terça-feira, 8 de julho de 2025

Do analógico ao Digital: como a tecnologia está revolucionando o cinema

Artigo compartilhado do site TERRA, de 14 de dezembro de 2016

Do analógico ao Digital: como a tecnologia está revolucionando o cinema

Tendências do setor de tecnologia para cinemas são apresentadas por Ricardo Ferrari, executivo da multinacional Barco

Não foram só as poltronas que ficaram mais confortáveis e os ingressos eletrônicos. Por trás das telas o cinema, com seus mais de 117 anos, evoluiu muito. Da química ao elétrico, o tradicional processo fotoquímico aplicado às películas de 35 mm por quase um século, foi substituído por um moderno processo fotoelétrico, em que a luz é transformada em eletricidade e codificada em fileiras de zero e um. Chegaram os efeitos especiais, que custam milhões aos estúdios, marcando o início da era digital nos cinemas, com filmes exibidos em altíssima resolução, em 2D ou 3D.

No Brasil, temos um parque exibidor com cerca de 3,1 mil salas, das quais 2,7 mil já estão digitalizadas. Desde o início dessa década, os cinemas brasileiros se mobilizaram para trocar as antigas películas - aqueles rolos enormes de filme - por arquivos digitais.

Projeção digital

Hoje todos os arquivos são filmados em alta resolução e projetados digitalmente. Considerado um ícone no universo cinematográfico, Avatar foi o primeiro filme que teve uma representação de alta qualidade com tecnologia 3D. Uma verdadeira questão de peso, já que os estúdios impuseram a digitalização, pois queriam substituir os rolos de película, que pesavam cerca de 30 quilos, para reduzir os custos de distribuição. O filme digital hoje é distribuído em leves fitas chamadas DLT. Cada uma armazena até quatro filmes de duas horas de duração.

Conteúdo codificado

A tecnologia digital se consolidou e os fornecedores das películas perderam espaço. O cinema teve então que buscar alternativas para continuar gerando conteúdo seguro contra a pirataria. Isso porque, ao contrário da película, cuja cópia envolve um processo complexo, um filme digital pode ser copiado num simples apertar de botões. Assim, todo filme digital é codificado para evitar a cópia ilegal. Após sair do servidor, ele passa por um decodificador, antes de ser convertido em imagem no projetor.

Programação variada

Nem só de filmes vive o cinema. Além de exibir filmes, as salas digitais também podem projetar qualquer mídia digital, desde um simples DVD até programas ao vivo transmitidos por redes de TV que trabalham com imagens de alta definição. Isso possibilita que as salas sejam usadas como megatelões para grandes eventos esportivos, como por exemplo, a final da liga dos Campeões da UEFA que é exibida há anos nos cinemas, ou apresentações corporativas.

Som imersivo

Sabe a sensação de que no cinema o som está em toda parte? Está mesmo. O áudio nos filmes digitais não é compactado e por isso tem melhor qualidade. Na sala ele é distribuído por diversos alto-falantes: os próximos à tela são usados para os diálogos, os laterais e os do fundo para sons ambientes e o do meio - posicionado no teto e conhecido como woofer - serve para sons mais graves, como por exemplo, o barulho de uma nave espacial decolando.

Projetores a laser

Parece complicado, mas é apenas matemática. Os equipamentos a laser têm baixo custo de propriedade em relação aos que usam lâmpadas xênon, funcionam por mais de 40 mil horas, e economizam cerca de 40% de energia elétrica.

As inovações na indústria cinematográfica trazem economia, então são muito bem-vindas. Ainda mais se trazem recursos que os cinéfilos adoram! Para eles, produções filmadas com tecnologias 4K ganharão cada vez mais espaços nas salas de cinema do mundo todo. É bom que as telonas estejam preparadas, pois o futuro chegou!

*Ricardo Ferrari é diretor da Barco, líder mundial em cinema digital

Texto reproduzido do site: www terra com br

domingo, 6 de julho de 2025

Ofício em extinção - Os últimos projecionistas de filmes em película do Paraná...

Francisco Amâncio da Silva e Élio Borges, dois do três últimos 
projecionistas de cinema em película do Paraná.




