Máquina de CINEMA
Memória da Cinematografia
quinta-feira, 6 de novembro de 2025
domingo, 2 de novembro de 2025
Pelo amor a quem somos: o exemplo de Cosme Alves Neto
Pelo amor a quem somos: o exemplo de Cosme Alves Neto
Por Gabriel Brito
De vez em quando, ao visitar a casa dos meus pais, tenho a curiosidade de abrir caixas antigas com as memórias da minha família. As fotos impressas e fitas magnéticas atravessam algumas décadas e vão até meados dos anos 2000, o meio da minha infância, quando essas lembranças migraram para o meio digital. Agachado diante daquelas caixas empoeiradas eu viajo no tempo passando páginas de álbuns que registram a juventude dos meus pais ou o nascimento dos meus irmãos. Algumas páginas tem legendas escritas com capricho pela minha mãe enquanto não tomávamos seu tempo.
Hoje, com quase 30 anos, me pergunto como seria a nossa família sem aquelas memórias. Concluo que a consciência da minha própria origem e papel no mundo seriam tão diferentes a ponto de afetar a minha própria noção do espaço que ocupo dentro da família, afetando a minha noção dos rumos que posso tomar na minha vida e carreira. Talvez este seja um exercício interessante a se fazer sempre que eu me sentir desmotivado e sem rumo.
Essa noção de memória coletiva é um conceito que pode se estender para além do meu núcleo familiar, compreendendo um contexto muito mais amplo, como o país em que vivemos: a nossa produção cultural constitui a nossa identidade como povo, e preservá-la nos ajuda a contar a nossa própria história, revelando quem somos, nos guiando, mesmo que involuntariamente, para seguir adiante.
É claro que a metáfora familiar tem seus limites: um país precisa de mais do que boa vontade e altruísmo para construir e preservar sua memória, mas principalmente de políticas públicas sérias e consistentes, o que infelizmente não é o caso no Brasil, que se acostumou a depender das ações de pessoas que, vistas com a distância do tempo, agiram quase que como super-heróis diante de tantas dificuldades. Ao me voltar para o cinema, minha área de formação, encontro uma destas pessoas: Cosme Alves Neto.
Poucos foram tão influentes na preservação e na memória do cinema brasileiro quanto Cosme, que começou sua trajetória na década de 60 em diferentes frentes, como a organização de cineclubes e a atuação na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Movido sempre pelo seu amor ao cinema e pelo seu genuíno interesse em garantir acesso ao audiovisual brasileiro, Cosme enfrentou até mesmo a Ditadura Militar no Brasil, permitindo que a enorme família formada pelo povo brasileiro tivesse acesso às suas próprias memórias. A partir desta trajetória, reflito neste artigo o contexto da preservação fílmica no Brasil.
Os Cineclubes e a Nova História
A jornada de Cosme Alves Neto começa ao final da década de 50, ao fundar o Cine Clube da Glória. Motivado pela preocupação com o destino dos filmes antigos que assistia na infância, também participa do Grupo de Estudos Cinematográficos (GEC). No entanto, é importante considerar que a atuação de Cosme não é guiada somente por suas convicções pessoais, mas por um contexto histórico rico, marcado pelo fim da Segunda Guerra Mundial. Como explica Hernani Heffner em uma de suas análises sobre preservação fílmica, ascendeu neste período a chamada "Nova História":
“(…) que propunha estudos menos oficiais e ligados às classes dominantes, valorizando assim atividades distantes da política, do comércio e da guerra, como por exemplo o lazer e seu papel junto às classes trabalhadoras.”
Em outras palavras, ali ganhava força a noção de que a preservação de o que se produzia no cinema servia como documento histórico, permitindo a criação de processos e instituições que pudessem atuar de forma profissional e responsável para proteger as películas da ação humana, como a reciclagem para de prata, e da ação do tempo, causada pela natureza das próprias matérias primas das películas. O pesquisador Luiz Nazário em seu texto “O Buraco da Memória” também destaca que a Nova História colocou a “memória como instância formadora da identidade de indivíduos e grupos” permitindo a “criação, entre 1945 e 1955, das cinematecas do Leste Europeu, da Ásia, da América Latina”.
Desafios e Resistência: A Luta Contra a Censura e o Eurocentrismo
O conservador Hernani Heffner também lembra que, no Brasil, as cinematecas surgiram como iniciativas privadas, quase sempre ligadas a cineclubes, associações de críticos e entidades cinéfilas. E é dentro de todo esse cenário histórico e cultural que se insere Cosme Alves Neto, como é retratado no documentário Tudo por Amor ao Cinema (2015). O filme explora sua trajetória e revela como sua atuação refletiu o contexto cultural, social e político do Brasil na segunda metade do século XX.
A incursão mais importante da biografia de Cosme Alves Neto é certamente a Cinemateca do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, espaço concebido com a intenção de preservar o cinema e exibi-lo ao público. Cosme contribuiu com seu tempo, mas também com sua vasta cultura cinematográfica, fazendo desta uma missão bem-sucedida: logo o espaço se tornou um ponto de encontro para cinéfilos e cineastas. Ao enxergar valor histórico e cultural em qualquer obra, incluindo aquelas desprezadas por suas qualidades ditas “inferiores”, evitou o descarte de diversos títulos, tornando-os documentos audiovisuais da História.
Não é exagero afirmar que Cosme Alves Neto dedicou sua vida ao cinema brasileiro através da Cinemateca do MAM. Ele lutou para preservar as cópias e para permitir que o espaço continuasse sendo de livre circulação de ideias, enfrentando até mesmo a ditadura: o governo militar estava à caça de ideias “subversivas”. Ele chegou a esconder filmes, operar em segredo e esconder negativos de filmes censurados como “Cabra Marcado para Morrer” (1984), chegando a ser preso e torturado.
Cosme Alves Neto assumiu a Cinemateca do MAM em um dos períodos mais sombrios da história do Brasil e os cineclubes (aliás, todo o fazer cinematográfico) se tornaram espaços de debate político. O momento, marcado pelo auge do AI-5, não representou apenas uma caça ao considerado subversivo ou imoral, mas o desapreço ao livre exercício da cultura. Em sala de aula, a pesquisadora Milene Gusmão, minha professora, lembrou que existiram exceções: membros do governo chegaram a liberar algumas das obras por reconhecer a importância político-cultural delas, revelando um contexto histórico cujos critérios de censura e tinham nuances do que um simples sim ou não com base nas leis vigentes.
O Panorama Brasileiro e os Obstáculos Estruturais
A realidade e as dificuldades enfrentadas por Cosme na Cinemateca do MAM não eram exclusivas daquela instituição, daquele governo e daquele período: o panorama da preservação cinematográfica no Brasil foi e ainda é preocupante. Ao contrário de países como a antiga União Soviética, cuja cinemateca, a Gosmofilmfond, era financiada pelo estado, no Brasil o apoio estatal sempre foi inconsistente, tornando as ações de preservação incertas, carentes de recursos e legislação específica. Tudo isso levou a incêndios devastadores, condições de armazenamento precários e a falta de profissionais capacitados no mercado. Todos estes obstáculos tornam ainda mais impressionantes as ações de Cosme Alves Neto em relação ao seu trabalho no resgate e preservação do cinema.
