Imagens: Rafael Marchante/Reuters.
Publicado originalmente pela Reuters De Monforte (Portugal), em 09/11/2015.
Aos 75 anos, projecionista português teme ser o último do
cinema itinerante.
Traços do clássico ganhador do Oscar "Cinema
Paradiso" permeiam a vida de Antônio Feliciano, um energético senhor de 75
anos, que teme ser o último projecionista do cinema itinerante em Portugal.
"Se não sou o último, estou perto disso", disse Feliciano.
"Esse é um legado que vai acabar. Quando eu me for, o cinema itinerante
será mencionado em artigos, mas apenas como uma memória", lamenta.
Depois de seis décadas viajando quatro milhões de
quilômetros para exibir 4 mil filmes em aldeias distantes de Portugal,
Feliciano ainda não tem planos de se aposentar. Mas está conformado com o fato
de que os monopólios de Internet, TV e distribuição digital tornaram seu ofício
obsoleto.
Como Totó, o menino que faz amizade com o projecionista
Alfredo no filme italiano, sucesso em 1988, Feliciano também começou ainda
jovem, na década de 1950, ajudando um projecionista itinerante a anunciar a
programação do fim de semana em um alto-falante em sua aldeia na parte rural do
Alentejo.
O negócio cresceu e já na adolescência ele pegou a estrada,
ajudando a projetar filmes em salas de música e arenas de touradas. Isso o
levou a uma carreira que até mesmo a necessidade de ganhar a vida como contador
não interrompeu, pois ele combinou as semanas em um escritório de Lisboa com
exibições de fim de semana.
A cerca de 200 quilômetros de Lisboa, a montanhosa Monforte
é uma aldeia típica do Alentejo - pitoresca, mas sonolenta - com a população
reduzida a 3 mil pessoas por causa de problemas econômicos e da migração.
Artemísio Pecas, filho do projetista, conta que "antes
do filme, eles apresentavam o noticiário, e era no cinema que as pessoas viam
Lisboa, as colônias, e mesmo o mar, pela primeira vez".
Em um domingo ensolarado, no entanto, a aldeia se anima
quando Feliciano está para exibir um filme em homenagem a Domingos Pecas, um
projetista local que morreu em 2005, depois de 50 anos na atividade.
"Nosso entretenimento era o cinema itinerante. Não
tínhamos mais nada, nem TV, nem rádio. Éramos muito pobres", disse a
moradora Nazaré Alfaia, de 71 anos. "Não sei ler, por isso não me lembro
dos nomes dos filmes, mas eram aventuras, vaqueiros e cavalos",
acrescentou, cercada por uma coleção de projetores antigos de Feliciano e
cartazes desbotados de westerns e musicais.
Texto e imagens reproduzidos do site: cinema.uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário