Projetor de última geração reproduz filmes em 4K (ultra HD) e com som digital (Dolby)
Primeiros projetores são preservados pelo proprietário
Único representante da “época de ouro” dos cinemas da cidade é mantido pelo próprio
dono para não fechar as portas. Sala tem capacidade para receber até 220 espectadores
Fotos: Jota Gomes/Diário da Amazônia
Amor à arte mantém o Cine Veneza
Os cinemas de rua perderam espaço para as salas de cinema
dentro de shoppings.
Por Emerson Machado
Os cinemas de rua marcaram época em todo o Brasil, sendo que
em várias cidades eles se tornaram pontos de encontro de sociedades inteiras.
Em Porto Velho, a história do cinema começou na década de 1950, quando a
família Lacerda inaugurou o Cine Lacerda. Com alguns empreendimentos no
decorrer dos anos, muitos tiveram as portas fechadas e, atualmente, apenas o
Cine Veneza sobrevive na capital.
De acordo com o Dr. Francisco Alves Lacerda, que ainda hoje
é o proprietário do Cine Veneza, relembrar a época em que os cinemas eram uma
sensação em Porto Velho é algo que faz com alegria. “Sempre gostei muito de
cinema, cresci gostando desta arte e lembrar de quando investíamos no
entretenimento de Porto Velho é algo que faço com orgulho”, contou ao Diário.
Entretanto, Dr. Lacerda afirma que o único sobrevivente
desta época de ouro dos cinemas da família na capital é mantido pelo próprio dono
para não fechar as portas. “Hoje em dia o Cine Veneza não se mantém por si só,
mas eu me recuso a fechar as portas, pois é um lugar que ainda preserva o que
Porto Velho já teve e tem no ramo do entretenimento”, destaca.
PIRATARIA É A GRANDE VILÃ
Lacerda ainda revelou que a pirataria de DVDs nos anos 2000
foi um dos momentos mais difíceis para o mercado do cinema em Porto Velho. “Na
época que a pirataria se instaurou na cidade, precisamos fechar o Cine Brasil –
que era um dos que mais atraíam o público da cidade. Filmes como ‘Anaconda’
tinham tanto apelo que os espectadores chegavam a formar filas que contornavam
o quarteirão”, relembrou empolgado.
O Cine Brasil ficava na avenida Sete de Setembro e fechou as
portas em 2007 – quando o negócio se tornou insustentável. Sobraram então o
Cine Rio (que ficava no antigo Rio Shopping, outro empreendimento que passou
por dificuldades nos últimos anos) e o Cine Veneza, que ainda recebe o público
na rua Joaquim Nabuco, centro da capital rondoniense. “Fechamos o Cine Rio mais
recentemente, que ainda recebia certo público, mas as dificuldades no Rio
Shopping atingiram todas as lojas”, disse.
Apesar de tanta riqueza histórica e várias salas fechadas, o
Cine Veneza continua firme na batalha de levar entretenimento aos
porto-velhenses. Segundo o Dr. Lacerda, o público do Cine Veneza agora é mais
familiar – pais e mães que decidem levar os filhos para assistir a algum filme.
“Por isso, as animações fazem bastante sucesso e enche a sala, então
conseguimos um público considerável para os padrões atuais”, revela.
DIFICULDADES NO DECORRER DA HISTÓRIA
A família Lacerda, que desde cedo investia em entretenimento
para a capital de Rondônia e também em outras cidades do Estado, abriu os
estabelecimentos para projetar filmes em Porto Velho porque via como um nicho a
ser explorado. “Construir e manter uma sala de cinema é muito caro, então é
preciso ter amor pelo que se faz para que dê certo. Por muito tempo deu certo,
mas as coisas passaram a ficar cada vez mais difíceis”, admitiu.
Ele relembra que nos primórdios do cinema em Porto Velho, as
pessoas se reuniam em peso para assistir aos filmes – que, às vezes, chegavam a
levar dois ou três anos para serem exibidos aos porto-velhenses. “Eram poucos
filmes disponibilizados pelo País e eles iam passando de cidade em cidade até
chegar a Porto Velho, então, muitas vezes, quando eles chegavam já tinha se
passado três anos do lançamento”, lembrou.
A chegada da televisão local também abalou os negócios da
família Lacerda. “Quando chegou a televisão as pessoas deixaram de ir ao cinema
porque preferiam ver o que passava na TV. A programação era feita com
comediantes e outras personalidades da época e chamava a atenção dos
espectadores”, acrescentou. A transmissão televisiva nacional também foi
relatada como algo que dificultou os negócios. “A Globo chegou com a inovação
de passar filmes que eram até recentes, que talvez chegasse aos nossos cinemas
meses depois”, contou.
CONCORRENTE TROUXE VANTAGENS
Depois do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), o
Corpo de Bombeiros pediu que o Cine Veneza passasse por diversas adequações.
Hoje em dia, o cinema não conta mais com as cortinas vermelhas e o carpete, mas
tem um poderoso sistema de emergências para os possíveis 220 espectadores –
caso todas as poltronas sejam ocupadas. “Ficamos três meses fechados depois
daquele incêndio para fazer as adequações e aproveitamos para aprimorar a
tecnologia do cinema”, explica Dr. Lacerda.
As informações são confirmadas por Eduardo Aldunede,
administrador do Cine Veneza há 8 anos. “O Dr. Lacerda entende de cinema, ele
ama esta arte, então ele busca o melhor para o Cine Veneza. Temos equipamentos
de última geração e um som potente de qualidade para receber os espectadores”,
conta Aldunede. A cabine de projeção conta com sistema de som digital (Dolby),
dois projetores de última geração – um deles que reproduz filmes em 4K (ultra
HD) – e duas relíquias para preservar memórias: projetores antigos que são de
valor inestimável para o dono.
Outro ponto destacado pelo administrador é a série de
vantagens que o Cine Araújo (que é instalado dentro do Porto Velho Shopping)
trouxe para Porto Velho desde 2008, depois de ter abocanhado parte dos
espectadores nos primeiros anos de funcionamento, inclusive para o próprio Cine
Veneza. “A concorrência do Cine Araújo, no shopping, nos fez modernizar o Cine
Veneza, aumentamos a qualidade para um público que merece conforto e uma sessão
perfeita”, afirma.
E com relação ao momento econômico da cidade e do País, Dr.
Lacerda declara que mesmo com tantas dificuldades não pretende fechar o Cine
Veneza. “Já pensei em fechar sim. Mas não consigo. Então pensei em reformular,
construir mais uma sala e passar a administração para a minha filha, mas ainda
não decidi. Muitos amigos me perguntam se eu fechei ou vou fechar o cinema, eu
garanto que não. É o meu xodó”, finaliza.
Texto e imagens reproduzidos do site: diariodaamazonia.com.br
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