A atuação de Cosme Alves Neto inspirou e influenciou na formação de novas gerações de cineastas e cinéfilos. O documentário dá como exemplo a participação na Jornada de Cinema da Bahia, onde atuou mobilizando jovens cineastas, o que prova o seu interesse e compromisso com o desenvolvimento do cinema brasileiro e com a popularização do acesso aos acervos. Aliás, como mostra Nazário, esta popularização poderia ser alcançada de forma efetiva se a Cinemateca Brasileira tivesse adotado o sistema cooperativista da Cinemateca Uruguaia, mais aberto aos cinéfilos.
Cosme Alves Neto também teve um papel crucial na exportação do cinema brasileiro. O documentário Tudo por Amor ao Cinema (2015) destaca, por exemplo, a exibição clandestina de Blá, Blá, Blá, de Andrea Tonacci, no Festival de Locarno, na Suíça. O filme, proibido pela ditadura militar, foi resgatado por Cosme e levado ilegalmente para a Europa em um período em que o impacto do cinema brasileiro ainda era limitado pelo eurocentrismo dominante.
Hernani Heffner explica que os critérios de preservação cinematográfica eram pautados por uma suposta “evolução estética”, fortemente influenciada pelas produções do chamado Primeiro Mundo, que sempre esteve na vanguarda da tecnologia, do comércio e da ideologia cinematográfica. Já Nazário aponta outro viés dessa influência eurocêntrica: o próprio modelo da Cinemateca Brasileira seguiu padrões elitistas importados dos mercados norte-americano e europeu, determinando quais obras deveriam ou não ser preservadas.
Na prática, isso impacta diretamente a memória do cinema brasileiro. Mesmo com esforços como os de Cosme, que recuperou filmes esquecidos — como Rio de Janeiro em 1923, vindo da Finlândia — , esses resgates ainda são exceções. O histórico descaso com a preservação cinematográfica nos países do chamado “Terceiro Mundo” privou gerações do acesso à sua própria história nas telas.
A atuação de Cosme vai além de suas motivações políticas, como mostra o documentário, e só pode ser explicado pelo seu genuíno amor ao cinema. No entanto, ele é apenas um exemplo notável de uma geração de defensores da preservação do cinema brasileiro e da memória audiovisual do Brasil. Luiz Nazário dá como exemplo o colecionador Antônio Leão, que é consciente de que a classe dos colecionadores preserva mais que o Estado, o que me faz refletir sobre como as demandas citadas por Cosme não se extinguiram, apenas acompanharam as transformações tecnológicas: a comunicação é mais fácil, o acesso do público também, mas arquivos em película seguem em condições precárias aguardando por políticas públicas constantes e compromissadas com a cultura brasileira, o que permitiria não só melhor condições de arquivamento, mas que o acesso aos filmes seja ampliado.
É preciso ser justo: o governo Lula, hoje e no passado, tem como um dos pilares o apoio à cultura, o que tornou a realidade da preservação fílmica no Brasil um pouco mais esperançosa neste século, através de editais que nos permitiram ter acesso a, por exemplo, às versões restauradas das obras de Glauber Rocha. Outro exemplo, o "Programa de Restauro Cinemateca Brasileira — Petrobras", lançado em 2007, chegou a financiar os próprios colecionadores, reconhecendo a importância destas pessoas. No entanto, a constância segue sendo um obstáculo a ser superado. O incêndio de 2021 na Cinemateca Brasileira, que destruiu parte do acervo histórico do cinema nacional, é um triste lembrete dessa inconstância, como reportou o G1 na ocasião.
Cartaz de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", parte do acervo da Cinemateca Brasileia que foi queimado durante o incêncio em 2021. O material já estava danificado por um alagamento em 2020. (foto: Foto: Reprodução / Relatório do MPF via G1)
O Legado de Cosme Alves Neto e o Futuro da Memória Cinematográfica Brasileira
Apesar da importância do trabalho de Cosme Alves Neto, o audiovisual brasileiro não pode depender apenas de esforços individuais. Mesmo que seu legado continue vivo, o acesso pleno e contínuo à memória cinematográfica só será garantido com ações governamentais sistemáticas.
Em junho de 2024 o Governo Federal anunciou um investimento de R$ 1,6 bilhão no audiovisual, incluindo o fomento à produção e um acordo com o Ministério Público Federal para garantir as atividades da Cinemateca Brasileira. Embora represente um avanço em relação à gestão anterior, essa medida ainda precisa de tempo para mostrar seus impactos e não aborda questões fundamentais, como a descentralização. Como destaca Luiz Nazário, descentralizar a preservação não só melhora as condições de conservação, mas também valoriza os cinemas regionais e amplia o acesso às obras.
Diferente das películas de Limite (1931), feitas de nitrato, as memórias da minha família não correm risco de autocombustão. Mesmo assim o tempo é implacável, e temo que as gravações em VHS-C feitas pelo meu pai se deteriorem. Ainda assim, poder acessá-las é um privilégio. E assim deve ser com a memória de um país: disponível para qualquer um que queira revivê-la quando quiser — seja como documento histórico ou como obra de entretenimento.
Somente com cuidado, respeito e consistência garantiremos que as novas gerações tenham acesso às suas próprias memórias. Cosme Alves Neto dedicou sua vida a essa missão porque entendia que só é possível amar algo conhecendo-o. E com o cinema não é diferente. Afinal, como amar alguém sem conhecê-la? Como amar um país sem conhecê-lo?
REFERÊNCIAS
HEFFNER, Hernani. “Preservação”. Contracampo, n. 34, 2001. Disponível em: Preservação Audiovisual. Acesso em: 13 out. 2024.
NAZÁRIO, Luiz. “O Buraco da Memória”. In: Diálogo entre Linguagens. VENEROSO, Maria do Carmo de Freitas; MELENDI, Maria Angélica (orgs.). Belo Horizonte: Editora C/ Arte; UFMG, Escola de Belas Artes, Programa de Pós-Graduação em Artes, 2009. p. 175–188.
MICHILES, Aurélio (dir.). Tudo por Amor ao Cinema (Filme, 90 min). Produção de André Montenegro e Rui Pires. Brasil: Aurora Filmes, Olhar Imaginário, Imagem Selvagem, 2015. Disponível em: YouTube. Acesso em: 13 out. 2024.
Fogo na Cinemateca: galpão tinha acervo de Glauber Rocha, equipamentos antigos e documentos sobre a história do cinema no Brasil. G1, São Paulo, 30 jul. 2021. Disponível em: G1. Acesso em: 13 out. 2024.
BRASIL. Ministério da Cultura. “No Dia do Cinema Brasileiro, MinC destaca ações para fortalecimento do setor audiovisual”. Agência Gov, Brasília, 19 jun. 2024. Disponível em: Agência Gov. Acesso em: 13 out. 2024.
Justiça Federal homologa acordo para preservação da Cinemateca. Exame, São Paulo, 21 jun. 2024. Disponível em: Exame. Acesso em: 13 out. 2024.