Fotos: Cido Marques

Artgo compartilhado do site CURITIBA PR GOV, de 9 de junho de 2025 

Ofício em extinção - Os últimos projecionistas de filmes em película do Paraná estão na Cinemateca de Curitiba

Três funcionários da Fundação Cultural de Curitiba mantêm vivo um ofício em extinção. Eles são os últimos projecionistas em atividade na capital paranaense e, possivelmente, no Estado, que ainda dominam a arte de exibir filmes em película.

Programação especial traz histórias e leituras de contos de Dalton Trevisan, o vampiro de Curitiba

Banda Urucum apresenta fusão de jazz e ritmos afro-brasileiros

Élio Borges, Valdenício Pereira da Silveira e Francisco Amâncio da Silva trabalham na Cinemateca de Curitiba, única sala de cinema no Paraná que ainda realiza sessões de filmes com projeções em película 35 mm e 16 mm. Mais que técnicos, eles são guardiões da memória cinematográfica e apaixonados por um ofício que caminha para o fim.  

Os três começaram a carreira quase na mesma época e têm, em média, 40 anos de atividade profissional. Nas últimas décadas, com a digitalização do audiovisual, a projeção em película foi sendo gradualmente substituída por tecnologias mais ágeis e automatizadas, mas isso não intimida os técnicos da Cinemateca.

Histórias projetadas na vida

Valdenício Pereira da Silveira começou cedo, aos 17 anos, escondido em uma cabine de cinema na cidade de Sete Quedas, no Mato Grosso do Sul. “Eu tinha que ficar escondido porque era menor de idade”, lembra. Anos depois, já em Curitiba, foi indicado para trabalhar no Cine Luz, cinema de rua da Fundação Cultural. 

Para ele, o ofício é mais que uma profissão. 

“É como se eu estivesse fazendo o público sentir aquelas emoções (dos filmes). Isso é um dos motivos de eu continuar até hoje”, conta Valdenício.

Valdeníco Pereira da Silveira, projecionista. 

A busca por uma vaga de porteiro no antigo Cine Vitória, em Curitiba, no início de 1980, levou Francisco Amâncio para as cabines de projeção. Depois, passou por outros cinemas da cidade, onde aprendeu a projetar filmes na prática, isso antes de chegar à FCC, em 1985. “Um dia, o técnico olhou e disse que minhas emendas estavam melhores que as dele”, orgulha-se Chico. 

Ao longo de mais de 40 anos de profissão, Chico passou por diversos cinemas da cidade e testemunhou a transformação da projeção analógica para a digital. Trabalhou no Cine Luz, no Ritz, na Cinemateca e em salas de bairro, cuidando de cada filme como se fosse joia. 

“Eu digo que me casei com o cinema aos 18 anos. E até hoje não pedi separação”, brinca Francisco. 

Francisco Amâncio da Silva, projecionista.

Dos cinemas de rua para a FCC

“Projetar não se aprende em sala de aula. É prática, repetição, tato”, resume Élio Borges, que, por sua vez, está na Cinemateca desde 1981. Passou por cinemas de rua da cidade como o Lido, o Condor e o Plaza, até se fixar na Fundação Cultural de Curitiba.

Técnico e projecionista, Élio é também o responsável pela manutenção dos projetores da Cinemateca de Curitiba. “Trabalho com Super 8, 16 e 35mm. Aqui tudo ainda funciona e acho importante manter, porque a película tem mais textura, dá mais qualidade que o digital. Tem público que prefere", defende. 

Élio Borges, técnico e projecionista.

Para esses profissionais, cada sessão carrega uma história. Élio recorda, rindo, de quando cortou um filme por engano, deixando um trecho de Popeye no início de um suspense. “Foi um susto e uma gargalhada coletiva”, diz o projecionista.

Outras histórias, como a sessão gratuita de Natal que Francisco improvisou após o funcionário da bilheteria não aparecer, revelam o compromisso com o cinema e com o público. “Abrir as portas e dizer ‘hoje o cinema é por nossa conta’, move a gente,” releva Chico.

A última cabine

Com o avanço do digital, a profissão desapareceu dos cinemas comerciais. “O digital é prático, você recebe o filme por HD, monta a playlist e o projetor liga sozinho. Controlo tudo pelo celular”, explica Valdenício, que atualmente trabalha no Cine Guarani, no Portão Cultural. 

