Vida Solidária – O catador de imagens e cidadãos
Por Cláudia Piche*
Jornalista com 18 anos de experiência, sabe que, em TV ou em
revista, retratar o perfil de um personagem exige acima de tudo uma história
interessante, e sensibilidade e inteligência para contá-la. É isso o que o
leitor de Idéiasocial terá neste perfil de José Luiz Zagati, o catador de papel
que construiu um cinema em Taboão da Serra. Como jornalista de TV, Cláudia
acostumou-se a casar imagem com texto, o que explica a forma inusual e a
concessão metalingüística deste perfil: a vida do cinéfilo comunitário é
contada aqui a partir de uma seqüência de cenas e imagens.
E aí seu Zé, vai ter filme hoje?
Se a resposta for afirmativa, uma fila de crianças começa a
se formar na entrada do Mini Cine Tupy, na Gleba C, do Jardim Record, bairro
pobre da periferia de Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Com a ajuda de
alguns amigos e poucos comerciantes locais, mais as economias conseguidas no
lixo, como catador de sucata, é ali que está construído o sonho de José Luiz
Zagati, ou simplesmente Zagati como é conhecido. Um sonho que ele começou a
sonhar ainda bem pequeno, aos 5 anos de idade, em Guariba, sua terra natal, na
região de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
No colo da irmã, entrou pela porta de emergência no único
cinema da cidade para assistir a um filme que ele sequer lembra do nome. Sabe
que tinha cavalos e homens de chapéu. (Anos mais tarde, a irmã diria tratar-se
de “Billy the Kidy”). Foi encanto definitivo. “Quando vi aquela sala escura, a
luz que vinha do projetor, a imagem em movimento na tela, tive a certeza de que
era aquilo que queria para a minha vida: ter uma sala e passar filmes para que
as pessoas pobres, como eu, tivessem essa oportunidade” – conta Zagati, com os
olhos marejados. E ele conseguiu. No dia 21 de dezembro de 2003, aos 53 anos de
idade, inaugurou uma pequena sala de quatro metros de largura por dez de
comprimento, tela de 2,5 x 3,0m e 50 cadeiras, algumas plásticas, encontradas
no lixo; outras doadas por amantes de antigas salas de cinema. Corta!!!
Ainda no mesmo ano em que Zagati descobriu o cinema (1955),
sua família mudou-se para Taboão da Serra. Mas só cinco anos depois, aos 10 de
idade, o menino voltaria à sala de projeção, agora do extinto Cine Tupy, no
Largo do Taboão. Para conseguir o dinheiro do ingresso (e do saquinho de
pipoca, claro!!), Zagati engraxava sapatos e enchia caixas d’água da
vizinhança. “Todo sábado, eu mesmo passava a ferro de carvão minha melhor roupa
e ia para o Cine Tupy. Não importava o filme: via os cartazes, as pessoas na
fila e achava tudo maravilhoso!”
As suas brincadeiras infantis também eram variações
remendadas sobre a sétima arte. “Divertia-me em recortar as revistas de
fotonovela da minha irmã e pegar sabão escondido da minha mãe, para colar as
figuras numa tábua de madeira e fingir que era um filme.”
Aos 12 anos, ele construiu seu primeiro projetor: com uma
caixa de madeira, lente de óculos e uma lanterna, divertia a família exibindo
trechos de um filme que encontrara na rua. Só depois de adulto descobriria que
eram cenas de Chico Fumaça, de Mazzaropi, ainda hoje, seu maior ídolo do cinema
nacional.
Depois de trabalhar como pedreiro, borracheiro e montador de
baterias de automóvel, em 1990, aos 40 anos de idade, Zagati ficou
desempregado. E decidiu catar papel na rua para sustentar a família (cena atual
do Zagati junto aos 9 filhos e 6 netos). Na medida em que puxava o carrinho de
sucata pelas ruas do Taboão, ia encontrando, no lixo, a matéria-prima para
alimentar o sonho do cinema: pedaços de película que emendava com durex!
Faltava, no entanto, o mais importante: o projetor. Um dia, conheceu o dono de
um projetor de filmes 16mm que o utilizava para exibição de filmes em igrejas.
Tentou comprá-lo, mas não conseguiu. Um mês depois, o homem o procurou em casa
e, sabendo que Zagati tinha conhecimento em mecânica, propôs que ele
consertasse o seu carro em troca de uma informação sobre onde poderia adquirir
um projetor. Zagati não teve dúvidas: passou o sábado trocando suspensão de
automóvel para conseguir uma indicação imprecisa, sem o nome da loja, apenas
algumas poucas descrições do lugar.
