Cid Linhares ao lado de um projetor a carvão em 1969
José Basílio ao lado de sua grande paixão
Cid Linhares revisando um filme 35mm
Artigo compartilhado do site da REVISTA GILDA, de 14 de junho de 2012
A paixão escondida nas cabines das salas de cinema
Escondidos nas cabines, atrás dos projetores das salas multiplex, cinemas de rua, cineclubes ou cinematecas, estão os responsáveis por proporcionar os momentos emocionantes e mágicos que os filmes exibidos na grande tela nos trazem. Os projecionistas, na maioria das vezes esquecidos pelos frequentadores de cinema ,encaram seu ofício não como um trabalho, mas sim como uma verdadeira paixão, são eles que colocam e montam o filme no projetor, descem para conferir o som, controlam o foco e a luz.
Com 62 anos de idade e 30 destes trabalhando como projecionista, José Basílio desde criança já sabia o que queria “ser quando crescer”. Aos 9 anos quando foi ao cinema com seu tio, o pequeno menino perguntou a ele: “O que tem dentro daquela cabine? E seu tio respondeu: É a pessoa que passa os filmes”. E desde então descobriu uma paixão intensa pelo cinema e o que seria mais tarde sua profissão.
Ele estudou até a 5ª série do ensino fundamental e com18 anos foi servir ao exército no estado de Santa Catarina. Foi então que tudo começou, passou a freqüentar aulas de projeção e no terceiro dia, seu professor não compareceu. Então o sargento perguntou se o “milico daria conta do recado”. “Ajoelhei no chão e pedi a Deus que me ajudasse. E foi o que aconteceu tudo deu certo e eles gostaram tanto da projeção, que ao invés de cobrarem para me ensinarem, pagaram para que eu fosse o novo projecionista”, relembra Basílio.
Quando veio para Curitiba leu no jornal que havia uma vaga de operador de cinema, era a empresa Vitória Cinematográfica quem que estava contratando, conquistou a vaga e assim trabalhou por 25 anos. Durante todos esses anos já cuidou de até 10 salas de cinema, ajudou muitos cinemas de bairro, projetou filmes em escolas, e também ajudou na Fundação Cultural de Curitiba.
Há um ano está no Cineplex do Shopping Novo Batel e conta que sua paixão pelo cinema é tão grande que chega todos os dias mais cedo para assistir aos filmes sozinho. “Não gosto dos meus dias de folga, pois não posso assistir aos filmes em tela grande”, relata José. Basílio acredita que infelizmente essa profissão irá acabar, pelo fato dos filmes digitais serem mais práticos, mas afirma que eles não tem a mesma imagem e o som dos filmes projetados.
Cid Linhares, 60 anos, trabalha como projecionista desde 1968, e quando criança ia ao cinema e adorava. Linhares trabalhou em muitos cinemas, mas sempre sem registro. Quando um cinema fazia uma proposta financeira melhor, mudava de emprego e assim seguiu durante um bom tempo, trabalhando onde o pagassem melhor. Com 17 anos foi preso porque era menor de idade e trabalhava sem registro no Cine Flórida.
Quando questionado sobre o sentimento em relação à sua profissão, Cid revela que antigamente a profissão e o cinema fascinavam mais, pois a forma como o filme era projetado dava mais trabalho e exigia uma atenção maior. “Muitas mudanças ocorreram, como a introdução da luz nas projeções. Hoje em dia não é mais necessário revisar um filme, tudo vêm pronto e bem feito. Não é mais necessário ter um profissional que entenda de projeção. Quem trabalha nas grandes salas de cinema apenas coloca o DVD no aparelho e aperta play, nada mais”, desabafa Cid.
Porém admite que o cinema será sempre sua grande paixão e que sente-se realizado ao ver o cinema cheio e ter a responsabilidade de passar um filme que vai agradar ao público. “Não importa que eles não me vejam, gosto de ficar escondido na cabine, mas é incrível projetar o filme para um cinema lotado. A vida do projecionista é só dentro da cabine, é como ficar numa prisão. Faço o café, fumo e projeto. Mas amo isso, amo minha profissão”, declara Linhares. Quanto às novas tecnologias Cid esbraveja “não quero nem aprender a mexer”.
Desde os 20 anos de idade Jorge Luiz de Souza substituía o operador do cinema do qual seu pai era dono e durante duas décadas foi o projecionista do Cine Morgenau. “Eu estive desde pequeno dentro do cinema, meu pai era apaixonado por cinema eu sempre estava com ele. A projeção acabou se tornando minha profissão e minha paixão”, destaca o projecionista.
Jorge relembra que os projetores suportavam apenas um rolo, mas para exibir um filme era necessário utilizar pilhas de rolos. “Sempre tinham duas máquinas e cada rolo de fita possuía 40 minutos, por isso precisava cuidar para realizar a troca durante a projeção do filme”, relata Jorge.
Jorge conta que as máquinas funcionavam com dois carvões em forma de lápis, que eram colocados na lateral esquerda e na frente do projetor para refletir a luminosidade na tela. Como era necessário ficar atento a diversos detalhes, precisava-se de um ajudante. "Hoje já não tem mais o trabalho todo que tinha antigamente, a fita hoje é mais resistente não arrebenta fácil, não exige o mesmo cuidado", declara o projecionista.
Se será extinta ou não a profissão de projetistas ou operadores, como era chamada antigamente, somente o tempo irá responder. Porém o amor declarado ao cinema por esses profissionais, certamente não corre o risco de acabar.
Produção: Agência Imaginário
Texto: Aline Przybysewski, Ana Evelyn de Almeida, Etiene Mandello, Lucas Molinari e Rosane Cadena
Edição: Aline Przybysewski
Imagem: Etiene Mandello e Rosane Cadena
Texto e imagens reproduzisoa do site: revistagilda blogspot com
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