Apesar das diferenças tecnológicas, a essência permanece. “O importante é fazer o filme acontecer para o público, isso exige cuidado, seja na emenda da película ou na configuração do projetor digital”, completa Francisco, que está aprendendo a operar o projetor digital recém-chegado à Cinemateca de Curitiba. 

Atualmente, todas as salas de cinema da Fundação Cultural de Curitiba (Cine Passeio, Cine Guarani, Teatro da Vila e Cinemateca) têm projetores com tecnologia DPC, o padrão mundial de distribuição e exibição de filmes digitais, com alta qualidade de imagem e som.  

Texto e imagens reproduzidos do site: www curitiba pr gov br

sexta-feira, 7 de março de 2025

"O Drama da Projeção", por Maria Silvia Camargo

Artigo compartilhado do site CRÍTICOS, de 20 de fevereiro de 2013

O DRAMA DA PROJEÇÃO

Por Maria Silvia Camargo

Um relato pessoal do suplício que tem sido ir ao cinema no Rio de Janeiro, por conta de problemas na exibição.

Trata-se de um fim de festa. Em 31 de janeiro deste ano o Minc anunciou que os cinemas administrados por empresas brasileiras finalmente entrariam no século XXI e serão todos digitalizados. Ufa. Realmente: as cabines de projeção continuam no século passado, para prejuízo do espectador. Mas não se trata só de trocar de equipamento. Se os exibidores nacionais querem continuar competitivos será preciso muito investimento.

Sou fiel a uma sala de cinema. Tenho tudo: DVD, blue-ray, ar condicionado e tudo o mais. Mas aquela sala escura, o encontro no saguão antes de entrarmos... é diferente. Cresci assim e frequento o cinema pouco mais que a média da maioria dos moradores da ZS do Rio, onde vivo. Procuro ir uma vez por semana (ou a cada 10 dias) desde 1978. Façam os cálculos. Óbvio que sofre-se muito. A cada três filmes encontro uma projeção ruim, uma média e uma boa. Nem reclamo quando a exibição é mais ou menos, o olho já acostumou. Mas me dou ao trabalho de levantar falar com o gerente ou o projecionista quando ele erra a janela e o microfone vaza ou o filme pára ou fica sem som muito tempo.

Também, por ser jornalista, tenho um pouco mais de informação sobre o que se passa no setor. Sei que projetar filmes é uma profissão que se aprende na prática e paga mal; sei que a cada Festival os projecionistas têm que se virar com máquinas alugadas de todos os tipos de tecnologia; entendo um pouco a equação preço do ingresso X aluguel de salas etc. etc. mas se o Minc vai investir em digital, que se criem recursos para que o exibidor pague melhor o projecionista e o treine. Invista em gente que possa receber aí filmes com captação de som direto; digitais; assim como também em 35mm. Não entendo de tecnologia, só sei pedir, como espectadora: preparem-se para o futuro. A captação de filmes está mudando, é feita de várias formas, então a mentalidade de quem tem sala de cinema têm que mudar também. Se o cinema vai conviver com todas as outras mídias – e eu sei que vai – é preciso que ele se renove.

Aqui no Rio de Janeiro, para quem mora na Zona Sul e não quer ir longe para assistir a um filme, a coisa está difícil. Fiz um pequeno diário este verão das sessões que fui ou a que amigos foram. Vale notar que não frequentei só cadeias de empresários nacionais.

Quarta, 16 de janeiro. Argo , na sala 3 do Estação Rio 3. A projeção parou duas vezes pois não havia som. Quando ele entrava, estava baixo.

Quinta, 17 de janeiro. O Som ao Redor. Não lembro a sala, Unibanco Arteplex. Projeção boa.

Sexta, 18 de janeiro. Amor, sala 2 do Estação Sesc Ipanema. Projeção boa.

Domingo, 3 de fevereiro. Os Miseráveis, sala 6 do Unibanco Arteplex. Cinema lotadíssimo, filme recém estreado.  Projeção com manchas lilases na tela e som chiado.

