Foto reproduzida do site nofilmschool.com e postada pelo blog,
para simples ilustração do presente artigo
Por Marcos Calaça, jornalista (UFRN)
O padre Antas lançou o Cinema Paroquial, em Pedro Avelino,
nos anos de 1960 e permaneceu até meados da década de 70, até a sua morte. O
Cinema tinha palco para teatro, sala para máquinas cinematográficas na parte de
cima e cadeiras que não deixavam a desejar a nenhum prédio cinéfilo do Estado.
O cinema era uma grande novidade, um negócio fascinante que tinha chegado à
cidade. Para a meninada, assistir um filme era uma alegria imensurável. Após a
sessão, os meninos saíam do cinema para casa contanto os melhores momentos do
filme, do sofrimento do artista principal, que no final era o vitorioso.
A propaganda dos filmes era feita de uma maneira muito
peculiar e interessante. Em armações de madeira e compensado, as fotos de
divulgação fornecidas pelas distribuidoras eram coladas e, com tinta azul
xadrez, eram escritos o nome do filme e dos artistas principais, além de uma
frase copiada dos folhetos de divulgação. As armações ou tabuletas de
compensado eram colocadas em pontos estratégicos da cidade e tinham várias
informações sobre o filme, como horário, elenco, fotos e algumas frases de
efeito, como emocionante, não percam, sensacional, espetacular. Era a mídia e o
marketing da época. Quando o filme era famoso e caro, a propaganda se tornava
mais agressiva: Dois garotos andavam por toda a cidade, com a tabuleta nas
mãos, e a meninada corria para ver o filme do domingo à noite, após a missa.
Era cinema cheio na certa. Três chamadas alertavam para o início do filme, não
sei se do agudo para o grave, ou o contrário.
No início, havia apenas uma máquina para exibição dos filmes
e quando ela quebrava precisava ser consertada na mesma hora, caso contrário
teria que devolver o valor dos ingressos, pois o tempo de permanência do filme
na cidade, através do contrato, não permitia que a exibição fosse feita no dia
seguinte. Seu Caldas era perito em consertar rapidamente a máquina. Ele
desmontava, descobria o defeito e consertava em menos de dez minutos. Quando
surgia um defeito o público não se incomodava pois sabia que dentro de poucos
minutos tudo estaria normalizado. Muito tempo depois, o operador começou a
trabalhar com duas máquinas, um rolo em cada uma delas.
Eu imagino que seu Caldas tinha apenas uma preocupação
concreta no cinema, era a preocupação da mudança de um rolo para outro. Como
projecionista ficava atento à sinalização de, no máximo, dez segundos, sem o
telespectador perceber.
Francisco Caldas colaborou com essa manifestação cultural, e
que o Cinema Paroquial recebia filas de crianças, jovens e adultos numa época
telúrica.
Naquela época o faroeste ou bang-bang era o gênero preferido
da meninada que ficava atenta a xerifes, pistoleiros, bandidos, mocinhos,
diligências, índios etc. Depois do filme, seu Caldas direcionava o público para
ficar atento ao seriado Flash Gordon no Planeta Marte. Cada seriado terminava
num momento de emoção e de incerteza para que o público ficasse atento para o
próximo episódio e, consequentemente, o filme também.
Para agradar ao público, o filme deveria ter muita ação. Os
preferidos eram os de cowboy, de piratas, de aventuras e de Tarzan. Os astros
preferidos eram Antony Quynn, James Cagney, Alan Ladd, Gary Cooper, Humphrey
Bogard, John Wayne, Johnny Weissmuller, Gordon Scott, Lex Barker, Burt
Lancaster, Franco Nero. As artistas eram Alex Smith, Bárbara Stanwick e Ann
Sheridan, Dorothy Hart, Katherine Hepburn e Maureen D'Sullivan. Toda
sexta-feira santa era exibido o filme "Paixão e Morte de Nosso Senhor
Jesus Cristo", com casa lotada.
Por fim, o cinema se acabou, mas os filmes continuam na
minha mente. Infância feliz.
Texto reproduzido do site: marcos.calaca.zip.net
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