Há 34 anos projetista garante boa imagem nos cinemas
Apenas um profissional do meio cinematográfico sente de
imediato a reação do público ao seu trabalho: o projecionista. Imagem fora de
foco, legendas abaixo da tela ou problemas no som provocam assobios e vaias
imediatas. José Luis de Almeida certamente não sabe o que é isso. Considerado
um dos melhores do ramo, ele se dá ao luxo de se dedicar apenas a festivais de
cinema - é responsável pela projeção de alguns dos principais no Brasil.
Profissional há 34 anos, Almeida conta que se interessou pela projeção aos 9
anos. "Meu pai tinha um pequeno restaurante ao lado do antigo Cine
Cingapura, na Vila Maria, e os projecionistas, clientes assíduos, deixavam-me
entrar e assistir da cabine", lembra ele. "Com 13 anos, já me tornei
ajudante de projeção e na prática era eu quem fazia tudo." A semelhança
com o menino Toto, do filme Cinema Paradiso, também foi notada por Almeida.
"Quando vi o filme pela primeira vez, emocionei-me duplamente",
conta. Almeida trata de desmistificar a imagem que todo mundo faz dos
projecionistas, ou seja, de que assistem a todos os filmes. "Na verdade, a
gente não consegue ver boa parte das películas, pois estamos ajustando o
equipamento, trocando rolos e coisas assim", lamenta ele, que adora
cinema. Engenheiro eletrônico, em pouco tempo ele foi trabalhar na Kodak.
Tornou-se especialista em imagens, projeção e projetores. Chegou a criar um
aparelho que melhorava a intensidade de luz dos projetores de 16 milímetros e é
também um especialista em desenhar salas de projeção. O projeto do novo Cinesesc
é dele. "É um dos melhores conjuntos de som e imagem do Brasil",
garante. O projecionista conta que já exibiu filmes em praças com 10 ou 20 mil
pessoas. Sua maior emoção foi em Juazeiro, na projeção de Milagre em Juazeiro,
de Volney de Oliveira, que tem várias cenas com José Dumont interpretando Padre
Cícero. "Era época de romaria e havia cerca de 100 mil pessoas na praça
mas as pessoas estavam tão fascinadas, tão concentradas, que dava para ouvir o
barulho dos grilos no mato", lembra. Nessa ocasião, os mais de 30 anos de
experiência em projeções não o impediram de tremer nas bases. A distância entre
o projetor e a tela era de 70 metros, a maior que ele já havia feito e o som
vinha de um caminhão desses que é usado em trios elétricos. Almeida sentiu a responsabilidade.
"Quando vi aquele mar de gente eu gelei, pois imaginei o que fariam comigo
se a luz falhasse ou o projetor não funcionasse." Mas o fim foi feliz,
como nos filmes de Hollywood.
Texto reproduzidos do site: cultura.estadao.com.br
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