Cosme: por amor ao cinema. Taquiprati, 11 jan. 2021. Disponível em: Taquiprati. Acesso em: 13 fev. 2025.
Texto e imagem reproduzidos do site: medium com
domingo, 5 de outubro de 2025
Película de cinema versus imagem digital dos filmes
Artigo compartilhado do site WEBINSIDER, de 7 de agosto de 2024
Película de cinema versus imagem digital dos filmes
Por Paulo Roberto Elias
A película de cinema e a imagem digital se complementam, com o auxílio luxuoso de softwares de limpeza digital de negativos.
A película de cinema e a imagem digital se complementam, com o auxílio luxuoso de softwares de limpeza digital de negativos.
Desde a década de 1990 houve um tremendo esforço na conversão da película de cinema, incluindo negativos, para a imagem digital, com o objetivo, naquela época, de lançar videodiscos (Laserdisc, por exemplo) com uma qualidade superior de reprodução.
Os avanços tem sido impressionantes. Já de algum tempo foi possível se lançar mão de um negativo de câmera deteriorado e com ele transferir a imagem para o vídeo de altíssima resolução, algo impensável alguns anos atrás.
Além disso, o tratamento por softwares de limpeza digital competentes deu chance técnica aos restauradores a corrigir falhas na película, antes complicadas de resolver.
Simultaneamente, as telas de televisão e projetores de vídeo também avançaram significativamente. Com os aprimoramentos no tratamento da imagem do front-end (dispositivo de reprodução) usado, e com os recursos de inteligência artificial aplicados nesta reprodução, é possível hoje assistir um filme em vídeo satisfatoriamente!
Eu confesso que sou fã incondicional da película de cinema e lamentei muito, quando anos atrás, o Orion Jardim de Faria (Incol 70/35) me avisou que os projetores de película seriam retirados dos cinemas e substituídos por modelos alimentados por disco rígido contendo o filme a ser exibido, em formato DCP.
Para mim, a película não tem substituto dentro das salas de cinema, mas dentro de casa ela é dispensável, dependendo, é claro, de quem não tem condições de projetar película, como antigamente, hábito que ficou restrito apenas aos colecionadores.
Eu aposto que quem assistiu filmes em cinemas na maior parte de suas vidas, vai sempre racionalizar a projeção em termos de película. Anos atrás, eu estava em uma sala multiplex do shopping local, e a tela era pequena. Na minha frente, sentaram uns garotos, e quando a projeção começou um deles disse aos outros: “parece a televisão lá de casa”. E ele estava certo!
Se este menino tivesse alcançado os antigos palácios de cinema, certamente iria se ressentir mais ainda. Porque, para ver uma imagem de um filme em dimensões reduzidas, nem é preciso sair de casa!
Méritos das películas
Notem que o objetivo das restaurações foi sempre o de recuperar películas de filmes próximas da perda completa, e obviamente preservar o que for possível. As restaurações são muito caras e exigem técnicos especializados neste tipo de trabalho. O que justifica plenamente que toda e qualquer restauração possa, e deva, ser aproveitada para a transcrição para outras mídias. Neste momento, é o Blu-Ray 4K que melhor cumpre esta função.
O Blu-Ray 4K consegue reunir o áudio de alta resolução e em 3D (Atmos e DTS:X), que já estava presente no Blu-Ray 2K, com uma imagem de alta qualidade, tratada com HDR. O lançamento dos discos 4K valoriza ainda mais os esforços de restauração.
A projeção com película, por seu turno, dá ao frequentador de cinema tradicional a sensação de estar assistindo um filme. Existe uma explicação técnica para isso: os projetores de cinema exibem o filme em uma cadência real de 24 quadros por segundo, e isso não pode ser alterado. Já na TV ou no projetor, a imagem pode facilmente ser convertida para 60 quadros por segundo, tirando, muitas vezes, a sensação de percepção de se estar assistindo um filme de cinema.
Os cinemas podiam usar a projeção em películas para construir o tamanho de telas que quisessem, e para resolver o brilho da projeção os projetores eram montados com lanternas (fontes de luz) com amperagem alta. Os antigos cinemas Metro, por exemplo, usavam lanternas com 120 ampères, mostrando uma imagem na tela mais clara do que os outros cinemas. Os projetores de película 70 mm obrigatoriamente usaram lanternas com alta amperagem, por causa das dimensões do fotograma. Com a mudança para lanternas com lâmpadas Xenon, alguns cinemas exibiam uma imagem escura, problema este que foi corrigido depois.
Méritos da imagem digital
Em contrapartida, a reprodução digital tem os seus méritos nas telas atuais, que trabalham com a estrutura física montada por pixels, e não mais por pontos. Cada pixel pode ser controlado, de maneira a ser exibida uma imagem de alta resolução, em qualquer tamanho de tela. E quanto maior for o tamanho da tela, maior será a quantidade de detalhes que podem ser percebidos. O tratamento com HDR, privilégio da imagem digital, aumenta mais ainda o mapeamento de cores, o brilho da imagem, e os detalhes das zonas de penumbra, antes imperceptíveis.
No documentário sobre a restauração física e digital de Tubarão (“Jaws”), Steven Spielberg comenta que uma tela de televisão de alta resolução é capaz de mostrar uma imagem superior àquela projetada na época do lançamento daquele filme.
Se ele ousou fazer tal afirmação é porque ele sabe que a imagem digital tratada corretamente não tem oscilação de movimentos e nem incorreções de cor. Ambos os problemas podem agora serem corrigidos digitalmente!
Existe pendente uma limitação na imagem digital, que é a da resolução nativa da imagem transcrita. Um fotograma de 70 mm exigiria, em tese, um telecine com 12K de resolução. Muitos filmes transcritos com este tipo de negativo vão até 8K, mas são reduzidos para 2K ou 4K, para mídias digitais.
Esta limitação não é, na prática, percebida, porque o tamanho das telas de TV não é grande o suficiente para que a discriminação de resolução seja percebida. Assim, um filme em vídeo com 4K pode ser visto confortavelmente em telas de mais de 80 polegadas. Com os recursos atuais de upscaling, o mesmo pode ser dito, com imagens a partir de 2k de resolução.
A preservação digital e em película
Os técnicos de restauração afirmam com segurança que um novo negativo, derivado do processo de restauração, pode durar mais de 10 anos. Mesmo assim, uma cópia digital do original é sempre feita e arquivada.
Em alguns casos, como foi na restauração do filme de Alfred Hitchcock “Vertigo” (Um Corpo Que Cai), rodado em VistaVision, foi feita uma cópia em 70 mm também. A telecinagem pós restauração revelou uma qualidade de imagem surpreendente, como seria de se esperar, tanto em 2K quanto em 4K.
São nessas circunstâncias que as mídias analógica e digital encontram as suas reais aplicações. Entretanto, eu entendo que não se pode descartar o valor histórico e técnico alcançado pelo cinema do passado. O processo de vídeo Smilebox, por exemplo, simula uma tela curva, mas quem assistiu os filmes em Cinerama nos cinemas vai perceber que a diferença está lá para quem quiser ver!
