O jovem Sebastião Guimarães, revisando a película.
Foto: Chico Carneiro.
Publicado originalmente no blog Memórias do Cine Argus, em 17 de outubro de 2015.
Seu Sabá do Cinema.
Por Edivaldo Moura.
"Olha o roubo! Olha o roubo!" Quem nunca ouviu
esses gritos no Cine Argus, quando cenas de ação sofriam saltos durante a
projeção (muitas vezes nos momentos de maior tensão)? Quem senta em um poltrona
de cinema não percebe o trabalho de preparação que existe antes da projeção do
filme. No caso dos cinemas que ainda não aderiram à projeção digital, esse
trabalho envolve a manipulação da película, material fotográfico de diversas
bitolas utilizado para a gravação e projeção de filmes. Em se tratando dos cinemas
de rua do interior, os rolos de películas dos longa metragens chegavam muitas
vezes cheios riscos e remendas, em função de já terem circulado em diversos
outros cinemas. E aí entrava o trabalho minucioso de fazer os reparos nos
filmes antes das exibições, o que normalmente era feito pelo projecionista, que
também cuidava da manutenção dos equipamentos.
Um dos mais importantes projecionistas do Cine Argus é
Sebastião Guimarães, conhecido até hoje como Sabá do Cinema. Sebastião (ou
Sabá) me recebeu em sua residência meio que de surpresa. Eu estava procurando o
mesmo, após receber uma dica de sua localização no bairro da Cohab, em
Castanhal, e felizmente o encontrei. Embora com certa timidez, Sabá foi se
entusiasmando em falar do trabalho de décadas no cinema de Seu Duca, da dura
jornada de trabalho nos dias de sexta-feira santa com as sessões do filme A
Vida de Cristo, da generosidade do patrão, dos tempos de uma Castanhal sem violência
(onde se podia trabalhar até tarde e depois caminhar a pé até sua casa sem ser
oportunado) e, é claro, do trabalho igualmente recompensante e ingrato do
projecionista.
"Eu gostava de trabalhar no Cine Argus por que eu via
muita gente dentro do cinema. Era (os filmes) A Vida de Cristo, Rambo,
Tarzan...", relembra com saudade. A alegria das pessoas o recompensava.
Mas, a profissão também tinha o lado ingrato. Sabá sofria com os filmes que
chegavam muito deteriorados ao Cine Argus e que consumia horas de trabalho
minucioso para remendar. Era impossível evitar a perda de fotogramas. Às vezes,
não obstante toda a dedicação, o filme quebrava. E as vaias comiam. "Tu é
doido é, a gente só faltava apanhar!", exagera.
Décadas de dedicação na projeção dos filmes lhe renderam
problemas de vista. Marcas cruéis de um tempo saudoso, de uma heróica
testemunha ativa da saga de Seu Duca. O problema de visão lhe impediu de ir
assistir ao filme Memórias do Cine Argus nas duas vezes em que foi exibido na
Fundação Cultural de Castanhal. Mas não o impediu de o assistir em sua casa. E
de fazer uma justa observação: "O filme contou só uma parte da história.
Vixi, o Cine Argus foi muito mais que aquilo!". Nós sabemos, Sabá. E é por
isso que nossa pesquisa continua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário