Publicado originalmente no site do Estadão, em 25 Fevereiro 2008.
Vai dar rolo.
Juliana Araújo, O Estadão de S.Paulo.
PROJECIONISTAS - Carreira: muitos funcionários passam para
as cabines depois de trabalharem na portaria. Que carreira? A profissão não é
regulamentada pela lei.
O pipoqueiro e a simpática recepcionista que perdoem o Guia,
mas a figura mais importante do cinema fica escondida dentro da cabine - o
projecionista. É a performance deste profissional que define a qualidade da
sessão de um filme em 35 milímetros. Para aprender a montar um filme, ajustar o
som ou o foco, no entanto, não existe escola. Os operadores cinematográficos
aprendem a trabalhar na prática. Em cinemas como Espaço Unibanco, Reserva
Cultural e HSBC Belas Artes, é comum que projecionistas experientes ensinem o
ofício a ex-porteiros e até a ex-faxineiros. "Tentamos criar uma espécie
de plano de carreira", afirma a gerente do Reserva, Cynara Regina de
Oliveira. Ex-porteiro do extinto cineclube Vitrine, José Alberto começou a
treinar com os colegas um ano antes de ir para as cabines do Espaço Unibanco.
Hoje, orgulha-se de ter ensinado a função para um dos projecionistas do
Unibanco Arteplex, que era porteiro na antiga Sala UOL (atual IG Cine, em
Pinheiros). O diretor de programação do grupo Espaço de Cinema, Adhemar
Oliveira - que, além do Espaço Unibanco, é responsável pelas salas do IG Cine,
do Cine Bombril e dos shoppings Frei Caneca e Morumbi - explica que a empresa
tem uma "política de formação de quadros próprios". Operador há 25
anos, Juscelino Silva é outro exemplo: experiente, faz até pequenos consertos
nos equipamentos. Presidente do Sindicato dos Operadores Cinematográficos de
São Paulo, Benedito Carlos Silva também aprendeu observando, há 25 anos. Mas
hoje defende a criação de um curso que prepare os futuros projecionistas.
"Alguns cinemas contratam pessoas inexperientes e as jogam nas
cabines", diz ele. "Não é difícil fazer o trabalho, mas algumas
técnicas e cuidados devem ser ensinados". Enquanto era público, Benedito
infernizava as sessões de uma sala de Guaíra, no interior do Paraná, até que
foi mandado? de castigo? para a cabine. Quando o projecionista morreu, ele era
o único que sabia operar a máquina. Em pouco tempo, a oportunidade virou
ofício. Além do treinamento, ele considera que a qualidade da projeção depende
da quantidade de filmes que cada operador coordena - até três é o ideal, no
caso de cabines individuais. Nos cinemas multiplex, em que todos os projetores
ficam em uma só sala, redes como a Cinemark mantêm no máximo dois operadores.
"Um sozinho já conseguiria cuidar de tudo tranquilamente", diz
Luciano Silva, gerente do departamento técnico. Para garantir a qualidade da
projeção, os funcionários da Cinemark - a maioria com 2º grau completo - passam
por um treinamento padrão de 30 dias. Além disso, uma equipe especializada faz
manutenção preventiva nos projetores de todas as salas a cada trimestre. Os
outros cinemas também têm técnicos, mas os projecionistas, de tão experientes,
é que acabam responsáveis pela manutenção.
Texto reproduzido do site: cultura.estadao.com.br
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