Fotos: Andréa Almeida/NE10
Publicado em 01.05.2011 no NE10
Por Andréa Almeida
O tamanho da tela de exibição, a magia das imagens e a
beleza da sétima arte. Tópicos esses que fluem inspirações adversas em Luiz
José Ferreira desde a década de 70, quando ainda era jovem e já convidava os
amigos para mini-sessões caseiras de cinema, com preferências por filmes de
ação. Comportamentos que assinavam sua carteirinha de “cinéfilo”. Hoje, o
quadro tem maiores proporções. Dos 61 anos de Luiz Ferreira, 30 são dedicados à
paixão pelo audiovisual, entre inaugurações e encerramentos de mais de 13
cinemas, pornôs.
“Por opção, eu não trabalharia com o mercado de pornografias,
mas já tentei de todas as formas e o que mantém as salas abertas é isso,
infelizmente”, se conforma Ferreira, ao ser questionado pela escolha. Quebrando
paradigmas, tabus e preconceitos, ele se enquadra na sociedade alternativa dos
chamados “inferninhos” do Centro do Recife. O dono do Cine Sex Imperador, n°
452, no bairro da Boa Vista, aderiu a ideia de deixar as pessoas mais “à
vontade”.
Julho de 1980. Nascido em Vitória de Santo Antão, Zona da
Mata de Pernambuco, Ferreira sempre achou a cidade pequena demais para tantas
possibilidades. Pois, então, alugou uma casa em Bonito com o propósito de
montar seu primeiro cinema. “Meu pai, que morava na cidade, organizou as
cadeiras, chamou a vizinhança, cobrou os ingressos e deixou tudo pronto”, lembrou.
Na ocasião, Ferreira teve que se deslocar para o Recife, a
fim de comprar um projetor, mesmo que usado, de 16 mm. Em meio a imprevistos,
ele acabou chegando atrasado à inauguração, “Deu tudo errado nesse dia. Só
meia-dúzia de pessoas me esperaram, o projetor deu problema, e a sessão foi um
fracasso”. Após o acontecimento o rapaz não desanimou. Comprou outro
equipamento, e o Cine Bonito se firmou no local durante 10 meses, nos finais de
semana.
A partir desse episódio, as projeções circularam por dezenas
de cidades do interior do Estado, como Gravatá, por exemplo, durante três anos
no Cine Arco-Íris. A programação era a mesma: segunda, terça e quarta-feira,
para maiores de 18 anos, e de quinta a domingo, sem censura, sempre das 19h30
às 21h30. Os filmes oscilavam entre romance, ação, suspense, clássicos, e,
também, sexo explícito.
Encerrando as atividades em Gravatá, era chegada a vez do
Cine Diogo Braga, em Vitória. Em sua cidade natal, Ferreira aproveitou que o
cinema estava para alugar e investiu. Comprou um projetor de 35 mm e lotou as
570 poltronas do local durante 10 anos, de 1984 até 1994, com programação de
sucesso. “Foi uma fase muito boa, mas hoje em dia o lugar serve para comércio”,
disse.
Durante uma reforma que o Cine Diogo Braga teve que passar,
Ferreira comprou novos equipamentos em Arcoverde e abriu um cinema em Bezerros,
chamado Cine Rubi, mas esse não durou muito tempo. Em seguida o cinema de
Vitória voltou a funcionar, mas o rapaz era inquieto. Deixou um amigo tomando
conta e viajou até o Grande Recife procurando onde abrir um novo negócio.
Olinda, 1988. Durante três anos o Cine Guarani foi forte
atração no bairro de Caixa d’Água. Depois disso o público começou a diminuir, e
logo o espaço foi fechado. Ferreira não demorou muito e inaugurou, em 1990, o
Cine Topázio, em Sítio Novo, que só passou três meses funcionando devido à má
localização.
Depois disso, entre 1990 e 1991, Ferreira abriu um cinema em
Maranguape 0 (três meses), na Várzea (três meses), no Ipsep (três meses) e em
Cavaleiro (seis meses), até que o próximo trouxe um bom retorno, em Jaboatão
Centro, que permaneceu “vivo” de 1992 até 1996. Até que no bairro de São José,
Centro do Recife, ele chegou ao auge de sua trajetória, adquirindo o tão
tradicional Cine Glória, em 1994.
Em entrevista à imprensa, Luiz Ferreira declarou que a
programação não traria conteúdos pornográficos, e sim, só “sessões livres”. Ele
alugou o prédio, com térreo e mezanino, e deu início às atividades. Depois de
três semanas, percebeu que o público estava deixando de ir ao cinema, e algumas
pessoas chegavam até a pedir filmes pornôs, já que aquilo pertencia à cultura
da região. Não teve jeito. Ferreira teve que ceder e contrariar a própria
palavra dada aos jornais.
Em 2002, o dono do prédio precisou vender o espaço, e
Ferreira teve que fechar o Cine Glória, mas antes disso, em 1998, o cinéfilo já
procurava outro local por ali por perto, quando encontrou a atual estrutura do
Cine Sex Imperador. Como ele já tinha encerrado o cinema de Jaboatão, ficou só
com um, o mesmo que sobrevive há 13 anos, no bairro da Boa Vista, próximo à
“Praça do Diário”.
O maior público é gay, mas algumas presenças até chegam a
surpreender. Homens e mulheres de todas as idades, pessoas casadas,
descompromissadas, ou à procura de um novo “affair”. Não importa crença ou
classe social, todos estão ali para “liberar tensões”, como Luiz Ferreira mesmo
diz. O cine vende de 150 a 200 ingressos por dia, sendo R$ 8 (inteira) e R$ 4
(meia).
A família de Ferreira dá total apoio às manias
cinematográficas. Marisa Rodrigues, de 38 anos e filha dele, trabalha como
administradora do cinema por enquanto que estuda para concursos, já que é
formada em direito. Ana Cristina, de 56 anos, é a atual esposa, e diz já ter se
acostumado com o trabalho do marido. Os pais já faleceram, mas foram peças
fundamentais para a carreira pornô-artística do filho, Luiz José Ferreira.
Assistam dois vídeos com Luiz José Ferreira
no Blog: PROJETANDO NA TELINHA http://migre.me/dJs4C
Fotos e texto reproduzidos do site: http://migre.me/dJqOi
no Blog: PROJETANDO NA TELINHA http://migre.me/dJs4C
Fotos e texto reproduzidos do site: http://migre.me/dJqOi
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