O ideal seria que os cinemas preservassem os dois formatos, analógico e digital. Alguns cinemas no exterior já fazem isso, inclusive em salas com IMAX. Infelizmente, por aqui eu ainda não vi nenhum exibidor se aventurando novamente no aluguel de películas para projeção.
Texto e imagem reproduzidos do site: webinsider com br
terça-feira, 23 de setembro de 2025
O projecionista, colecionador e cinéfilo, Benjamim Ribeiro Sobrinho
Texto publicado originalmente no site do JORNAL O NORTE, de 11 de janeiro de 2007
O projecionista, colecionador e cinéfilo, Benjamim Ribeiro Sobrinho expõe seu acervo cinematográfico reunido, peça a peça, desde a década de 1940
Com curadoria de Fábio Borges, a exposição acontece dentro da programação do I Festival de Cinema de Montes Claros, e segue até o início de fevereiro, na galeria Godofredo Guedes, no Centro Cultural Hermes de Paula. As visitas são gratuitas.
Por Jerúsia Arruda (Repórter)
Ele nasceu em 1933 em berço simples e, ainda na tenra infância, se viu sozinho no mundo. Para sobreviver, vivia perambulando pelas ruas e fazia pequenos serviços em troca do pão de cada dia. Para dormir, José Paculdino o Ferreira, o Juquinha, lhe arranjou um quartinho nos fundos do antigo Cine São Luis, na Rua Simeão Ribeiro, do qual era proprietário. Isso no Final da década de 1930. Assim cresceu Benjamim Ribeiro Sobrinho, um menino pequerrucho e branquelo que, graças às agruras da vida, foi tomado por uma paixão que, como ele mesmo diz, deu norte a sua vida: a paixão pelo cinema.
Sua história se confunde com a história do cinema de Montes Claros, pois acompanhou de perto a ascensão e queda de cada um deles, do Cine Renascença (1921-1938) ao Cine Fátima (1960-1995). A história de um menino que dormia nos fundos do cinema e que, para assistir aos filmes, ajudava na limpeza das salas.
- Todos os dias ia a, pelo menos, uma sessão. Chegava a ver 10-20 vezes o mesmo filme e cada vez que via, descobria um novo detalhe, uma nova mensagem – relembra Seu Benjamim, que diz ter visto ao longo desses anos mais de 15 mil filmes.
Já adolescente, por volta de 12-13 anos de idade, arranjou um emprego em uma loja frente ao Cine São Luis e ficava atento a tudo que acontecia do outro lado da rua.
- Levantava bem cedo e ajudava na limpeza, ante de ir para o trabalho. À noite ia ver o filme que nem sempre era próprio para minha idade. Através do cinema conheci coisas boas e más que ajudaram a moldar minha personalidade. Com o tempo passei a me interessar pela parte técnica, queria saber como funcionavam as máquinas e, sempre que podia, ia para a sala de projeção – conta.
Para matar a curiosidade, Seu Benjamim conta que pegou uns endereços nos cartazes dos filmes e enviou cartas pedindo informações sobre equipamentos, projetores, novas tecnologias e logo começou a receber prospectos de grandes produtoras como Fox, Colúmbia, Universal, entre outras.
- Era tudo em inglês, mas, de tanto assistir aos filmes, comecei a aprender a língua e decifrar os prospectos. Foi assim que comecei a entender como as máquinas funcionavam e a dar palpites no trabalho do projecionista, falar das novidades lançadas no mundo e onde encontrá-las no Brasil. Acabei me tornando projecionista também e trabalhei em todos os cinemas criados em Montes Claros a partir da década de 1950.
Durante esse período, Seu Benjamim, cinéfilo de carteirinha, guardou prospectos, cartazes, banners e mais de 1000 sinopses de filmes, fotos, ingressos além de diversos equipamentos que usou em seu trabalho, entre eles, um projetor de 35mm, de 1960, a última unidade a ser produzida no Brasil – numa fábrica em Belo Horizonte/MG - e que usou no Cine Fátima até seu fechamento.
Todo esse acervo foi reunido com a curadoria de Fábio Borges, de Belo Horizonte, e fica exposto durante o I Festival de Cinema de Montes Claros e segue até o início de fevereiro.
- Estamos esperando um público de cerca de 5.000 pessoas durante o Festival. O acervo é muito interessante e conta um pouco da história da cidade na época - explica Fábio.
Para facilitar a compreensão dos visitantes um grupo de monitores acompanha as visitas, explicando como eram utilizados os equipamentos, falando sobre os filmes exibidos na época, tomando o material exposto como referência.
O estudante de Publicidade e Propaganda, Moisés de Oliveira Júnior é um dos monitores da exposição e se diz entusiasmado com a experiência.
- Cinema é uma paixão, eu diria, unânime, e lidar com sua história tão de perto me deixa eufórico. A exposição nos aproxima da história de Montes Claros e, pelos cartazes e fotos, dá para entender como as pessoas se divertiam na época e como o cinema era presente na agenda de todos. Tenho certeza de que essa experiência vai acrescentar muito, não só para meu currículo, mas, principalmente, como cidadão, como pessoa, no reconhecimento da minha formação, das minhas origens – comemora Júnior.
O professor e jornalista Elpídio Rocha, que também participa da coordenação do Festival, diz que a presença do cinéfilo sempre foi uma constante na história do cinema.
- Muitos diretores consagrados contam que roubaram cartazes de filmes na infância e os guardam como um tesouro. A arte sempre desperta paixões e, dependendo da qualidade do material que coleciona, o cinéfilo pode se tornar uma referência histórica. Esse é o caso de Seu Benjamim, cujo acervo que colecionou ao longo dos anos faz um resgate da história não só dos cinemas de Montes Claros, mas de como vivia a geração no período em que estavam em plena atividade. E esse acervo agora está servindo para recontar essa para uma nova geração – explica o jornalista.
Seu Benjamim diz que os filmes mais badalados de que pode se lembrar foram os filmes de faroeste, a primeira versão de King Kong, ...E o vento levou, Romeu e Julieta, Em cada coração um pecado e Por quem os sinos dobram.
- Apesar do sucesso dos filmes de Hollywood, os filmes nacionais eram os que mais mobilizavam a comunidade. Os filmes de Mazzaropi, por exemplo, as pessoas faziam filas para conseguir um ingresso – lembra saudoso.
A história do cinema em Montes Claros, assim como sua própria história está escrita no livro História do cinema em Montes Claros, onde seu Benjamim narra desde as primeiras experiências com o cinema, em 1904, até a chegada das salas de cinemas na cidade.
- O livro tem cerca de 150 páginas e está pronto para ser editado. Estamos tentando conseguir uma editora para publicá-lo. Apesar de ter perdido boa parte do material que guardava em um incêndio, que poderiam ajudar na ilustração, no livro conto todos os detalhes e os momentos mais marcantes da história do cinema.
Aos 74 anos, depois de passar por muitas dificuldades na infância, de se sentir recompensado pela vida ao trabalhar por mais de 20 anos na rede ferroviária Central do Brasil, seu Benjamim diz que a exposição é o seu momento de glória.
