Foto: Felipe Nyland/Agencia RBS.
Publicado originalmente no site Pioneiro/Clic RBS, em 24/08/2017
Do Festival de Cinema de Gramado
O homem da projeção: José Luis de Almeida cuida do telão no
Palácio dos Festivais desde 1980. Ele é o responsável pelo andamento de toda a programação que
os espectadores do festival assistem na telona.
Por Siliane Vieira.
Exatamente entre as duas portas de acesso ao cinema do
Palácio dos Festivais há uma misteriosa parede de vidro coberta por uma cortina
preta. Atrás dessa cortina, de costas para os holofotes do tapete vermelho,
está José Luis de Almeida, 64 anos.
Ele é o responsável pelo andamento de toda a programação que
os espectadores do festival assistem na telona. Trabalha como projecionista em
Gramado há 37 anos.
Seu Zé Luis, como é conhecido, é um paulistano formado em
Engenharia Eletrônica Industrial que se encantou pelo cinema ainda moleque. Com
14 anos, já estava enfiado na cabine do Cine Candelária, na Vila Maria,
interessado em saber como tudo funcionava.
— Eu ia para o cinema e ficava lá, frequentava todas as
matinês — conta.
Depois de formado como engenheiro, foi trabalhar na Kodak e
brigou para tomar conta do setor de projeção. A partir daí, nunca mais se
afastou das cabines de projeções, assistindo de perto a toda a modernização dos
cinemas no Brasil. Aliás, não combina nem um pouco com Zé Luis a imagem
romântica do projecionista, às voltas com rolos de filmes e envolto na magia do
cinema por ofício.
— Sou muito moderno, gosto de tecnologia, não de nostalgia —
justifica, incisivo, acrescentando que não sente saudade das épocas do rolo,
aliás, costumava ter medo de morrer com um deles despencando em sua cabeça.
Assim como o projecionista é contratado para vir a Gramado
todos os anos nesta época, ele também comanda a telona de mais de 30 festivais
de cinema pelo país. E mesmo com todas as novidades do cinema brasileiro à
disposição, por conta do trabalho, o gosto pessoal do profissional pende mais
para os filmes estrangeiros. O projecionista curte mesmo assistir a épicos de
décadas passadas no cinema que mantém na própria casa, em São Paulo.
— Meu filme preferido é O Egípcio (1954) — aponta,
descrevendo à reportagem toda a história do roteiro.
Nem os famosos que costumam frequentar os festivais de
cinema empolgam Seu Zé Luis. Profissional, ele não costuma tietar ninguém, mas
confessa ter a sorte de ser amigo de alguns famosos, como Dira Paes, que
receberá o Oscarito em Gramado amanhã. Pertinho da badalação dos festivais, Seu
Zé Luis revela que o trabalho na sala de projeção é, na verdade, bem solitário.
— Aqui não vem ninguém, só no Cine Paradiso que a guria foi
lá beijar o cara na sala de projeção — brinca.
Texto e imagem reproduzidos do site: pioneiro.clicrbs.com.br
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