Já na segunda-feira, foi atrás do equipamento, numa
peregrinação pela região da Santa Efigênia, rua tradicional do comércio de
eletroeletrônicos do centro de São Paulo. Estava quase sucumbindo, quando viu
uma lojinha de uma porta só na rua do Triunfo, entulhada de computadores e aparelhos
de TV usados. Perguntou pelo tal projetor, sem se dar conta de que estava
tropeçando num exemplar único. O vendedor – “um tal senhor Virgílio” – recorda
Zagati – colocou sobre o balcão, testou, mostrou que o áudio funcionava. E
disse o preço: 80 reais. “Aí eu falei assim: olha, eu moro em Taboão da Serra.
Vou até lá buscar o dinheiro e volto para levar o projetor. O vendedor botou de
volta no chão e mal me olhou na cara.” Zagati lembra que, para economizar tempo
e dinheiro, pegou um ônibus da Estação da Luz até o Jardim Macedônia, “torcendo
para que ele não parasse nos semáforos”, e literalmente correu alguns
quilômetros até sua casa em Taboão. Lá, recolheu os exatos 80 reais que tinha
como economia ( “coincidências não existem” – frisa Zagati): 50 obtidos com a
venda de sucata e outros 30 ganhos como presente de aniversário do filho mais
velho. De volta à rua do Triunfo, o vendedor mal acreditou: “O senhor é
mineiro??” – perguntou, querendo dizer que mineiros são pessoas de palavra.
“Não, sou paulista. Mas paulista também tem palavra” – respondeu. “Essa eu não
podia deixar passar, né??”
A PRIMEIRA PROJEÇÃO A GENTE NUNCA ESQUECE…
“Eu tinha aqueles pedaços de filme em casa, aí no primeiro
domingo, à tarde, pendurei um pano numa parede, coloquei o projetor na mesa
(treinei um pouquinho em casa, antes, para botar o filme, o som…). E não falei
nada para as crianças lá do Sítio das Madres, o bairro onde morava. Tinha muita
criança carente. ‘O que é isso seu Zagati??’ É cinema!! E passei então aqueles
pedaços de filme que tinha encontrado no lixo. Com aquela curiosidade de
criança, olhavam no pano e na luz, não entendiam como funcionava. Não tinha
sentido, porque era só pedaço de filme emendado. Mas foi muito importante para
mim. Era a primeira vez que aquelas crianças, e até adultos também, viam
cinema…”
Isso foi em 1997. Só um ano depois, ele conseguiria seu
primeiro filme completo. Àquela altura, já havia feito contato com a Associação
Brasileira de Colecionadores de Filmes 16mm, cujas reuniões passou a freqüentar
todos os sábados, depois de contar sua história ao presidente da casa. Num dos
encontros, ganhou de presente de Arquimedes Lombardi o filme Cruéis
Dominadores, uma fita americana de 1951, em preto e branco. “Não via a hora de
acabar a reunião para passar o meu filme com começo, meio e fim. Cheguei em
casa quase uma hora da madrugada. No domingo de manhã, mal agüentei esperar
amanhecer para pegar os dados do filme, que eu não conhecia, e fazer a
cartolina com as informações sobre a estória que seria exibida à noite.” Além
do elenco, e do nome do diretor, Zagati escreveu: “Hoje, o Mini Cine Tupy
apresenta Cruéis Dominadores, às 19 horas.”
“Era um belo domingo, e o pessoal todo endinheirado,
gastando, indo pra feira, não podia deixar de ver o cartaz. Caprichei no
anúncio do filme. Aí era um cinema de verdade! ” Sem conter as lágrimas, Zagati
lembra que nessa noite veio muita gente: uns traziam cadeiras, outros bancos,
outros, ainda, blocos de concreto. “Tinha um barzinho do seu Barriga ao lado,
bem montado, que vendia refrigerante e salgadinho. Foi o melhor dia de venda
pra ele. Vendeu muito!! Todo mundo tomava sorvete, refrigerante, falava do
filme. Estava inaugurado o Mini Cine Tupy.”
Dessa noite em diante, o novo cinema comunitário do Taboão
da Serra passou a ter programação semanal, sempre aos domingos, com os filmes
que Zagati trazia emprestado da Associação dos Colecionadores. Durante a
semana, a cada 10 reais obtido por ele com a venda de sucata, dois eram
poupados para a compra do milho de pipoca, porque, afinal de contas, cinema sem
pipoca não é cinema de verdade!