- Esses objetos são parte de mim, representam minhas alegrias, emoções, tristezas e dores, e ao compartilhá-los com as pessoas, me sinto como se estivesse repartindo um pouco de mim mesmo, minha melhor parte – conclui emocionado.
Texto reproduzido do site: onorte net
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Texto compartilhado do site do JORNAL O NORTE, de 30 de outubro de 2006
Um sonho de criança que se tornou realidade: o menino que brincava de cinema no quintal de sua casa na cidade Coração de Jesus mais tarde veio construir o mais romântico dos cinemas que Montes Claros já teve
Por Samuel Nunes - Repórter - samuelnunes@onorte.net
Na edição de hoje a reportagem de O Norte outra vez mais foi no fundo do baú e através até o ex-operador de projeção do cine Fátima, Benjamim Ribeiro Sobrinho, natural da cidade de Várzea da Palma e que hoje está com 74 anos e mora em Montes Claros desde os 3 anos de idade. Ele demonstra seu amor pela terra da carne de sol e do pequi ao se referir a alguns patrimônios históricos da cidade que ao decorrer dos anos vem se perdendo, ou pela vinda do progresso, ou mesmo pela falta de políticas públicas voltadas para a arte e a cultura. Ele conta que é aposentado pela rede ferroviária Central do Brasil, e sempre gosta de acompanhar tudo que envolve cultura.
- Também escrevia uma coluna no suplemento Opinião do jornal O Norte, onde eu elogiava e criticava o que via em Montes Claros - lembra.
COMO SURGIU O CINE FÁTIMA
Com precisão Benjamim Ribeiro Sobrinho afirma que vivenciou um interesse pela arte e cultura com o progresso das casas de diversão nesta década e teve a oportunidade, portanto de acompanhar de perto as construções das principais casas de cinema de Montes Claros. Com uma memória invejável ele revela que o Euller Lafetá, proprietário do cine Fátima ainda quando criança brincava de uma forma diferente das demais crianças da sua idade.
Benjamim Ribeiro Sobrinho diz que acompanhou o Cine Fátima da inauguração até o fechamento
- Ele brincava de cinema no quintal de sua casa na cidade de Coração de Jesus, o tempo passou e já na sua idade adulta ele se transformou em comerciante sendo que logo depois mudou se para Montes Claros – conta.
Benjamim revela que em 1958 aproximadamente aconteceu a compra de um terreno por parte de Euller Lafetá na rua D.Pedro II centro de Montes Claros. Depois disto ele foi até a cidade de Varginha, sul de Minas Gerais, e conheceu um engenheiro-arquiteto que já tinha uma planta de um cinema construído na cidade de Sete Lagoas e com este modelo o Euller Lafetá construiu o cine Fátima.
- Nesta época ele já se preocupava em construir um cinema de qualidade e à altura do que nossa cidade merecia. O Cine Fátima foi comparado com outros cinemas dos grandes centros do país. A construção foi grande e pode se dizer lenta, mas o importante é que esta obra não parou - salienta.
ESTRUTURA ADEQUADA
Sobre a estrutura do cinema Benjamim diz que a que foi usada veio de Belo Horizonte e foi a primeira que chegou a cidade.
- A estrutura usada foi de metal, a construção da sala de projeção foi feita de acordo com a aparelhagem que foi comprada. As paredes eram de granitos a jato isento de quinas vivas e arredondadas. Sobre o teto e as paredes de frente para as telas. Segundo Benjamim estas foram forradas com material acústico. Quanto ao equipamento de som e projeção ele explica que foi feito um contrato com um representante do Brasil, e que este equipamento para exibição de filmes tinha o som ótico comum e magnético estéreo de 4 canais e foi importado da Inglaterra sendo de alto valor. Segundo Benjamim esta aparelhagem era uma novidade no comércio cinematográfico e para uma pessoa para lidar com ela seria necessário treinamento para adquirir conhecimento e aptidão para o assunto. Ele conta ainda que a cortina do cinema era automática e tinha 400 metros de tecidos, 15 metros de altura e 32 de largura.
CONVITE PARA TRABALHAR
Com emoção ele conta que foi convidado por Euller Lafetá para trabalhar no cine Fátima e, inclusive, fazer um estágio na Inglaterra, mas ele não achou necessária sua ida ao continente Europeu.
- Além de eu não ter achado necessário minha ida, outro fator negativo seria minha ausência do serviço durante muitos dias - argumenta. Ele conta que as 1.400 poltronas do Cine Fátima foram adquiridas com assento automático junto à empresa Brefor. Benjamim diz com orgulho que através do seu trabalho no cinema e mesmo depois da sua extinção teve a oportunidade de assistir aproximadamente de 15 mil filmes o que para ele é uma fonte inesgotável de cultura.
- Eu trabalhei na sala de projeção até 1962 e depois passei a dar manutenção na aparelhagem - lembra. Outro ponto mencionado por ele é que enquanto os filmes não eram exibidos em algumas capitais eles não chegavam a Montes Claros. Benjamim afirma que os filmes eram passados no departamento de censura e diversões públicas, lá eles eram exibidos e depois era criada uma comissão, se existisse alguma fala que iria de encontro ao governo de modo negativo ou qualquer outra inconveniência o filme era censurado.
PORQUE CINE FÁTIMA
Outra informação importante mencionada por Benjamim é que o motivo pelo qual Euller Lafetá denominou de Cine Fátima o principal cinema de Montes Claros na época é que ele tinha uma filha por nome de Fátima e também pelo fato de ele ser devoto de Nossa Senhora de Fátima. Benjamim conta que o cinema foi inaugurado em 13 de fevereiro de 1960 e foi feito um coquetel neste dia para mais de 200 pessoas de Montes Claros e de outros centros do país como Belo Horizonte, São Paulo e Rio de janeiro.
- Neste dia foram exibidos trailers de desenhos animados, à noite aconteceu uma sessão especial com o filme Cristo de Bronze. Com saudade ele conta com orgulho que mais de 4 mil pessoas por semana freqüentavam o Cine Fátima.
- A fila para entrar no cinema subia as ruas Doutor Santos e São Francisco, era muita gente. Eu presenciei a construção do cine Fátima e hoje vejo com tristeza a sua destruição por completo - desabafa.
Questionado sobre por que isto não acontece mais na cidade ele ressalta que um dos motivos é um grande número de jovens que estudam à noite.
Montes Claros
Texto reproduzido do site: onorte net
quarta-feira, 17 de setembro de 2025
História de Alexandro Nascimento Genaro
Artigo compartilhado do site MUSEU DA PESSOA, de 16 de maio de 2016
Página Inicial | História de vida
Personagem: Alexandro Nascimento Genaro
Energia que move
Alexandro Nascimento Genaro, o Sandro, é um aficionado por filmes, que começou sua carreira profissional no Cinema Aricanduva. Em seu depoimento, ele fala sobre as brincadeiras de infância no bairro de Itaquera, zona leste de São Paulo, da profissão do pai como tipógrafo, sobre sua vida escolar e o trabalho como office-boy. Descreve o trabalho como projecionista e explica como a tecnologia está extinguindo a profissão. Fala sobre os tipos de película com que já trabalhou e dos filmes que gosta. Finaliza falando sobre seu casamento e sobre os filhos.