Quarta, 6 de fevereiro. O Lado Bom da Vida, sala 2 do Cinépolis Lagoon. Filme super escuro! Falamos com o projecionista, ele se desculpou pois o projetor estava com uma luz queimada. E assim ficou.

Sábado, 16 de fevereiro. As Sessões. Sala 3 do Vivo Gávea. Som ruim. O som desta sala é sempre sofrível ao contrário da sala 5 do mesmo cinema, que é bem melhor. Vai saber.

Sábado, 16 de fevereiro. Nota de Rodapé. Sala 3 do Estação Rio 3. Projeção com pulos de imagem.

São só uns poucos exemplos. Vale que o leitor escreva para fazer sua reclamação ou elogio. Vamos ampliar a discussão. Vamos fazer valer o que pagamos pelo ingresso.

Texto reproduzido do site: criticos com br

 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Projetores Cinematográficos tombados



Imagem: Prefeitura Municipal

Os Projetores Cinematográficos foram tombados pela Prefeitura Municipal de Guaranésia-MG por sua importância cultural para a cidade.

Prefeitura Municipal de Guaranésia-MG

Nome atribuído: Projetores Cinematográficos

Localização: Centro Cultural “Professora Fernandina Tavares Paes” – Praça Cel. Paula Ribeiro, nº 46 – Guaranésia-MG

Decreto de Tombamento:Decreto n° 1088/2003

Descrição: Os dois projetores de 35 mm, cujos números são respectivamente 199 e 200 da série 2, foram produzidos pela Empresa Cinematográfica Triumpho Canteruccio & Lamanna, da cidade de São Paulo – SP, a Rua do Triunfo, 134, em 1952.

A referida empresa teve início em agosto de 1939 e encerrou suas atividades em 1979.

Os projetores foram trazidos para Guaranésia pela Empresa Cinematográfica São Paulo Minas (atualmente extinta) em 1958 e o filme de estréia exibido pelo projetor foi “Corcunda de Notre Dame” na inauguração do Cine São José em 1958.

Em 1986, a Prefeitura Municipal de Guaranésia desapropriou o cinema e os projetores.

Em 1988, o Cine São José foi reformado e então inaugurado o Centro Cultural Professora Fernandina Tavares Paes e os projetores passaram a pertencer ao Centro Cultural. Em 1989, o cinema foi arrendado, até meados de 1999.

O cinema sempre esteve presente na vida dos Guaranesianos desde o início do século passado, primeiramente com o Cine Teatro Rio Branco, de propriedade de Lauria & Irmãos que funcionou até 1957, depois com o Cine Rex e finalmente com o Cine São José, ao qual pertenceram os projetores.

Os Projetores Cinematográficos do Centro Cultural eram considerados os melhores da época em 1958, pois durante a exibição o filme não era interrompido pela troca dos rolos, fato que era comum nas salas de projeção das décadas anteriores.

Até hoje, os projetores nunca tiveram defeito nem passaram por intervenções para concertos ou troca de peças. Muitos foram os casais que se conheceram assistindo aos filmes projetados no glorioso Cine São José.

Atualmente, o cinema com películas está desativado, e a sala de projeções fica somente para visitas de interessados que querem conhecer estas maravilhosas máquinas com lente de 35 mm, cujos números são 199 e 200 e série 2 da Empresa Cinematográfica Triunpho Canteruccio & Lamanna, que datam de meados do século XX.

Fonte: Prefeitura Municipal.

BENS TOMBADOS RELACIONADOS:

Guaranésia – Centro Cultural Profa. Fernandina Tavares Paes

Histórico do município: No início do século XIX, o Rio Canoas, que banha o município de Guaranésia, era conhecido como rio das Capivaras, por causa da grande quantidade existente desse animal em suas águas. Nessa época, às margens do rio, foi construído um rancho onde se estabeleceu o proprietário José Maria Ilhoa, conhecido pelo apelido de Canoas. Em função desse apelido, o curso d′água passou a ser chamado Rio do Canoas. O proprietário das terras construiu uma capela em homenagem à Santa Bárbara, ao redor da qual surgiu um povoado, conhecido pelo nome de Santa Bárbara das Canoas.

