Levantamento. Paulo Augusto Gomes passou décadas levantando informações sobre os pioneiros - Foto: Bruno Figueiredo
Pulicação compartilhada do site do Jornal O TEMPO, de 7 de dezembro de 2008
No início do cinema em MG
Por O Tempo
No começo dos anos 20, em Pouso Alegre, no Sul de Minas, Francisco de Almeida Fleming inventou um sistema de sonorização de filmes apelidado América Cine Phonema. O invento consistia num rústico gramofone acoplado à tela de exibição que reproduzia sons previamente gravados em sincronia com a imagem. A engenhoca não foi patenteada por Fleming. Poucos anos depois, em 1927, era lançado nos EUA "O Cantor de Jazz", primeiro filme falado da história do cinema - e o sistema utilizado, o Vitaphone, tinha por base o mesmo princípio do equipamento mineiro.
Essa e diversas outras histórias dos primórdios da produção no Estado estão em "Pioneiros do Cinema em Minas Gerais", livro que o pesquisador Paulo Augusto Gomes lança hoje no Palácio das Artes. Fruto de um trabalho de décadas, a publicação traz depoimentos e memórias a respeito da vida e da obra de 13 profissionais que, ainda no início do século XX, dispuseram-se a se aventurar por aquele negócio ainda meio desconhecido chamado câmera de filmar. "Minas foi onde brotou o maior número de pólos de realização naquele período. E um praticamente ignorava a existência do outro", conta Paulo Augusto. "A comunicação era precária, e vários deles acreditavam estar abrindo portas. Humberto Mauro, em Cataguases, chegou a me dizer: Por um certo tempo, pensamos que éramos os primeiros a mexer com cinema por aqui."
Mauro é o mais conhecido dentre os pioneiros levantados pelo autor. Outros, como Manuel Talon, chegam a ser misteriosos até mesmo para Paulo Augusto - a ponto de não se saber com precisão onde ele nasceu, se na Argentina ou na Espanha. O que mais caracteriza os pioneiros é o fato de vários serem estrangeiros ou de terem parentes vindos de fora do Brasil. "As famílias tradicionais, especialmente em Minas, não enxergavam o cinema com bons olhos. Era uma atividade desprezada e considerada coisa de vagabundo. Isso abriu espaço para os imigrantes, que eram pessoas operosas, inventivas e esforçadas.
Mesmo Humberto Mauro, nascido em Volta Grande e radicado em Cataguases, era filho de italiano e se aliou na profissão a Pedro Comello, também do país europeu. Outros como Paulo Benedetti, Igino Bonfioli, Carlos Masotti (italianos) e José Silva (português) se mudaram para o Brasil em busca de melhores perspectivas. Mas, claro, havia também os mineiros de natureza - Aristides Junqueira (Ouro Preto), Fleming (Ouro Fino), João Carriço (Juiz de Fora).
A maioria deles se concentrou na então pequena capital Belo Horizonte. A atividade principal era a produção de projetos particulares, como comerciais e cinejornais. Em pólos como os de Barbacena, Guaranésia, Cataguases e Pouso Alegre, as realizações de longas-metragens de ficção eram verdadeiros acontecimentos. "Existia uma certa inocência entre todos os pioneiros que os permitia tomar ações hoje inconcebíveis", exalta Paulo Augusto. "O Almeida Fleming, por exemplo, pretendia filmar a história de uma guerra em Madagascar tendo um cenário repleto de palmeiras. Em Pouso Alegre não havia palmeiras, então ele viajou mais de 200 quilômetros até encontrá-las. Arrancou-as e as plantou no lugar onde queria as cenas."
Pouca coisa da produção do período foi preservada, até mesmo porque os cineastas não tinham a noção de estar criando algo que pudesse ser perpetuado. Paulo Augusto afirma que a chegada do cinema sonoro provocou a derrocada de quase todos os diretores e produtores de Minas. "A instalação de um laboratório de som era muito cara. Apenas Rio e São Paulo, onde a produção brasileira se concentrava, justificavam economicamente esse tipo de negócio. Houve quase total paralisação dos serviços de cinema no Estado, tanto que o primeiro longa falado feito em Minas é de 1950, mais de duas décadas depois da chegada de O Cantor de Jazz nos EUA."
Agenda
O que: Lançamento do livro "Pioneiros do Cinema em Minas Gerais", de Paulo Augusto Gomes (Ed. Crisálida, 183 págs, R$ 39)
Quando: Hoje, a partir das 19h
Onde: Livraria do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1537, Centro)
Texto e imagem reproduzidos do site: www otempo com br
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