Sou Alexandro Nascimento Genaro, nasci aqui em São Paulo, dia 20 de janeiro de 1974. Meus pais são Miguel Luís Carlos Genaro e Maria Aparecida do Nascimento Genaro. Meu pai era tipógrafo e tinha, como eu, uma profissão que acabou com a tecnologia. E a minha mãe era costureira, é costureira até hoje, mas agora só trabalhos pequenos. Tenho três irmãs mulheres, uma é professora, uma é policial civil e a outra trabalhava na Natura, eu acho que na parte de química.
Meu avô me contava que eles usavam lampião, era a querosene, sabe? Ele me ensinou fazer uma lamparina a óleo de cozinha! Você pegava um cadarço de sapato velho, enfiava numa chapinha de metal e fazia uma lamparina a óleo. Quando eu era moleque, eu ia brincar, fazer cabaninha no mato e fazia essas lanterninhas para iluminar, entendeu? Brincadeira de molecada, né? Ele falava que quando chegou a energia elétrica, eles tinham só uma lâmpada na casa, porque eles economizavam. Era uma festa e uma lâmpada! Aí, depois de muito tempo ele comprou um rádio. Só quando minha mãe já era adulta que ele foi comprar uma televisão.
Quando criança eu ia em cinema de rua, mas na adolescência eu passei a ir muito ao cinema. Lembro de “Robocop”, que a censura era, se eu não me engano, 16 anos. Eu devia ter 14, 13 anos, mas eu consegui entrar. E quando eu virei office-boy, eu chegava a ir para o cinema, eu pegava e ligava: “Está uma fila gigantesca no banco, vou ter que ir embora daqui, tudo bem?” “Tudo bem”, eu ia para o cinema, eu já tinha saído do banco já fazia tempo, já, que era para dar tempo de eu ir no cinema e depois ir para a escola. Eu fazia isso para ir no cinema. Sempre fui fanático por cinema, depois que eu comecei a trabalhar com cinema, parei de ir ao cinema… parei de ir, não, eu vou muito ao cinema para levar meus filhos, mas eu vou mais para ver os filmes com eles.
Com 19 anos, consegui um emprego no Cine Aricanduva. Foi naquela fase militar que não podia largar o emprego, nem nada, porque senão, não ia conseguir arrumar nada. Já logo no começo eu era trabalhava na portaria, rasgando ingresso. Com uns dois meses lá, eu passei para auxiliar de borderô, que é o ajudante do gerente. Eu contava a renda do dia, fazia os relatórios, preenchia os dados dos impostos que eram pagos, fazia toda a questão burocrática do cinema, preenchia aquele monte de formulários. E quando eu tinha uma folguinha, ficava na cabine, porque para mim, aquilo era fascinante, a projeção. E fiquei aprendendo, trabalhando na cabine, olhando tudo aquilo e aí, teve uma greve grande dos projecionistas aqui em São Paulo, onde mandaram embora todos os projecionistas. E eu sabia fazer projeção.
Eu comecei no Alvorada Cinemas, onde eu trabalhei seis anos. A Alvorada Cinemas faliu, fechou as portas, aí naqueles poucos meses, eu conhecia muita gente, porque eu rodava vários cinemas, então, eu criei vários amigos, e aí, quando eu saí do Alvorada, alguns amigos meus ficaram sabendo que eu estava desempregado e ficaram sabendo do Espaço Unibanco de cinemas, ali na Augusta, agora Espaço Itaú de Cinemas, que estava precisando de um projecionista. Lá eu fiquei oito anos, eu pedi para sair de lá, não queria mais ficar ali, porque chega um momento da nossa vida que a gente tem que tomar alguns rumos, e eu sabia que ali não tinha jeito, ali era um lugar muito limitado, entendeu? Eu sai de lá, acabei ficando como temporário no Sesc durante cinco anos. O Carlos Magalhaes que era o diretor aqui da Cinemateca era muito amigo do gerente do Sesc. O Magalhães falou para ele assim: “Estou precisando de um projecionista, mas estou com dificuldade, os caras não sabem muito”, aí ele falou: “Tem um rapaz aqui que trabalha bem, ele está fazendo temporário aqui, faz uma entrevista com ele”. Eu fiz uma entrevista e fui contratado.
A energia está presente em tudo! Acho que não tem mais como a gente ter uma rotina sem energia, hoje em dia, se acaba a energia elétrica, a gente fica louco. No meu trabalho mesmo, ele não existiria sem energia, não tem como, desde que a projeção iniciou… logico, no início das projeções, eram tipo lamparina, sabe, mas projeção cinematográfica não tem como sem a energia. Ela é parte integral do meu dia a dia. Minha maior preocupação é os meus filhos ficarem sem energia em casa, porque eles ficam doidos, cara!
Texto e imagens reproduzidos do site: museudapessoa org
segunda-feira, 8 de setembro de 2025
Ivan Cineminha sabe tudo dos milhares de filmes que viu
Foto/Reprodução/TV Câmara.
Artigo publicado originalmente no site do JORNAL DA PARAIBA, em 7 de dezembro de 2024
Ivan Cineminha sabe tudo dos milhares de filmes que viu
Por Silvio Osias
Cinéfilo paraibano será homenageado no Fest Aruanda.
A sessão ia começar às oito da noite. Um pouco antes, ele chegou de moto e estacionou no pátio do cinema - o Cine Teatro Santo Antônio, no bairro de Jaguaribe. Vestia um casaco de couro e já vinha de um outro filme num outro cinema de rua da cidade.
Essa é a primeira lembrança que tenho dele. Eu estava saindo da infância para a adolescência e todas as noites ia para a frente do Santo Antônio, onde a galera do bairro se encontrava para ver o filme ou simplesmente para conversar.
O seu nome - soube depois - era Ivan Araújo Costa. Mas foi como Ivan Cineminha que, anos mais tarde, ficou nacionalmente conhecido nas duas vezes em que foi ao talk show de Jô Soares. Numa delas, ganhou de presente um encontro com Anthony Quinn.
Na pequena Picuí, o pai de Ivan tinha um cinema, e foi lá, na infância, que viu os primeiros filmes. Quando veio para João Pessoa, na primeira metade dos anos 1950, cinema de rua, nos bairros e no centro da cidade, era o que não lhe faltava.
Ivan ia ao cinema e, num caderno, anotava o nome do filme, o diretor, o elenco, o país de origem, o ano da produção. Anotava e memorizava o que estava escrito. Um caderno, dois cadernos, três cadernos. Um monte de cadernos ao longo dos anos.
A memória era boa, muito boa, e, aos poucos, Ivan foi se transformando numa verdadeira enciclopédia ambulante do cinema. Amava os filmes, dezenas, centenas, milhares, e tinha um ídolo no rock, Elvis Presley, de quem adotou alguns maneirismos.
Quando foi pai, não teve dúvidas. O primeiro filho se chamou Elvis Presley, que juntava música e cinema na vida de Ivan. Veio uma menina, e ela foi batizada como Vanessa Redgrave. Mais um menino, e a este foi dado o nome de Maximilian Schell.
