O
projetor do Cine Yara é uma das principais atrações do Museu de Quixadá.
Majestade sem Trono - Quixadá não possui cinemas. (09/10/2011)
Quixadá - Duvidar das potencialidades cinematográficas de
Quixadá é fechar os olhos diante das enormes telas a exibirem as imagens desta
exótica terra mundo afora. Do drama a comédia as cenas refutam qualquer
questionamento, principalmente quando a Galinha Choca, o Chalé das Pedras e
outras paisagens bem peculiares da “Terra dos Monólitos” estão enquadradas nas
lentes dos cineastas, contracenando com os atores. Entretanto, enquanto na
capital o número de salas se multiplica nos shoppings, nesta cidade apenas o
Cineclube Mestre Adolfo tem semelhança com uma sala de exibição. Mérito dos
amantes da sétima arte nesta região e do esforço da administração pública local
em preservar o hábito secular.
Segundo o pesquisador, historiador e escritor septuagenário
João Eudes Costa, um dos poucos a lembrar detalhes da época áurea do cinema na
cidade, nem sempre foi assim. Algumas décadas atrás Quixadá foi a majestade da
região. Teve três cinemas funcionando ao mesmo tempo. Eram os Cine São José, 13
de Maio e Cine Yara. Uma época onde as exibições cinematográficas eram a
principal diversão. Havia até concorrência entre eles na disputa pelas fitas de
lançamento. O público adorava, principalmente as crianças. A diversão chegava
inclusive aos menos favorecidos economicamente. Quem não possuía muito dinheiro
tinha o “Cine Poeirinha” como opção.
Hoje coordenadora do Museu de Quixadá, a professora Maria
Prima de Souza, lembra da última máquina utilizada no Cine Yara. É uma das
principais atrações daquela casa. Ela procura o outro projetor. O Cine Yara era
o mais luxuoso da cidade e o único a não ter a necessidade das luzes serem
acesas quando havia necessidade de trocar os rolos. Como tinha dois projetores,
em questão de minutos a exibição continuava.
As poltronas eram de madeira e o ambiente refrescado por enormes
ventiladores. Era o principal ponto de encontro da cidade. As sessões lotavam
de estudantes. Todos se arrumavam para ir ao cinema. Quando os filmes
terminavam se reuniam na praça, para paquerar.
O fascínio e a familiaridade de Quixadá com esse tipo de
diversão era tão grande que foi um cego quem fez o primeiro projetor “falar”.
Era Adolfo Lopes da Costa, o Mestre Adolfo. Explica melhor João Eudes Costa: o
padre Luiz Braga Rocha, um dos pioneiros do cinema no Interior do Ceará, havia
adquirido um novo projetor para o Cine Paroquial. Era a principal novidade em
matéria de tecnologia no mundo. A expectativa era grande, pois pela primeira
vez o público teria a oportunidade de ouvir a trilha sonora dos filmes. Mas a
frustração foi grande. Os filmes continuavam mudos. Como a máquina era de
fabricação alemã e o técnico estava demorando o padre recorreu às habilidades
de Mestre Adolfo, pouco tempo depois o problema foi solucionado. “Os filmes
começaram a falar em Quixadá”.
Essa estória ocorreu em meados de 1897 a 1898. Ao tocar a
fita Mestre Adolfo percebeu que apenas um lado dela ficava aquecido quando era
tocada pelo carvão, uma espécie de lâmpada que iluminava e projetava as
imagens. Com o tato sentiu algumas listas, barras contínuas, na outra
extremidade da fita. Com alguns ajustes a película passou a receber de ambos os
lados o calor do carvão. Quando a colocou para funcionar novamente a máquina
começou a falar. Essa foi a explicação do padre para a proeza do habilidoso
artesão ao engenheiro alemão que chegou à cidade somente alguns meses depois.
Após conversar com o habilidoso artífice o estrangeiro ficou impressionado,
classificou Mestre Adolfo como um gênio.
E não foi somente Mestre Adolfo o único cego a impressionar
os cinéfilos com suas habilidades manuais. Outro cego, mais famoso, Aderaldo
Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo, também fazia proezas no mundo do cinema.
Pela sua influencia nas cantorias conseguiu de Ademar de Barros, ex-governador
de São Paulo, um projetor
cinematográfico. Como a máquina não tinha som ele mesmo narrava as cenas do
filme que exibia nas andanças pelas comunidades, a “Paixão de Cristo”. Quem
assistia ficava impressionado. O segredo, bom, no início ele tinha um de seus
muitos filhos como guia. À medida que as cenas eram projetadas perguntava ao
menino o que estava passando. Ao mesmo tempo memorizava quantas voltas estava
dando na manivela do rolo de filmagem. Decorou e não precisou mais do auxílio.
Hoje, não existem mais gênios como Mestre Adolfo e Cego
Aderaldo. Com eles também se foram os cinemas da cidade. Apreciar os encantos
da sétima arte diante de enormes telas somente quando surge algum evento
especial como o III Quixadá Mostra Cinema. Na opinião de quem adora cinema e se
dedica a esse tipo de arte o Município tem potencialidade para ter pelo menos
duas salas de cinema. Além de ser um reconhecido polo cinematográfico também é
o maior centro universitário da região. São mais de cinco mil estudantes. Os
entrevistados atribuem a iniciativa desse tipo de empreendimento a empresas
privadas. Compete a elas apostar nesse potencial. Em breve um delas será
inaugura na cidade juntamente com o Hotel Imperial.
História do Cinema
De acordo com estudiosos do assunto, o cinema nasceu de
várias inovações que vão desde o domínio fotográfico até a síntese do movimento
utilizando a persistência da visão com a invenção de jogos ópticos. Dentre os
jogos óticos destaca-se o praxinoscópio, inventado em 1877 por Emily Reynaud.
No ano seguinte ele melhorou sua invenção e passou a projetar imagens no Musée
Grévin durante 10 anos.
Em 1876, outro inventor, Eadweard Muybridge fez uma
experiência colocando 12 e depois 24 câmeras fotográficas ao longo de um
hipódromo e tirou várias fotos da passagem de um cavalo. Ele obteve assim a
decomposição do movimento em várias fotografias e através de um aparelho
denominado zoopraxinoscópio pode recompor o movimento. Em 1888, Louis Aimée
Augustin Le Prince filmou uma cena de cerca de 2 segundos, mas a fragilidade do
papel utilizado fez com que a projeção ficasse inadequada.
Anos depois, em 1891, William Kennedy Laurie Dickson, chefe
engenheiro da Edison Laboratories, inventou uma tira de celulóide contendo uma
sequência de imagens que seria a base para fotografia e projeção de imagens em
movimento. Naquele mesmo ano Thomas Edison inventou o cinetógrafo e
posteriormente o cinetoscópio. O último era uma caixa movida a eletricidade que
continha a película inventada por Dickson mas com funções limitadas. O
cinetoscópio não projetava o filme.
Baseado na invenção de Edison, Auguste e Louis Lumière
inventaram o cinematógrafo, um aparelho portátil, uma máquina de filmar, de
revelar e projetar. Em 1895, o pai dos irmãos Lumière, Antoine, organizou uma
exibição pública paga de filmes no dia 28 de dezembro no Salão do Grand Café de
Paris. A exposição foi um sucesso. Este dia, data da primeira projeção pública
paga, é comumente conhecida como o nascimento do cinema mesmo que os irmãos
Lumière não tenham reivindicado para si a invenção de tal feito.
Fotos e texto reproduzidos do site: diariodonordeste.com.br
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