram centenas de famílias, vindas de todas as partes em busca de trabalho.Logo, como entretenimento para seus funcionários, a Lumber construiu um cinema.

No início os filmes eram mudos, é verdade.Mas, já em 1927, o filme “O cantor de jazz” estreava como primeiro filme sonoro, dando mais vida ao mundo da sétima arte.

Meus pais, tios e demais parentes, foram assíduos freqüentadores do cinema da Lumber, nas décadas de 40 e 50, época de ouro de Hollywood.

Mocinhos e bandidos, piratas e princesas, castelos encantados, castelos assom-
brados...

Viajando pelo velho Oeste em meio às caravanas, pelo Saara em velozes tapetes mágicos ou pela selva africana, ouvindo o grito do Tarzan, a platéia vibrava sem se importar, que tudo aquilo na tela, era apenas uma fantasia.

Era uma linda tarde de domingo de 1965, quando entrei pela primeira vez no Cine Militar (ex-Lumber), para assistir a uma comédia do Charles Chaplin.

Naqueles românticos anos 60, a televisão ainda não havia chegado aos nossos lares e o cinema prosseguia com suas sessões sempre lotadas.

Era a época dos grandes épicos, dos westerns, das aventuras e dos românticos:
“La violetera” e “Dio como ti amo”.

Hitchcock assustou muita gente com seu bando de pássaros selvagens, quando aqui foi exibido: “Os pássaros”.

Perigo, aventura e suspense na tela.Mas, na platéia, o inesperado também acontecia.

A luz acabou ou a fita arrebentou?

Perguntava a platéia enfurecida, quando em meio a uma cena de ação, o filme parava de repente.Não foram uma, nem duas vezes em que recebemos os ingressos novamente, para voltarmos em outra sessão, no próximo domingo.

Quando o final de semana era de chuva forte, geralmente faltava energia elétrica e lá se ia a nossa diversão.

E se a cópia do filme fosse muito velha e desgastada, não havia “durex” que colasse.

Hoje, quando entro numa vídeo locadora, posso alugar quantos filmes desejar.

Naqueles tempos, os filmes demoravam a chegar e vinham em latões pesados, trazidos pelo trem. 

Muitas coisas mudaram até para melhor...

Porém, a magia das matinês já não existe mais.

Alguém acreditaria, que aquela era uma época dourada, em que as telas dos cinemas faziam brilhar astros e estrelas, que durante décadas a fio fizeram a alegria de várias gerações? Sim, essa época realmente existiu.

Mas o tempo foi passando...

A televisão chegou de mansinho e se expandiu pelos lares.

Nosso antigo cinema prosseguiu até 1980, tendo como últimas apresentações alguns filmes nacionais.

Nessa mesma década, de Norte a Sul do Brasil, muitos cinemas começaram a fechar, sentindo que as salas já não eram mais um filão comercial.

E com a chegada do vídeo cassete e da liberação dos filmes novos para a TV, a queda de público nos cinemas aumentou ainda mais.

O cinema, já desativado, passou a dar espaço para bailes e discoteques, para uma gera-
ção alheia à história daquele espaço.

Sendo uma construção antiga, hoje só nos restam as ruínas como lembranças.

Na última vez em que lá estive, ao tocar as mãos naquelas paredes, pensei comigo mesmo:
se elas falassem, quantas histórias não teriam para nos contar?

* José Francisco de Souza, é pedagogo e professor de teatro.

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