CESTA BÁSICA DA CULTURA
O que faz um homem pobre, da periferia de Taboão da Serra,
oferecer cultura, de graça, para crianças e adultos de poucas oportunidades, em
vez de distribuir, por exemplo, leite em pó, roupas, remédios ou cestas
básicas? Zagati nunca freqüentou nenhum seminário sobre terceiro setor, por
isso desconhece o fim do paradigma assistencialista no campo das ações sociais.
Mas sua resposta é certeira. Do alto da sabedoria dos sonhadores, diz: “Cesta
básica é uma coisa que acaba. Cultura não: a pessoa vai colher mais tarde o que
ela aprende agora. A cultura permanece com a pessoa, amadurece com ela.”
Com suas projeções dominicais de cinema, Zagati é, há cinco
anos, um distribuidor comunitário de cultura. Sejam na garagem de sua casa ou
no meio da rua de outros bairros, já alcançados pela fama de Zagati, as suas
sessões apenas são canceladas debaixo de um argumento incontestável: a chuva.
Um dia, observando que as escolas da região permaneciam
fechadas aos domingos, ele cismou de consegui-las emprestadas para as projeções
do Mini Cine Tupy. Achou o telefone da Secretaria de Cultura de Taboão, foi até
um orelhão e pediu para falar com ninguém menos do que o titular da pasta.
Obviamente não conseguiu. Mas como desistir é palavra riscada do seu
dicionário, voltou para casa, trocou de roupa e seguiu rumo à Prefeitura,
determinado a conversar com o secretário cujo nome nem mesmo sabia. Acabou
sendo recebido por uma assessora que, diante da veemência de Zagati, lhe
propôs, dias depois, a realização do primeiro festival de cinema brasileiro de
Taboão da Serra, no auditório da secretaria. Ponto para Zagati, que daí para a
frente, nunca mais seria um anônimo…
A FAMA QUE NÃO TRAZ CAMA…NEM MESA
A história do catador de papel que se transformou em
coordenador de um festival de cinema, e de quebra acumulava uma surpreendente
trajetória de superação e perseguição de um sonho, atraiu emissoras de
televisão e jornais de grande circulação. Tamanha superexposição acabou
rendendo a Zagati um outro convite, desta vez da Secretaria de Cultura do
Estado de São Paulo. “O secretário da época me chamou e perguntou quanto
ganhava como catador de papel. Disse que tinha estabelecido uma meta de 10
reais por dia, o mínimo para sustentar minha família.” Assim ele foi
contratado, em 2000, com salário de 300 reais por mês. Trocou o carrinho de
sucata pela função de promotor de eventos de cinema do governo do Estado, cargo
que exerce até hoje. No começo, exibia seus filmes nas favelas da Grande São
Paulo. Depois, nos asilos de idosos. E até no Hospital Psiquiátrico do Juqueri,
onde esteve por duas vezes.
Uma saga tão rica – claro – só poderia mesmo virar cinema.
Três curtas metragens nacionais já levaram às telas a história de Zagati (ver
quadro) e um longa com roteiro pronto está em fase de captação de recursos. A
TV francesa também produziu um documentário.
Zagati fez fama. Mas não consegui deitar na cama! É certo
que as andanças por São Paulo o levaram para mares nunca dantes navegados. No
entanto, o sonho ainda não estava completo: era preciso construir uma sede
própria para o Mini Cine Tupy, até para que algumas sessões não tivessem de ser
canceladas pela chuva. Foram três anos investindo parte do salário na compra de
material de construção para levantar a tão sonhada sala, na frente da casa onde
mora. Para essa tarefa, não teve o financiamento de nenhuma empresa socialmente
responsável, nem contou com a benção de nenhuma fundação ou o aporte das muitas
ONGs internacionais que despejam algumas centenas de dólares em empreendimentos
sociais no Brasil. O único apoio que teve veio das pessoas mais simples, gente
com a mesma origem dele: a comunidade de Heliópolis, uma das maiores favelas de
São Paulo, colaborou com uma vaquinha de mil reais!!
Até hoje, Madalena, mulher de Zagati, não se conforma. Para
ela, a fama não melhora em nada a vida da família. “Isso me dói muito. Ela e
muita gente que até zomba de mim não sabem o quanto ganho com isso. Não ganho
dinheiro, mas nunca fiz por dinheiro. Imagine cobrar 50 centavos que seja de
uma criança de periferia”, desabafa. “A criança de periferia, nasce aqui,
cresce aqui, casa aqui, morre aqui e nunca vai ao cinema!! Acho que deve ser
assim em todas as periferias do Brasil.”