O povoado de Santa Bárbara das Canoas foi elevado à categoria de distrito, subordinado ao município de Jacuí, em 1839. Após 34 anos, a localidade foi elevada a cidade, com o nome de Guaranésia, em 1901. Essa denominação deriva do tupi-guarani e significa pássaro da ilha.

Fonte: Prefeitura Municipal.

Texto e imagens reproduzidos do site: www ipatrimonio org

Projetista de um cinema em Ontário, Canadá (1970)


The Way We Were

Ícone do r/TheWayWeWere

Meu avô na cabine do projetista de um cinema em Ontário, Canadá - início dos anos 1970

'Naquela época, só passava um filme, mas você tinha a opção de assistir às 19h ou às 21h (ou durante as matinês de fim de semana à tarde, se você quisesse). Você podia fumar na varanda ou nas últimas 15 fileiras do andar principal do auditório e geralmente assistia a um ou dois desenhos animados antes do filme principal começar.

Havia dois projetores na cabine e os filmes eram divididos em vários rolos. O projetista alternava entre os dois projetores em um ponto no tempo que era indicado por pequenas marcas que eles faziam no canto superior direito do filme. Quando a primeira marca aparecia na tela, o projetista ligava o segundo projetor e o deixava funcionar em conjunto com o primeiro. A segunda marca indicava quando ele deveria mudar para o segundo projetor e o novo rolo seria exibido na tela'.

Texto e imagem reproduzidos do site:  www reddit com

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

A paixão escondida nas cabines das salas de cinema

Cid Linhares ao lado de um projetor a carvão em 1969
 
José Basílio ao lado de sua grande paixão

Cid Linhares revisando um filme 35mm

Artigo compartilhado do site da REVISTA GILDA, de 14 de junho de 2012

A paixão escondida nas cabines das salas de cinema

         Escondidos nas cabines, atrás dos projetores das salas multiplex, cinemas de rua, cineclubes ou cinematecas, estão os responsáveis por proporcionar os momentos emocionantes e mágicos que os filmes exibidos na grande tela nos trazem. Os projecionistas, na maioria das vezes esquecidos pelos frequentadores de cinema ,encaram seu ofício não como um trabalho, mas sim como uma verdadeira paixão, são eles que colocam e montam o filme no projetor, descem para conferir o som, controlam o foco e a luz.

          Com 62 anos de idade e 30 destes trabalhando como projecionista, José Basílio desde criança já sabia o que queria “ser quando crescer”. Aos 9 anos quando foi ao cinema com seu tio, o pequeno menino perguntou a ele: “O que tem dentro daquela cabine? E seu tio respondeu: É a pessoa que passa os filmes”. E desde então descobriu uma paixão intensa pelo cinema e o que seria mais tarde sua profissão.

         Ele estudou até a 5ª série do ensino fundamental e com18 anos foi servir ao exército no estado de Santa Catarina. Foi então que tudo começou, passou a freqüentar aulas de projeção e no terceiro dia, seu professor não compareceu. Então o sargento perguntou se o “milico daria conta do recado”. “Ajoelhei no chão e pedi a Deus que me ajudasse. E foi o que aconteceu tudo deu certo e eles gostaram tanto da projeção, que ao invés de cobrarem para me ensinarem, pagaram para que eu fosse o novo projecionista”, relembra Basílio.

  Quando veio para Curitiba leu no jornal que havia uma vaga de operador de cinema, era a empresa Vitória Cinematográfica quem que estava contratando, conquistou a vaga e assim trabalhou por 25 anos. Durante todos esses anos já cuidou de até 10 salas de cinema, ajudou muitos cinemas de bairro, projetou filmes em escolas, e também ajudou na Fundação Cultural de Curitiba.

           Há um ano está no Cineplex do Shopping Novo Batel e conta que sua paixão pelo cinema é tão grande que chega todos os dias mais cedo para assistir aos filmes sozinho. “Não gosto dos meus dias de folga, pois não posso assistir aos filmes em tela grande”, relata José. Basílio acredita que infelizmente essa profissão irá acabar, pelo fato dos filmes digitais serem mais práticos, mas afirma que eles não tem a mesma imagem e o som dos filmes projetados.

