Nelson é colecionador e cinéfilo. O gosto pelos filmes teve início aos cinco anos de idade.
Ele não abre mão das mídias antigas.
Publicado originalmente no site do Jornal Cruzeiro, em 05/04/15
Super-8 é o avô do VHS e do DVD
Por José Antônio Rosa (joseantonio.rosa@jcruzeiro.com.br)
O professor de matemática Nelson Toledo Filho tem um
histórico emblemático no que se refere ao uso de mídias antigas. Ele entrou num
cinema pela primeira vez aos cinco anos de idade. Foi para assistir Pinocchio,
o desenho dos estúdios Disney. Com sete, esteve em Sorocaba e conferiu a
exibição de Quando os dinossauros dominavam a terra".
Desde então, não parou mais. Sempre levado pelos pais,
também apaixonados pela chamada sétima arte, Nelson, que mora em Votorantim,
tornou-se colecionador, proprietário de locadora, apresentador de programa
(comandou, entre 1996 e 1998 o Tela 39, na extinta TV Metropolitana; atualmente
apresenta o Falando de cinema, na TV Votorantim. Foi, ainda, curador de
festivais e possui, hoje, um dos maiores acervos do país de filmes no formato
Super-8. São, ao todo, mais de 1,5 mil títulos.
Para quem não sabe, Super 8 é o nome das fitas gravadas em
poliéster (material que substituiu o acetato) com largura de oito milímetros.
Mais resistentes e de melhor qualidade, elas são consideradas as avós do DVD e
surgiram antes do VHS. Até o começo dos anos 80, quando do advento do
videocassete, quem quisesse assistir filmes em casa tinha como opção comprá-los
nessa configuração e usar um projetor que exibia imagens na parede.
Toledo garante que o nível da projeção sempre foi muito bom.
Até hoje a película é usada nas produções cinematográficas. Os grandes
estúdios, é claro, recorrem à tecnologia digital. Mesmo assim, fazem a passagem
(chamada de transcrição) em fitas. O interesse por filmes só fez crescer e
Nelson Toledo passou a procurar produções policiais, particularmente tramas que
destacam a figura de detetives.
Ele guarda raridades dos anos 30, 40 e algumas relíquias
rodadas em datas anteriores. São os casos, por exemplo, da versão em S-8 de
Wings, vencedor da primeira edição do Oscar na categoria de melhor filme, em
1927, e do primeiro Ben-Hur, realizado em 1909.
Aliás, pouca gente faz ideia, mas o épico protagonizado por
Charlton Heston no final da década de 50 (e mais conhecido também), teve três
versões e está para ganhar a quarta com estreia prevista para 2016. Outra
relíquia é Paixão de índio, dirigido por Cecil B. de Mille no ano de 1913.
Parte do cenário do filme foi usado para montagem de um
museu temático que funciona até hoje em Hollywood. Curiosamente, poucas
produções brasileiras foram realizadas no formato S-8. Nelson Toledo dispõe de
alguns títulos lançados em promoção de revistas que circularam nos anos 70,
como a Status.
Um deles, Contos eróticos, reúne quatro histórias do gênero
pornochanchada, destacando no elenco nomes como os de Lima Duarte e Cláudio
Cavalcanti. Também rara é a série de filmes datada dos anos 1930 sobre a
detetive Torchy Blaine, uma repórter que investigava casos intrincados e que
serviria de inspiração para o surgimento da também jornalista Lois Lane, a
namorada do Super-Homem.
Toledo mantém, mais, alguns dos principais itens da
filmografia de Alfred Hitchcok, o mestre do suspense. Viajou cinco vezes para
Hollywood e, claro, conheceu os estúdios das companhias Warner, Universal, Fox
e Columbia (Sony). Trouxe de lá souvenires que guarda com cuidado, fotos
autografadas de celebridades, entre as quais as de Julie Newmar, a Mulher-Gato
da série Batman; Jonathas Harris, o impagável dr. Smith que infernizava a vida
da família Robinson em Perdidos no espaço, Barbara Eden, de Jeannie é um gênio
e David Prowse, o Darth Wader da trilogia Guerra nas estrelas.
Mais recentemente, Nelson Toledo Filho descobriu no seu
acervo um filme que adquiriu há 15 anos e que, curiosamente, nunca havia
assistido na íntegra. O documentário Revolução de 30, do diretor Sylvio Back,
rediscute aquele que para muitos historiadores foi um dos mais importantes
movimentos da história política do Brasil do século XX. Nele estão imagens dos anos
20, 30 e, numa das sequências, Toledo reconheceu bairros de Votorantim. O
interessante, ele conta, é que as passagens nada têm a ver com o tema do
documentário. Aparecem cenas da fábrica de tecidos, o industrial Pereira
Ignácio e a partida entre os clubes Savoya e Paulistano. O jogo, realizado em
1924, terminou em 4 a 4 e marcou a inauguração do estádio da equipe. Já o filme
seria exibido pouco tempo depois em São Paulo, ou seja, estreou fora de
Votorantim.
Aficcionado
Com esse histórico, Nelson Toledo Filho figura entre aqueles
que não abrem mão das mídias antigas. Sua escolha, afinal, recai sobre um
formato anterior ao advento do videocassete e da fita em VHS. O Super-8 tem
como característica reproduzir trechos de filmes, ou seja, não apresentam a íntegra
da produção.
É como uma edição. Produções do gênero épico bíblico cuja
duração ultrapassa, em alguns casos, três horas são contadas em 20 minutos.
Além disso, para assistir é necessário dispor de um projetor. Toledo lembra que
quando aderiu ao formato, o equipamento não era tão caro quanto hoje.
Passados tanto tempo, o Super-8 praticamente foi abolido e é
encontrado pelos fanáticos em lugares específicos, como sites. É preciso muita
paciência e determinação para adquirir os títulos. Nelson Toledo não se
importa. Ele diz que o fascínio que a mídia exerce compensa o esforço.
O professor não se considera tão radical. Ainda que em menor
escala, sua estante acomoda DVDs e ele, claro, vai ao cinema com frequência.
Além disso, como cinéfilo, acompanha todo ano as cerimônias de entrega do Globo
de Ouro e do Oscar. Em casa, mantém dois projetores que usa quando a vontade
pede. Ou seja, sempre.
Texto e imagens reproduzidos do site: .jornalcruzeiro.com.br
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