Conversar com Ivan é uma delícia. Jô Soares ficou encantado. Ivan tem uma memória privilegiada e - não é um defeito - adora se exibir. A gente pergunta: "Qual o único western estrelado por Sean Connery?". E ele responde: "Shalako".
Antônio Barreto Neto, o melhor dos críticos de cinema da Paraíba, foi vizinho de Ivan. Abria a janela e, do outro lado, lá estava a janela da casa de Ivan. E era com ele que tirava dúvidas, que fazia consultas, num tempo em que nem se sonhava com Internet.
Na juventude, Ivan vendia discos. Trabalhou em várias lojas da cidade. Uma delas ficava em frente ao Cine Plaza, no centro de João Pessoa. Quando terminava o expediente, bastava atravessar a rua e pegar a primeira sessão da noite.
O Cine Municipal ficava a alguns metros dali. O Cine Rex, também. Eram cinemas de "primeira linha". O Brasil e o Felipeia, também no centro, eram salas mais populares. O Brasil tinha fama de ser frequentado pelas prostitutas das redondezas.
Nos bairros, havia o Torre, o Metrópole, o São José, o Santo Antônio, o Bela Vista, o Glória, distribuídos na Torre, em Jaguaribe e em Cruz das Armas. Ivan Cineminha frequentou todos eles. Foram suas verdadeiras escolas de cinefilia.
Há os cinéfilos cultos, os que viram filmes e leram sobre cinema. Ivan, certamente, não é um deles. Ivan é um cinéfilo intuitivo. O amor pelo cinema e pelos filmes da sua vida lhe é suficiente. É o que faz dele uma figura fascinante e absolutamente singular.
Ivan Cineminha está beirando os 80 anos. Com a memória intacta, continua exibindo seus conhecimentos. De vez em quando, nos sábados à tarde, encontro com ele na Música Urbana, uma loja de discos que sobrevive no centro, perto de onde foi o Municipal.
Neste sábado, sete de dezembro de 2024, ele não vai à Música Urbana. Às três da tarde, numa sala do Manaíra Shopping, será homenageado no Fest Aruanda. Não é a primeira vez que é lembrado pelo festival. A homenagem a Ivan é um justo tributo a ele e à cinefilia.
Texto e imagem reproduzidos do site do jornaldaparaiba com br
CINECLUBES: um pouco de história
Artigo compartilhado do site ENTREMENTES, de 15 de janeiro de 2023
CINECLUBES: um pouco de história
Diogo Gomes dos Santos Cinema e Séries, Diogo Gomes dos Santos 1
Cineclube: De modo geral, tanto o termo como a atividade, já são bastante conhecidos do público, mas para quem se define cineclubista, tem sempre aquele algo a mais, que parece faltar. Se perguntar ao google, várias definições, pontos de vista aparecem, qualificando significativamente a atividade.
Os cineclubes são organizados como Movimento, em quase todos os rincões do planeta, oportuno pois oferecer uma série de informações, talvez desconhecidas da maioria do público que identificam a importância de suas ações.
Os cineclubes nasceram na França, no início do século XX e a primeira experiência em terras brasileiras, data de 1917, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, com o Cineclube Paredão. Segundo Pery Ribas em depoimento a Rudá de Andrade, para Cronologia da Cultura Cinematográfica no Brasil, 1962, edição da Cinemateca Brasileira. Os nomes mais conhecidos são os de Adhemar Gonzaga, Álvaro Rocha, Paulo Wanderley, Luís Aranha, Hercolino Cascardo e Pedro Lima. Essa turma reunia na casa de Hercolino Cascardo¹, um colecionador de filmes. Eles também assistiam filmes nos cines Pátria e Iris e iam debate-los numa localidade conhecida na época como paredão. Eles, os cineclubes já nasceram com o expressivo DNA de movimento cultural, cuja vontade o conduziria esta linguagem ao status artístico.
O seu surgimento estava diretamente ligada com a questão da apreciação artística e do aprendizado, a partir da curiosa novidade, que era vista numa enorme tela branca: fotografias tiradas sequencialmente, que se movimentavam, dando a ilusão de movimento, de realidade e, para muito além da diversão, a ideia de aprender a fazer e a contar histórias por meio dessas fotografias.
O que chamamos hoje de cineclube, ainda é motivo de reflexão, alguns pesquisadores apontam o ano de 1909 como marco da primeira experiência, registrada em Paris, num período em que os “filmes faziam enorme sucesso simplesmente porque […] o cinema era direcionado às classes baixas, a analfabetos e pessoas de baixíssimo poder aquisitivo. Para isso, tudo tinha que ser muito simples, direto, claro e objetivo. Não havia espaço para sutilezas, da mesma forma que grosserias, doses de erotismo e aberrações eram bem-vindas”, aponta o crítico Celso Sabadin em seu livro “Vocês Ainda Não Viram Nada, A Barulhenta História do Cinema Mudo”, 2009, livro recheado de informações embasadas em pesquisa séria, fácil de ler, bem humorado e que vai direto ao ponto.
Dando um salto no tempo, hoje os cineclubes estão organizados na Federação Internacional de Cineclubes – FICC -, órgão que reúne as entidades de representação nacional, em mais de 70 países.
No Brasil os cineclubes estão assim organizados: Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros – CNC -, órgão máximo de decisão destes. Nos Estados, existem as entidades estaduais (Federações, Organizações, Associações, etc.). Os cineclubes de cada Estado se filiam a estas entidades e nos Estados onde não existem estas representações, eles se filiam diretamente ao Conselho Nacional.
No Brasil os cineclubes são reconhecidos pelo Parágrafo Único do Artigo 5º da Lei nº 6.536 de 21 de novembro de 1968, https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-5536-21-novembro-1968-357799-publicacaooriginal-1-pl.html², e pela Instrução Normativa nº 63 de 02 de outubro de 2007 da Agência Nacional de Cinema – ANCINE -, https://antigo.ancine.gov.br/pt-br/legislacao/instrucoes-normativas-consolidadas/instru-o-normativa-n-63-de-2-de-outubro-de-2007.
Com o advento da pandemia do COVID-19, muitos cineclubes entraram em recessão, outros se reinventaram, novos surgiram, muitos tiveram suas atividades invadidas por milicias de extrema direita, mas sua aventura histórica abaixo da linha do Equador, sempre foi marcada, por ações civilizatória, tendo o filme como sua principal ferramenta de trabalho.
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¹ – Hercolino Cascardo, sediava em sua casa atividades de exibição e debate dos filmes após as sessões. Segundo André Gatti (Enciclopédia do Cinema Brasileiro, 2000, editora SENAC), Cascardo era colecionador de filmes. Ele nasceu a 2 de janeiro de 1900 no então Distrito Federal, filho de Isidoro Cascardo, comerciante de origem italiana, adepto das ideias socialistas. Em 22, já como 2º Tenente, servia no Couraçado São Paulo que bombardeou o forte de Copacabana, revolta que culminou com a marcha do grupo conhecido como os 18 do Forte. Em 1924, participa da sublevação da guarnição do mesmo couraçado, isso porque os oficiais se recusaram a combater o governo federal. Cascardo, o oficial de mais alta patente a bordo, assumiu o comando da embarcação, ordenou a prisão dos que não aderiram ao levante. Em seguida, ruma para o sul com intenção de juntar-se às forças, militares e “provisórias”, que insurgiram no Rio Grande do Sul, movimento que desaguou na Coluna Prestes. Em 1935 Cascardo está à frente da Aliança Renovadora Nacional, agora como Almirante.