Cid Linhares, 60 anos, trabalha como projecionista desde 1968, e quando criança ia ao cinema e adorava. Linhares trabalhou em muitos cinemas, mas sempre sem registro. Quando um cinema fazia uma proposta financeira melhor, mudava de emprego e assim seguiu durante um bom tempo, trabalhando onde o pagassem melhor. Com 17 anos foi preso porque era menor de idade e trabalhava sem registro no Cine Flórida.

Quando questionado sobre o sentimento em relação à sua profissão, Cid revela que antigamente a profissão e o cinema fascinavam mais, pois a forma como o filme era projetado dava mais trabalho e exigia uma atenção maior. “Muitas mudanças ocorreram, como a introdução da luz nas projeções. Hoje em dia não é mais necessário revisar um filme, tudo vêm pronto e bem feito. Não é mais necessário ter um profissional que entenda de projeção. Quem trabalha nas grandes salas de cinema apenas coloca o DVD no aparelho e aperta play, nada mais”, desabafa Cid.

Porém admite que o cinema será sempre sua grande paixão e que sente-se realizado ao ver o cinema cheio e ter a responsabilidade de passar um filme que vai agradar ao público. “Não importa que eles não me vejam, gosto de ficar escondido na cabine, mas é incrível projetar o filme para um cinema lotado. A vida do projecionista é só dentro da cabine, é como ficar numa prisão. Faço o café, fumo e projeto. Mas amo isso, amo minha profissão”, declara Linhares. Quanto às novas tecnologias Cid esbraveja “não quero nem aprender a mexer”.

Desde os 20 anos de idade Jorge Luiz de Souza substituía o operador do cinema do qual seu pai era dono e durante duas décadas foi o projecionista do Cine Morgenau.  “Eu estive desde pequeno dentro do cinema, meu pai era apaixonado por cinema eu sempre estava com ele. A projeção acabou se tornando minha profissão e minha paixão”, destaca o projecionista.

Jorge relembra que os projetores suportavam apenas um rolo, mas para exibir um filme era necessário utilizar pilhas de rolos. “Sempre tinham duas máquinas e cada rolo de fita possuía 40 minutos, por isso precisava cuidar para realizar a troca durante a projeção do filme”, relata Jorge.

Jorge conta que as máquinas funcionavam com dois carvões em forma de lápis, que eram colocados na lateral esquerda e na frente do projetor para refletir a luminosidade na tela. Como era necessário ficar atento a diversos detalhes, precisava-se de um ajudante. "Hoje já não tem mais o trabalho todo que tinha antigamente, a fita hoje é mais resistente não arrebenta fácil, não exige o mesmo cuidado", declara o projecionista.

Se será extinta ou não a profissão de projetistas ou operadores, como era chamada antigamente, somente o tempo irá responder. Porém o amor declarado ao cinema por esses profissionais, certamente não corre o risco de acabar.

Produção: Agência Imaginário
Texto: Aline Przybysewski, Ana Evelyn de Almeida, Etiene Mandello, Lucas Molinari e Rosane Cadena
Edição: Aline Przybysewski
Imagem: Etiene Mandello e Rosane Cadena

Texto e imagens reproduzisoa do site: revistagilda blogspot com

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Memórias das primeiras salas de cinema caldenses...

Legenda da foto: Está patente no Museu do Ciclismo uma exposição sobre as duas salas de cinema mais antigas das Caldas: o Salão Ibéria, no Parque D. Carlos I, e o Cine-Teatro Pinheiro Chagas, na praça 5 de outubro, ambos demolidos.

Artigo compartilhado do JORNAL DAS CALDAS, de 7 de maio de 2023

Memórias das primeiras salas de cinema caldenses expostas no Museu do Ciclismo

Por Pedro Antunes

Com o título, “(Re)Viver as Desaparecidas Salas de Cinema caldenses”, a mostra foi inaugurada a 29 de abril e apresenta uma parte do espólio do colecionador Mário Lino, e do seu filho, também Mário.

Desde os 11 anos, em 1958, Mário Lino começou a colecionar artigos relacionados com o cinema porque o pai tinha vários panfletos de filmes exibidos nas Caldas guardados numa gaveta. Quando foi cumprir o serviço militar obrigatório, perdeu esse hábito e quando regressou às Caldas começou a fazer colecionismo sobre o ciclismo. Foi esta coleção que viria a dar origem ao Museu do Ciclismo.

