Foto: Sergio Jr./Agencia JB
Publicado em 14 de Março de 2008.
Um pequeno Metro.
Por Mariana Filgueiras.
O texto abaixo foi publicado no Jornal do Brasil em 4 de
dezembro de 2005. Motivada pela campanha da Revista Moviola, Fotografe o seu
cinema antes que ele vire uma igreja, a jornalista Mariana Filgueiras enviou a
reportagem sobre o Centímetro, cópia do Metro Tijuca, demolido em 1977. A Foto
é de Sergio Jr/Agencia JB. Veja como são as coisas. Uns viram igrejas, uns são
demolidos. Outros renascem.
Relíquia: Cinema Paradiso na Serra
Colecionador reconstrói Metro Tijuca na cidade de
Conservatória
As luzes se apagam lentamente, a
cortina verde se abre e o rugido do leão anuncia: a sessão vai começar. O
barulho do projetor antigo não chega a atrapalhar a voz suave de Judy Garland
em O Mágico de Oz, o filme da noite. O espectador tem a sensação de ter entrado
num túnel do tempo: o Centímetro Conservatória é uma réplica perfeita do Metro
Tijuca, demolido em 1977 para se tornar uma loja de departamentos. Inaugurada
em agosto, a reprodução, de 60 lugares, é a realização do sonho do advogado Ivo
Junior, 60 anos, um apaixonado pelas salas de cinema clássicas. Ivo escolheu a
pacata cidade de Conservatória, no Sul Fluminense, para construir o último
exemplar existente de um cinema Metro.
Todos os detalhes remetem à época de ouro da produtora Metro
Goldwin Meyer (MGM): a arquitetura art déco, os objetos originais, o frio
exagerado do ar-condicionado. Entre as décadas de 40 e 70, os suntuosos cinemas
da Metro eram programa obrigatório dos cariocas nos fins de semana.
- Não esqueço a sessão de E o vento levou… que fui assistir
diversas vezes, aos 16 anos. Estou impressionada, é tudo exatamente igual
àquela época – conta a aposentada Vitória Marques, 79 anos, depois de assistir
à sessão do Centímetro.
- Quando criança, eu ia ao Metro Tijuca com meus pais, todos
os domingos, às 10h. Era mais sagrado do que ir à missa. Colocávamos as
melhores roupas e assistíamos aos desenhos do Tom & Jerry. No final,
ganhávamos um bombom. Aqui, tudo é idêntico, até os cinzeiros – emociona-se o
médico Juarez Figueiredo, 58 anos, apontando para o móvel de madeira na
entrada.
O que sobrou dos cinemas Metro Passeio, Boa Vista,
Copacabana e Tijuca foi garimpado pelo advogado quando os prédios foram
demolidos para dar lugar a igrejas evangélicas, supermercados e lojas de
roupas. Assim, Ivo encontrou os painéis em madeira onde eram exibidos os
cartazes dos filmes na calçada. Também as roletas, as placas sinalizadoras de
entrada e saída e a urna de vidro em que os espectadores depositavam os
ingressos – esta Ivo achou ainda com os tíquetes dentro. As luminárias foram
encontradas num ferro-velho, e os projetores, obsoletos, doados pelo então
proprietário das salas, Luiz Severiano Ribeiro.
A história do advogado se confunde com o enredo do filme
Cinema Paradiso, dirigido por Giuseppe Tornatore em 1988. Ainda menino, Ivo
preferia acompanhar os filmes ao lado do operador, no Cinema Santo Afonso, na
Tijuca, em vez de assistir com os amigos, nas poltronas. O hábito se tornou uma
paixão e, desde então, Ivo coleciona tudo o que se refere aos filmes e cinemas
da MGM.
- O Centímetro vai ser mais do que um museu da Metro. Quero
trazer estudantes de cinema para fazer workshops aqui. Quem não tem onde exibir
suas produções também terá espaço, e o próximo festival de cinema de Búzios
será fracionado aqui – revela Ivo.
A escolha da cidade não foi casual. Ivo quis aliar o cinema
à tradição cultural da Capital das Serestas, como é conhecida a pacata cidade
de cinco mil habitantes. Como tinha um terreno em Conservatória, aproveitou o
espaço para erguer o prédio. A casa foi crescendo ao redor e, para entrar no
Centímetro, os visitantes estranham a passagem pelo quintal do advogado.
- Pus o Gene Kelly logo na entrada, orientando os turistas –
brinca Ivo, em frente ao painel com os astros dos musicais da MGM.
Durante a exibição para os visitantes – o cinema ainda não
oferece sessões regulares, é preciso marcar com antecedência – tem pipoca com
pipoqueiro, música na sala de espera, e até o ingresso é uma réplica dos
originais. Ele mesmo faz questão de operar os projetores. No meio da sessão,
sempre com filmes clássicos, um intervalo para a troca do rolo. Ivo completa:
- Se depender de mim, a história desses palácios não vai ter
o famoso ”The End” .
Texto e imagem reproduzidos do site: revistamoviola.com
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