IMPACTO SOCIAL
Para tristeza de Madalena, a vida de Zagatti pode não ter
mudado além da fama nacional e internacional que passou a ter. Mas a vida de
sua comunidade mudou muito. Embora nem mesmo o catador de sucata saiba dizer
quanto e como. Homem simples, de poucas letras, faltam-lhe as palavras certas:
ao tornar acessível para pessoas de baixa renda um bem cultural como o cinema,
o seu esforço contribui para educar e construir a cidadania. “Quando a gente
bota aqui um monte de crianças, ou até adultos, para assistir um filme, além de
sair da rua, e estar num lugar seguro, algumas delas com certeza vão ter um
futuro promissor, porque estão vendo uma coisa boa para sua formação. A gente
mostra um outro caminho, uma outra direção”. Com a expressão de quem nunca
pensou muito sobre o assunto, ele continua: “Algumas crianças aqui já quiseram
fazer teatro, por causa dos filmes. Outras, quando vêem a gente dar entrevista,
falam que querem ser jornalistas. Penso que algumas dessas crianças podem ser
prefeito, vereador, e até presidente da República no futuro”, filosofa o
catador de cidadãos.
Nas sessões do Mini Cine Tupy, há exemplos vivos que confirmam
a crença do cinéfilo. Andréia, de 12 anos, freqüenta o cinema de Zagati desde
pequena. Está na sexta série do ensino fundamental. E nunca repetiu de ano. Diz
que assistir aos filmes ajuda a ter melhores idéias para as redações na escola.
A mãe de Andréia, Eliandra Oliveira Sales, tem mais duas filhas: Bruna, de 14
anos, e Stefanie, de dois meses, que “freqüenta o cinema desde que estava na
barriga”, orgulha-se. Eliandra conta que uma vez foi ao shopping do Taboão
porque as filhas queriam “conhecer um cinema de verdade”. Chegando lá, o
dinheiro só dava pra dois ingressos. “Elas não quiseram entrar sozinhas porque
falei que era muita escuridão lá dentro. Voltamos pra trás. Mas elas perceberam
que o cinema daqui não é muito diferente.” Eliandra, que freqüenta as projeções
de Zagati desde que elas aconteciam na rua e cada um levava sua cadeira,
confessa que só foi mesmo umas poucas vezes ao cinema comercial: “Acho que umas
quatro.” E arremata: “Prefiro o daqui. É perto de casa, de graça e o seu Zé
explica muita coisa boa pra gente!!”
Atualmente, as sessões do Mine Cine Tupy também complementam
o programa “Agente Jovem” – uma parceria do governo federal com as prefeituras
municipais – em que adolescentes entre 15 e 17 anos em situação de
vulnerabilidade social recebem ajuda financeira para permanecer na escola, além
de participar de atividades profissionalizantes e culturais extra-classe.
Zagati dedica duas sessões por semana ao atendimento do projeto. Mas não recebe
nenhum dinheiro extra – apenas o salário de monitor estadual que hoje gira em
torno dos 600 reais.
Além disso, uma vez por mês atende pacientes psiquiátricos
de um centro comunitário da região. Segundo Zagati, eles vêm a pé acompanhados
de psiquiatras e enfermeiros. “Hoje não é mais como antes, que os pacientes
ficavam presos. Você tem que conversar com eles, arrumar a cabeça deles. Aqui
eles se sentem normais, porque assistem o filme, conversam com todo mundo,
comem pipoca. Não sei como explicar, mas eles sentem que fazem parte da
sociedade!!” . Falou, dr. Zagati!!
EMPREENDEDOR SIM!! POR QUÊ NÃO??
A narração dessa história pessoal na boca de Zagati soa
invariavelmente como um roteiro de cinema. Ouvi-la traz a impressão de que ele
mesmo se enxerga como um personagem da telona, coisa que já o foi, e continua
sendo, nos tantos filmes sobre sua vida. Mas, para além do personagem, é
possível enxergar claramente um Zagati empreendedor social, embora, muito
provavelmente, ele não se enquadre neste ou em qualquer outro conceito. Em
princípio, ao ser provocado, estranha até mesmo o termo empreendedor, mas
rende-se ao fato de que ele cabe sim dentro dele: “Nunca tive essa intenção. ..