Por casualidade, muitos anos depois, o então diretor do Museu José Malhoa, Paulo Henriques, lamentou-se junto de Mário Lino o facto de não ter sido guardado nenhum do material do Salão Ibéria. Nessa altura, o colecionador informou-o de que tinha muito material relativo a esse espaço que tinha sido demolido. Quando foi ver, Paulo Henriques ficou impressionado com o acervo.

Foi nessa altura, há 25 anos, que fez a primeira exposição, com vários panfletos e bilhetes do Salão Ibéria, no Museu do Hospital. O sucesso foi tal que Mário Lino recomeçou a sua coleção e desde então esta tem crescido, com cartazes, antigas máquinas de cinema, bobines de filmes e cadeiras antigas das salas, entre muitos outros artigos.

Estão também expostas muitas fotografias, programas de espetáculos, notícias antigas e outros elementos relativos ao Salão Ibéria e ao Cine-Teatro Pinheiro Chagas. São vários os painéis que contam toda essa história dos tempos áureos das salas de cinema caldenses. Há filmes que foram grandes êxitos também nas Caldas, como “A Severa” e “E Tudo o Vento Levou”, e que marcaram a vida da cidade.

Segundo o colecionador, para além do que está exposto, tem ainda várias caixas cheias de material. “Esta é uma pequena mostra de tudo aquilo que existe”, sublinhou.

Em 1997, o JORNAL DAS CALDAS noticiou pela primeira vez esta paixão de Mário Lino, a propósito de uma brochura que editou sobre o Salão Ibéria e o Cine-Teatro Pinheiro Chagas. A notícia faz parte desta exposição, que inclui vários recortes da imprensa local sobre a história dos cinemas nas Caldas da Rainha.

Em 2020, também no museu do Ciclismo, Mário Lino já tinha apresentado parte desta coleção, mas reforçou-a com algumas novidades. Por exemplo, pode ser vista uma notícia de 1905, que anunciou a estreia de uma “peça cinematográfica”, intitulada “Barba Azul”, nos Pavilhões do Parque, exibida num cinematógrafo.

Mário Lino está em conversações com a Câmara das Caldas para protocolar a cedência do seu espólio dedicado ao cinema e gostava que fosse criado um museu dedicado à história das Caldas no século XX, onde todo o material pudesse estar exposto.

Vitor Marques, presidente da Câmara das Caldas, elogiou o trabalho que o Museu do Ciclismo tem realizado e mostrou a sua satisfação por mais uma exposição apresentada. O autarca mostrou disponibilidade para arranjar condições para que esta coleção se mantenha nas Caldas e exposta em condições dignas. 

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldascaldas pt

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Era do cinema analógico chega ao fim depois de 125 anos

Artigo compartilhado do site FILMES E SEED, de 10 de maio de 2012

Era do cinema analógico chega ao fim depois de 125 anos

A invenção do rolo de celuloide deu início à história da imagem em movimento. Hoje, 125 anos mais tarde, chega ao fim a era da projeção analógica. E até as pequenas salas de cinema se curvam à tecnologia digital.

Oliver Hauschke, projecionista de um cineclube em Colônia, no oeste alemão, trabalha há 15 anos no setor, projetando em média 14 filmes por dia. Um trabalho árduo. "O filme é enviado em uma lata, dentro da qual ficam guardadas as partes do rolo de filme. Temos que 'colar' essas partes umas nas outras. Só para isso precisamos de uma hora", conta Hauschke.

Apertar o play

Já nas salas multiplex de cinema, a projeção digital já é padrão. No Cinenova, onde Hauschke trabalha, a nova tecnologia só foi inserida há pouco. Em uma das três salas do cineclube, os filmes terão projeção digital, sem os rolos de filme. Todos os procedimentos manuais tornaram-se supérfluos desde a inserção da tecnologia digital. Hauschke confessa sua satisfação e diz não ter problemas em se despedir dos velhos rolos de filme.