² – Está Lei, dá outras providências, continua em vigor, mas está fora de uso.
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Texto e imagem reproduzidos do site: entrementes com br
segunda-feira, 25 de agosto de 2025
História do Cine Fátima, de Inhumas, em Goiás
Publicação compartilhada do site do JORNAL OPÇÃO, de 16 de junho de 2024
Conheça a história do Cine Fátima, o Cine Paradiso da cidade de Inhumas, em Goiás
Redação
Pequena cidade na década de 1930, Inhumas só conquistou um cinema mudo devido à capacidade empreendedora de Mamédio Calil
Por Marina Teixeira da Silva Canedo * (Especial para o Jornal Opção)
Dentre as inúmeras lembranças de minha infância e adolescência, está um antigo cinema de Inhumas, minha cidade natal, e que já não existe mais. É o Cine Fátima. Ele foi o “Cinema Paradiso” de Inhumas. Foi lá que entramos em contato com o mundo exterior. Naquele tempo (e bote tempo nisso) ainda não havia telefone na cidade. Os meios de comunicação eram muito incipientes. Não havia emissora de rádio, que só passou a existir tempos depois, e jornais só os de Goiânia. Quando a televisão foi implantada em Goiás o Cine Fátima já havia fechado suas portas.
O cinema foi uma feliz iniciativa de um homem visionário, Mamédio Calil (1900-1973), de origem sírio-libanesa, nascido em Talabeya, região do Vale do Bekaa, no Líbano, e que, por uma sorte do destino, veio aportar em terras goianas e, para nosso regozijo, em Inhumas. “Seu” Mamédio foi o patriarca de numerosa e importante família inhumense, e trazê-lo à memória só nos concede boas recordações. Sua mulher era a abdicada e amorosa dona Crioula, apelido pelo qual era conhecida a senhora Higolina Peixoto (1904-1998). O casal teve sete filhos, dentre os quais duas mulheres, Fátima e Gália, sendo esta última a minha maior amiga de infância.
O nome do cinema foi dado em homenagem à sua filha mais velha, Fátima. A construção do prédio destinado ao cinema ficou pronta em 1937. Nessa época meus pais ainda não haviam chegado a Inhumas. Mas, antes disso, no tempo ainda do cinema mudo, o Mamédio inaugurou o Cine Ítalo-Turco, em sociedade com o italiano José Jácomo, que funcionava em um armazém adaptado para tal fim. A população, com humor e talvez falta de entendimento, começou a chamá-lo de “intala o turco”, o que fez com que Mamédio mudasse o nome para Cine Fátima. Saber que Inhumas, pequena cidade na década de 1930 e longe de todos os recursos, contou com um cinema mudo, nos parece uma utopia, nascida dos anseios e projetos desse homem empreendedor que foi Mamédio Calil.
Tal como em “Cinema Paradiso” (1988), filme do italiano Giuseppe Tornatore (1956), e que é uma ode à sétima arte, o Cine Fátima nos fez sonhar e ampliou os limites de nosso pequeno mundo. Este belíssimo e emocionante filme foi enriquecido pela trilha sonora de Ennio Morricone, que lhe acentuou o tom melancólico e saudosista. Na ficção, o garoto Totó transforma-se em um grande cineasta. “Cinema Paradiso” mostra como esta arte pode influenciar a vida das pessoas, fato esse que se deu conosco. Nenhum de nós dedicou-se em desvendar os mistérios da sétima arte, como o protagonista do filme, mas nos fez mergulhar em outras dimensões, de onde visualizávamos o mundo exterior, Hollywood e o cinema mexicano, com seus filmes e atores famosos. Também o cinema nacional nos foi apresentado por meio das chanchadas, típicas da época.
Era comum, durante as projeções, que a fita se rompesse, o que gerava apupos da plateia e a intervenção do “lanterninha” para restaurar a ordem. As sessões eram diárias. No sábado, depois do filme, passava-se um seriado. Destes, lembro-me do “Zorro”, “O Máscara de Ferro”, “Tarzan” e outros que me escapam à memória. Esses seriados foram os precursores das atuais séries de TV e das novelas de televisão. Ninguém queria perder os próximos episódios, que sempre terminavam com os heróis em perigo.
Elizabeth Taylor, Ava Gardner e John Wayne
Filmes como “La Violetera”, com Libertad Lamarque e Sarita Montiel, “No Tempo das Diligências” (do diretor John Ford), com John Wayne, ator-símbolo dos filmes de faroeste, “À Noite Sonhamos”, a vida de Chopin, com Cornel Wilde e Merle Oberon, cowboys com Tim Holt e Tom Mix, e tantos outros filmes que marcaram a nossa vida e ampliaram nossas fronteiras, foram vistos pela juventude inhumense.
Elizabeth Taylor, Ricardo Montalban, Grace Kelly, Pedro Vargas, Robert Taylor, Stewart Granger, Pedro Armendáriz, Heddy Lamar, Ava Gardner, Cary Grant, Errol Flinn, Maria Félix, Oscarito e Grande Otelo são alguns dos atores que nos encantaram. Qual menina não queria ser linda como essas atrizes? E qual menino não queria ser corajoso como os “cowboys” e viver aventuras como Tarzan? E a semana não era completa se não fôssemos ao cinema.
A amizade que o “seu” Mamédio tinha pelo “seu” Felisberto Jácomo fazia com que as sessões não começassem antes que o amigo chegasse, e toda a plateia aguardava a chegada de Felisberto. De origem italiana, Felisberto Jácomo foi também patriarca de importante família em Inhumas.
O Cine Fátima propiciou a mim, além do mundo fascinante dos filmes, o surgimento de uma paixão de infância, que foi o amor por pombos. Era dentro do forro do telhado do cinema que vivia um bando de pombos, dos quais capturei alguns com alçapão e milho e os criei com devotada obsessão. Tempos depois, o prédio que abrigava o cinema não foi demolido, mas foi remodelado para outras finalidades.
Nossa infância e adolescência não teriam sido tão ricas em conhecimento e fantasia não fosse o poder transformador do Cine Fátima, lugar mágico e único, onde íamos colher sonhos e ampliar nossos horizontes. Foi palco também de muitos namoros “no escurinho do cinema”. Depois dele outros surgiram, mas nenhum teve a importância histórica, o significado e o charme que teve o saudoso Cine Fátima. Foi um paraíso na incipiente vida cultural de uma cidade do interior goiano, há muitas décadas. Foi o verdadeiro Cinema Paraíso (ou Paradiso), que ainda povoa nossa memória e imaginação.
* Marina Teixeira da Silva Canedo, historiadora, cronista e poeta, é colaboradora do Jornal Opção.
Texto e imagem reproduzidos do site: www jornalopcao com br



