Mas, por tudo o que aconteceu, chegar aonde chegou, acho que posso me
considerar um empreendedor! Estou conseguindo realizar coisas importantes….”
Qual o significado da palavra empreendedor, afinal? Zagati
pensa um pouco. E arrisca: “Empreendedor é aquela pessoa que o patrimônio cresce.
Tudo o que ele se propõe a fazer dá certo e ele tem a certeza de que vai dar
certo. É, sou um empreendedor. Social!”
De fato, o patrimônio de Zagati cresceu. E se modernizou.
Além da sede própria, o Mine Cine Tupy tem, hoje, uma coleção com 8 projetores
16mm, mais uns 4 ou 5 em super 8, além de um VHS e, claro, o DVD – preferência
unânime da garotada (muitas das fitas de Zagati, entretanto, estão danificadas,
por falta de acondicionamento apropriado do arquivo).
Atualmente, o empreendimento de Zagati está constituído
juridicamente como uma OSCIP – a Associação Cultural Zagati – resultado do
cumprimento de uma promessa de campanha do atual prefeito de Taboão da Serra. O
próprio Zagati confessa, no entanto, desconhecer os benefícios do título. Os apoiadores
do Mini Cine Tupy continuam os mesmos de todo o sempre – a comunidade, claro, o
Depósito Trianon e o Center Rebelo – duas pequenas lojas de material da
construção – além da Imobiliária Pirajuçara, “que ajuda nas festas de Natal e
do Dia das Crianças com os comes e bebes e mais os brinquedinhos para as
crianças” – diz.
Mas, efetivamente, o principal patrimônio do empreendedor
Zagati não pode ser medido pelo passivo de imóvel e equipamentos. Está na
mudança que promove na comunidade. “O que cresce é o que a gente está
dividindo, partilhando com as pessoas, que é o cinema, a cultura. Então
acredito que é um grande empreendimento”.
CINEMA PARADISO TUPINIQUIM
Para o leitor que se ressentiu até aqui da inevitável e
obrigatória comparação da saga do Mini Cine Tupy com o filme de Giuseppe
Tornatore (Cinema Paradiso, 1989), ok, aqui vai ela!
Zagati vê, sim, muita semelhança entre a história dele e a
do projecionista Alfredo e seu ajudante, Toto. Ao contrário do menino da
ficção, no entanto, Zagati não deixou sua comunidade para retornar mais tarde
como um cineasta de sucesso. Continua fazendo cinema, à sua moda, na mesma
periferia pobre da mesma Taboão da Serra onde chegou 51 anos atrás.
Quem disse, porém, que ele não sonha em ser cineasta???
“Acabo de dirigir um curta metragem, em VHS, chamado Pai.
Trata do problema dos transplantes e da doação de órgãos no Brasil. O roteiro é
de um rapaz aqui da comunidade, o Luiz Bezerra, que é ator. Além de dirigir o
filme, interpreto Pedro, personagem principal, pai de Luiz.”, conta com certa
timidez.
Zagati revela, ainda, que tem outro roteiro pronto, escrito
por ele: O Pescador de Lambari – “um drama sertanejo”. Mas é também aqui, na
periferia de Taboão da Serra, que ele pretende escalar seu elenco. Em seus
filmes – atente para o plural! – Zagati quer tratar as questões da comunidade.
E exibi-lás, obviamente, no Mini Cine Tupy.
Ele ainda não tem uma câmera na mão. Mas, com certeza, anda
cheio de idéias na cabeça…
FIM
Filmes já produzidos sobre a história de Zagati
Zagati
Direção: Nereu Cerdeira e Eduardo Felistoque/ SP
Ano de Produção: 2001
Formato: 35mm/PB/documentário dramatizado
Tempo: 17min
Onze prêmios em festivais nacionais, entre eles o Prêmio
Especial do Júri e o Prêmio Canal Brasil no Festival de Cinema de Gramado em
2002.
Mine Cine Tupy
Direção: Sérgio Block/ RJ
Ano de Produção: 2002
Formato: vídeo/colorido/documentário
Tempo: 6 min
Z.inema
Direção: Carol Thomé
Ano de Produção: 2005
Formato: vídeo/colorido/videorreportagem documental
Tempo: 20 min
*Cláudia Piche é repórter de TV. Com passagens pelo SBT, TV
Bandeirantes, CNT e TV Cultura, foi finalista do Prêmio Embratel 2005, na
categoria Televisão, pela série 30 anos sem Vladimir Herzog.
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