Hannibal Goodwin inventou o celuloide em 1887.
O projecionista Oliver Hauschke comemora as novas técnicas.
Nicole Wegner: 'saudosismo'.
Rolos de filme chegam a pesar até 25 quilos.
Era do cinema analógico chega ao fim depois de 125 anos.
A invenção do rolo de celuloide deu início à história da
imagem em movimento. Hoje, 125 anos mais tarde, chega ao fim a era da projeção
analógica. E até as pequenas salas de cinema se curvam à tecnologia digital.
Oliver Hauschke, projecionista de um cineclube em Colônia,
no oeste alemão, trabalha há 15 anos no setor, projetando em média 14 filmes
por dia. Um trabalho árduo. "O filme é enviado em uma lata, dentro da qual
ficam guardadas as partes do rolo de filme. Temos que 'colar' essas partes umas
nas outras. Só para isso precisamos de uma hora", conta Hauschke.
Apertar o play.
Já nas salas multiplex de cinema, a projeção digital já é
padrão. No Cinenova, onde Hauschke trabalha, a nova tecnologia só foi inserida
há pouco. Em uma das três salas do cineclube, os filmes terão projeção digital,
sem os rolos de filme. Todos os procedimentos manuais tornaram-se supérfluos
desde a inserção da tecnologia digital. Hauschke confessa sua satisfação e diz
não ter problemas em se despedir dos velhos rolos de filme.
Já a projecionista e cineasta iniciante Nicole Wegner vê a
coisa com outros olhos. Ela adora usar o equipamento antigo. "É ótimo
ligar um projetor. Aí ele começa a crepitar e a luz se acende. É lindo. Agora,
com a tecnologia digital, meu trabalho não é mais tão agradável", diz ela.
Com a projeção digital, o filme chega em um disco rígido ou em forma de arquivo
no servidor, que por sua vez está ligado ao projetor. O projecionista não tem
muito o que fazer.
"É preciso apenas apertar o play e pronto. Tudo
acontece automaticamente: as cortinas se abrem, a luz se apaga, o projetor é
ligado e o filme começa. No final, tudo funciona automaticamente de novo, no
sentido oposto", descreve Wegner.
A eterna rotina de colocar e tirar filmes, cortar e separar
deixa os dedos sujos, relata Hauschke. Ele não tem mais vontade de trabalhar
desta forma.
Já para Nicole Wegner, a profissão de projecionista sempre
foi um ofício artesanal que, como todos os outros, deixa as mãos sujas. Mas ela
também vê as vantagens da nova tecnologia. "Não poderia ter feito meu
último filme se tivesse sido obrigada a rodar analogicamente. Eu tinha 80 horas
de material bruto. Revelar isso tudo não seria praticável do ponto de vista
financeiro", analisa a projecionista e cineasta.
"Queremos uma imagem perfeita?"
A fase de testes com o projetor digital no Cinenova, onde
Hauschke e Wegner trabalham, transcorreu sem maiores problemas. "Foi ótimo
quando pude testar a nova tecnologia pela primeira vez", conta Hauschke.
Ele está absolutamente convencido da qualidade da projeção digital.
"A imagem é mais nítida que no rolo de 35 milímetros. E
posso passar o filme várias vezes, sem que ele fique gasto. O rolo de filme vai
ganhando riscos com as projeções frequentes e ficando mais opaco", fala o
projecionista.
Já Wegner se pergunta se isso incomoda, de fato, o
espectador: "Queremos uma imagem perfeita? Gosto da imagem que respira, da
imperfeição dentro dela, quando o filme encalha, porque ali as partes foram
coladas".
Os primórdios dos rolos de filme.
A sujeira dos dedos dos projecionistas do futuro não teve
ter sido algo em que o religioso norte-americano Hannibal Goodwin, que patenteou
o celuloide há 125 anos, em 1887, tenha pensado. Sua invenção na época
significou uma revolução, uma vez que as imagens, antes, só podiam ser gravadas
em lâminas de vidro sensíveis à luz. Com o advento do celuloide, o filme se
tornou praticamente infinito, já que passou a ser possível colar quantos filmes
se quisesse uns nos outros. A sequência de 24 quadros por segundo é o que o
olho humano registra como uma imagem fluida.
Mas foi o empresário George Eastman que conseguiu
comercializar o celuloide de maneira bem-sucedida. O fundador da Kodak tornou a
câmera com rolo de filme de celuloide acessível a qualquer pessoa. Em 1888, ele
lançava no mercado a Kodak N°1 – câmera fotográfica compacta e leve. No
entanto, o celuloide provou ser altamente explosivo e não foi mais usado desde
os anos 1950. Desde então, passou-se a usar o rolo de filme de poliéster.
Peça de museu.
A falência da Kodak no início deste ano foi o início do fim
do filme de rolo. Embora haja até hoje filmes rodados em película de 35mm, a
pós-produção é feita há anos com tecnologia digital. Grandes produções, como
Avatar ou O Hobbit, são filmadas exclusivamente com uso de tecnologia digital.
Os distribuidores são os que obtêm mais vantagens com a
digitalização do cinema, pois economizam os altos custos das cópias e do
transporte de rolos de filme, que podem pesar até 25 quilos. Por outro lado, as
salas de cinema são obrigadas a arcar com os custos da adaptação à tecnologia
digital. Um projetor novo custa entre 60 e 80 mil euros.
Os pequenos cineclubes não têm, porém, alternativa. Daqui a
pouco, os rolos de filme convencionais irão se extinguir. E a profissão do
projecionista vai se tornar cada vez mais dispensável. Hauschke já teve sua
carga horária reduzida e está pensando em encontrar outra profissão. Já Wegner
quer continuar fazendo e projetando filmes – de preferência analógicos.
Autora: Silke Wünsch (sv)
Revisão: Francis França
DW.DE.
Fotos e texto reproduzidos do site:
Nenhum comentário:
Postar um comentário