Já a projecionista e cineasta iniciante Nicole Wegner vê a coisa com outros olhos. Ela adora usar o equipamento antigo. "É ótimo ligar um projetor. Aí ele começa a crepitar e a luz se acende. É lindo. Agora, com a tecnologia digital, meu trabalho não é mais tão agradável", diz ela. Com a projeção digital, o filme chega em um disco rígido ou em forma de arquivo no servidor, que por sua vez está ligado ao projetor. O projecionista não tem muito o que fazer.

"É preciso apenas apertar o play e pronto. Tudo acontece automaticamente: as cortinas se abrem, a luz se apaga, o projetor é ligado e o filme começa. No final, tudo funciona automaticamente de novo, no sentido oposto", descreve Wegner.

A eterna rotina de colocar e tirar filmes, cortar e separar deixa os dedos sujos, relata Hauschke. Ele não tem mais vontade de trabalhar desta forma.

Já para Nicole Wegner, a profissão de projecionista sempre foi um ofício artesanal que, como todos os outros, deixa as mãos sujas. Mas ela também vê as vantagens da nova tecnologia. "Não poderia ter feito meu último filme se tivesse sido obrigada a rodar analogicamente. Eu tinha 80 horas de material bruto. Revelar isso tudo não seria praticável do ponto de vista financeiro", analisa a projecionista e cineasta.

"Queremos uma imagem perfeita?"

A fase de testes com o projetor digital no Cinenova, onde Hauschke e Wegner trabalham, transcorreu sem maiores problemas. "Foi ótimo quando pude testar a nova tecnologia pela primeira vez", conta Hauschke. Ele está absolutamente convencido da qualidade da projeção digital.

"A imagem é mais nítida que no rolo de 35 milímetros. E posso passar o filme várias vezes, sem que ele fique gasto. O rolo de filme vai ganhando riscos com as projeções frequentes e ficando mais opaco", fala o projecionista.

Já Wegner se pergunta se isso incomoda, de fato, o espectador: "Queremos uma imagem perfeita? Gosto da imagem que respira, da imperfeição dentro dela, quando o filme encalha, porque ali as partes foram coladas".

Os primórdios dos rolos de filme

A sujeira dos dedos dos projecionistas do futuro não teve ter sido algo em que o religioso norte-americano Hannibal Goodwin, que patenteou o celuloide há 125 anos, em 1887, tenha pensado. Sua invenção na época significou uma revolução, uma vez que as imagens, antes, só podiam ser gravadas em lâminas de vidro sensíveis à luz. Com o advento do celuloide, o filme se tornou praticamente infinito, já que passou a ser possível colar quantos filmes se quisesse uns nos outros. A sequência de 24 quadros por segundo é o que o olho humano registra como uma imagem fluida.

Mas foi o empresário George Eastman que conseguiu comercializar o celuloide de maneira bem-sucedida. O fundador da Kodak tornou a câmera com rolo de filme de celuloide acessível a qualquer pessoa. Em 1888, ele lançava no mercado a Kodak N°1 – câmera fotográfica compacta e leve. No entanto, o celuloide provou ser altamente explosivo e não foi mais usado desde os anos 1950. Desde então, passou-se a usar o rolo de filme de poliéster.

Peça de museu

A falência da Kodak no início deste ano foi o início do fim do filme de rolo. Embora haja até hoje filmes rodados em película de 35mm, a pós-produção é feita há anos com tecnologia digital. Grandes produções, como Avatar ou O Hobbit, são filmadas exclusivamente com uso de tecnologia digital.

Os distribuidores são os que obtêm mais vantagens com a digitalização do cinema, pois economizam os altos custos das cópias e do transporte de rolos de filme, que podem pesar até 25 quilos. Por outro lado, as salas de cinema são obrigadas a arcar com os custos da adaptação à tecnologia digital. Um projetor novo custa entre 60 e 80 mil euros.

Os pequenos cineclubes não têm, porém, alternativa. Daqui a pouco, os rolos de filme convencionais irão se extinguir. E a profissão do projecionista vai se tornar cada vez mais dispensável. Hauschke já teve sua carga horária reduzida e está pensando em encontrar outra profissão. Já Wegner quer continuar fazendo e projetando filmes – de preferência analógicos.

Autora: Silke Wünsch (sv)

Revisão: Francis França

Notícia publicada no site Deutsche Welle - Legal Notice. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade do autor.

Texto reproduzido do site: www filmes seed pr gov br