Nos EUA, Paramount vai parar de distribuir filmes em 35mm.
Por Thiago "El Cid" Cardim.
Quando a gente fala em cinema, inevitavelmente pensamos na
figura da película cinematográfica, do simpático projecionista a la
"Cinema Paradiso" montando uma cópia rolo a rolo lá na parte de trás
da sala de cinema, rolos tirados diretamente daquela lata clássica de metal,
parte de todo o imaginário a respeito da Sétima Arte.
Pois bem: mais rápido do que se imaginaria, um dos grandes
estúdios norte-americanos decidiu parar de distribuir seus filmes neste formato
analógico. "Tudo Por Um Furo", continuação da comédia "O
Âncora" com Will Ferrell, será a última produção da Paramount a ter cópias
no formato de película de 35mm - até o momento, apenas pequenas produções
tinham sido inteiramente distribuídas no formato digital. No entanto,
recentemente, o indicado ao Oscar "O Lobo de Wall Street" já tinha
seguido, com sucesso, o padrão 100% digital que o estúdio passa a adotar a
partir de agora. A notícia é do jornal Los Angeles Times.
O mercado esperava que medalhões como a Disney e a Fox
fossem tomar esta decisão inicialmente, já que ambos os estúdios tinham
comunicado às principais cadeias exibidoras dos EUA que assumiriam este papel
em no máximo dois anos.
É bom lembrar que a decisão da Paramount está restrita,
inicialmente, apenas ao território estadunidense, já que os parques de exibição
dos países da América Latina, por exemplo, ainda estão longe da digitalização
ideal para considerar este tipo de distribuição. São centenas e centenas de
salas ainda funcionando apenas e tão somente analógicas.
Vamos explicar a parada: os fãs mais antigos podem entoar
odes apaixonados dizendo que este é o fim triste de uma era. Que é o fim de uma
era, sem dúvida. Mas não diria que é triste. Pelo contrário, aliás - porque
veremos uma melhora técnica significativa na projeção dos filmes que
assistimos. Para se digitalizar, uma sala precisa de um projetor digital, muito
mais moderno do que a grande parte dos projetores 35mm que temos por aí, além
de um sistema de som mais adequado, enfim. A qualidade das cópias melhora e,
para que se aproveite esta melhora, as salas terão que se equipar melhor. É um
investimento obrigatório. Simples assim. Ah, isso está muito distante da nossa
realidade? Um pouco, talvez, porque este é um processo caro. Mas saiba que as
principais cadeias exibidoras em atividade no nosso país (Cinemark, UCI,
Cinépolis e afins) estão tendo reuniões frequentes sobre o assunto, estudando
as melhores formas para que esta transformação aconteça o quanto antes em nosso
país.
Eles têm total interesse em se ver envolvidos neste processo
pela questão da qualidade e pela facilidade que ela traz para os lançamentos
3D, é claro, mas também pela rapidez/praticidade que o sistema digital permite
e, obviamente, pela drástica redução de custos no dia a dia, que atinge não apenas
os exibidores, mas também os distribuidores, as empresas que efetivamente
lançam os filmes. Pensemos: um filme de aproximadamente 1h30 costuma ter, em
média, cinco rolos de filme fotográfico/película. Ah, pois é, um filme não cabe
em um único rolo, é bom que se deixe claro. Pense que cada cópia do filme, com
seus cinco rolos, custa em média US$ 2.000. Pense então num filme cujo
lançamento é de médio porte, com cerca de 100 cópias. Só aí, já estamos falando
em US$ 200.000. Isso só para fazer 100 cópias de um filme. Apenas fazer as
cópias. O que é só o começo do processo.
O gasto não acaba aí: pense que é preciso transportar estas
cópias para cinemas de todo o país. Pense não apenas no peso, mas no volume
transportado - neste nosso exemplo, estamos falando de 500 rolos de filme.
Coloque na conta ainda o valor das empresas de transporte, chegando a números
como mais de US$ 400.000, e entenda porque, aqui no Brasil, uma distribuidora
do tipo independente, aquela que não é das majors (como uma Paris Filmes, PlayArte,
Imagem ou Europa, por exemplo), gasta em média 70% do valor de lançamento de um
filme apenas com fabricação e transporte das cópias em 35mm. Muito mais do que
é gasto com marketing, por exemplo. Num parque digital, os filmes podem ser
mandados numa pen drive robusta (que não custa mais de US$ 100), por exemplo,
em um formato específico de alta resolução e com uma chave de segurança
digitalizada para evitar a pirataria. Percebe a simplicidade da coisa? No caso
de algumas localidades, dá até para enviar o arquivo do filme via satélite.
Não se enganem: cinema é, gostem os cinéfilos de admitir
isso ou não, um negócio. E negócios precisam dar lucro.
O passado pode ser muito bonito. Mas, em alguns casos, é
melhor que ele fique mesmo no passado, para ser lembrado com carinho - mas sem
atrapalhar o andamento do futuro. Deixemos algumas poucas salas do chamado
circuito de cinema-arte com seus projetores 35mm retrô, para curtir tipos
bastante específicos de filmes, com suas poucas e exclusivas cópias, e vamos
colocar os blockbusters em formato digital. Tem pra todo mundo. E todo mundo
fica feliz.
Texto e imagem reproduzidos do site: observatorionerd.com.br
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