João com rolo de filme 35mm que roda em um projetor da marca
alemã Herman; não gosta da tecnologia digital Foto: Milena Aurea/A Cidade.
Conheça a história de João Mello, o homem que comanda o Cine
Belas Artes.
Exibidor vai na contramão das salas comerciais e exibe
filmes autorais nos Estúdios Kaiser de Cinema.
23/11/2013 Jornal A Cidade - Regis Martins.
O empresário João Mello Rodrigues tinha apenas 9 anos quando
descobriu que sua grande paixão era o cinema. Naquela época, conheceu Humberto
Bologna, um faz-tudo que o ensinou muita coisa sobre equipamentos de exibição.
Desde então, tornou-se um expert não apenas em filmes, mas
em cinemas propriamente ditos. Foi operador de projeção e gerente de salas
históricas de Ribeirão, como o Comodoro, o Bristol, o Plaza e o Centenário.
Hoje, comanda o Cine Belas Artes, única sessão dedicada
exclusivamente a filmes de arte em Ribeirão Preto. Desde julho passado, o
projeto traz longas-metragens inéditos que passam longe do circuito comercial.
As sessões duplas são realizadas semanalmente, de domingo a quarta-feira, em
uma das salas dos Estúdios Kaiser de Cinema.
Neste domingo (24), vai ser apresentado, às 19h, o filme
inglês “Eu, Ana”, dirigido por Barnaby Southcombe, e às 21h o francês “A
Religiosa” - longa polêmico com Pauline Etienne e Isabelle Huppert.
“Sigo a linha de salas como o Espaço Itaú de Cinema e o
Reserva Cultural, em São Paulo. Sempre com filmes recentes e premiados”,
garante João Mello.
‘Cinema é vício’, diz o exibidor
O Cine Belas Artes é um projeto antigo de João Mello
Rodrigues. Funcionou durante alguns anos com este mesmo nome, no prédio onde
hoje está o teatro da ONG Ribeirão Em Cena.
Antes, João esteve à frente de projetos ligados a cinema e
educação, como o Cine Arte Anglo, o Cine COC e também fez parte da equipe do
bom e velho Cineclube Cauim.
“Fui o primeiro a implantar o Cinema Mais Escola na cidade”,
informa o exibidor, referindo-se ao programa que hoje é realizado pelo Cauim,
na sala da rua São Sebastião.
No início dos anos 2000, João chegou a deixar Ribeirão para
implantar um cinema em Altinópolis com sessões que atendiam crianças da rede
pública de ensino.
Não foi a primeira vez que tentou abrir salas de exibição
pela região.
Nos anos 1980, quando ainda trabalhava na área técnica da
EPTV, largou tudo para abrir um cinema em Monte Azul Paulista, onde ficou por
quatro anos.
Ou seja, foram décadas de dedicação quase quixotesca à
sétima arte. Hoje, de volta a sua cidade-natal, João Mello parece não ter se arrependido
de nada.
“É uma luta diária. Mas cinema, para mim, é um vício. A
gente perde e a gente ganha. É uma loteria”, resume.
Universitários
O exibidor explica que o público que assiste às sessões do
Cine Belas Artes é formado basicamente por universitários e cinéfilos em geral.
O tempo que um filme fica em cartaz depende do interesse das pessoas. “Os
maiores sucessos foram até agora [os documentários] ‘Francis Hime’ [sobre o
músico carioca] e ‘Elena”, ressalta.
O belo “Elena”, dirigido por Petra Costa, é baseado na vida
da atriz Elena Andrade, irmã mais velha de Petra.
Longe das grandes bilheterias, João Mello acredita que o
importante é garantir qualidade e não quantidade. “Ficar rico pra quê? Prefiro
morrer fazendo aquilo que gosto”, comenta.
Projetor de 1960 foi reformado
Uma das coisas que mais chamam a atenção das sessões do Cine
Belas Artes, nos Estúdios Kaiser, é o projetor usado por João Mello.
Trata-se de um equipamento da marca alemã Herman, construído
nos anos 1960, que exibe películas de 35 mm. João conta o comprou de Warley
Pupo, proprietário de várias salas de cinema da região nos anos 1970 e 1980.
Reformou o aparelho, que desde então é seu companheiro em vários projetos.
“Cheguei a levá-lo para projetos itinerantes promovidos por
Sescs da região. Eram sessões de cinema ao ar livre”, lembra o empresário, que
não gosta muito da tecnologia digital que domina o cinema atual. “A definição
fica péssima. Nada substitui a película”, diz.
Foto e texto reproduzidos do site: jornalacidade.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário