Publicado originalmente no site do JORNAL DE CARUARU, em24 de
dezembro de 2020
Clube do Filme entrevista: Filipe Camêlo. Cinéfilo,
pesquisador e colecionador de cinema
A fascinante arte de pesquisar e colecionar cinema.
Por Mary Queiroz
Nesse Clube do Filme entrevista, Filipe Camêlo fala da sua
experiência como crítico e cinéfilo nas rádios Caruaru FM e Cultura AM, seu
amor pela Sétima Arte e sobre a fascinante arte de colecionar cinema.
Cinéfilo, pesquisador e colecionador de cinema, também foi co-apresentador dos programas Cine Club e Clube do Filme por 8 anos, além de editor e escritor do Jornal e Blog Clube do Filme.
MARY QUEIROZ– Você é um dos grandes parceiros do Clube do Filme, também apresentou o programa por muitos anos, junto com o Lúcio Luiz e o radialista Edson Santos. Como vocês se conheceram?
FILIPE CAMÊLO – Conheci Edson ouvindo o programa Cine Club na rádio Caruaru FM. Certa tarde de domingo liguei o rádio e estava tocando músicas de filmes, e o locutor informou o MSN da rádio para quem quisesse interagir, pedindo música e participando das enquetes. Não perdi tempo, peguei o rádio, fui para o PC e comecei a participar. Todo domingo estava ali, no MSN, conversando com Edson. Pessoalmente eu o conheci pouco tempo depois. Certo dia, fui até a Clik Video Locadora e Edson estava lá (o reconheci pela voz), me apresentei e desde então somos amigos. Já Lúcio foi através de outro amigo que nós três tínhamos em comum, Glédson. Por um tempo Glédson, juntamente com Amanda, Thiago e Alysson também participavam do programa Cine Club comigo e Edson, e Lúcio ficou sabendo e começou a participar todo domingo via MSN, até que Edson o convidou para ir um dia participar presencialmente do programa. E desse dia em diante passamos a ser grandes amigos.
MARY QUEIROZ– Além de apresentar o Programa Clube do Filme, você também contribuiu na realização de várias edições da Promoção Cinema Aí Vou Eu. Fala um pouco sobre esta experiência e quais edições você destacaria como sucesso de público? Este sucesso foi devido aos filmes exibidos?
FILIPE CAMÊLO – A Promoção Cinema Aí Vou Eu, para nós foi algo inovador. Na época não tínhamos salas de cinema na cidade e resolvemos fazer essa promoção onde levaríamos alguns ouvintes para assistir uma sessão de cinema em Recife. Com os contatos de Edson com a UCI Cinemas, eles passaram a nos disponibilizar 20 convites por mês, a assim a cada mês, nós passamos a levar 20 ouvintes para assistir uma sessão de cinema em Recife. Creio que chegamos a fazer umas 10 promoções com idas para Recife. Foi com a chegada da Rede Centerplex a Caruaru, que a promoção, já estabelecida, cresceu. Ao invés de 20 convites, foi posto a nossa disposição uma sala de cinema. A 1ª e 2ª edições da promoção aqui em Caruaru foram realizadas em um sábado pela manhã, e tivemos a presença média de 150 pessoas. Da 3ª edição em diante passamos a realizar a promoção aos domingos pela manhã, e tínhamos quase a lotação completa da sala. Era uma experiência incrível. Não tem como destacar quais foram sucesso de público, para mim todas foram, pois recebíamos em média 600 e-mails de ouvintes que queriam ir para a sessão. Mas é claro que tem aquelas sessões que acabam sendo as mais especiais, entre elas a de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2, realizada em Recife, e o do primeiro filme dos Vingadores, nossa 3ª realizada aqui em Caruaru, a primeira em um domingo, e no final de semana de estreia do filme. Não vejo o sucesso da promoção ligado somente aos filmes exibidos, os filmes eram um dos fatores, juntamente com o prazer de estar reunido com familiares, amigos, e pessoas que gostam de ver um bom filme no cinema.
MARY QUEIROZ– Você foi um dos apresentadores que teve a oportunidade de participar de várias cabines de imprensa. Onde eram realizadas e quais foram marcantes?
FILIPE CAMÊLO – As cabines de imprensa são realizadas em Recife, em algum dos cinemas da cidade. Em termos de filmes as mais marcantes foram Planeta dos Macacos: A Origem, que acabou sendo marcante por ser o primeiro grande filme que chegava às salas do Brasil com mais cópias dubladas do que legendadas, os 2 filmes finais da saga Harry Potter, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge e Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles, que inaugurava a primeira sala com projeção em 4K em Recife. Porém eu gostava muito das cabines onde tínhamos a chance de ir eu, Lúcio e Edson, independente do filme, pois saímos da sessão discutindo sobre o filme, o que agradou ou não para cada um de nós.
MARY QUEIROZ – Como surgiu tua paixão pela Sétima Arte?
FILIPE CAMÊLO – Minha paixão pelo Sétima Arte surgiu precisamente em junho de 1995, quando vi a edição do mês da Revista Set, que tinha como matéria principalmente a chegada aos cinemas de Batman Eternamente. Sempre gostei de assistir filmes, mas foi através dessa edição que surgiu a paixão não apenas de assistir filmes, mas de saber como eram feitos, conhecer atores e diretores, ficar por dentro dos lançamentos em cinema e home vídeo, as novas tendências, etc.
MARY QUEIROZ – Sendo o cinema uma de suas paixões, muitos diretores devem ter contribuído na sua formação como crítico. Quais seus favoritos e como você avalia a linguagem criativa deles?
FILIPE CAMÊLO – Existem vários diretores que gosto, entre eles Ridley Scott, Steven Spielberg, James Cameron, Martin Scorsese, David Fincher, Quentin Tarantino entre outros. Mas há 2 em particular que eu gosto mais. O primeiro é Tim Burton. Gosto muito do estilo visual que Burton coloca nos seus filmes, uma mistura de gótico com colorido, que criar um ar fantasioso apenas seu. O segundo é o Christopher Nolan. Nolan é um dos poucos diretores que eu gosto e que, já como cinéfilo, pude acompanhar a sua carreira desde o início. Para mim o Nolan usa uma linguagem bem intimista nos personagens de seus filmes, sempre nos sentimos próximos e íntimos daquelas pessoas, nos levando a entender o que as motivam, também me agrada muito sua estética realista, seja um filme de super-herói ou uma ficção científica, seus filmes tem um visual de que aquilo pode realmente existir. E outra coisa que me agrada no Nolan, mas sei que algumas pessoas não gostam, são as explicações de situações mostradas nos filmes. Muitos críticos, e alguns espectadores, não gostam dessas explicações, porém é algo que não me incomoda e que eu gosto. Prefiro sair dos filmes dele com todas as explicações, do que ficar com uma informação “incompleta” que me faça ter que pesquisar depois para compreender o que ele quis dizer.
MARY QUEIROZ – Muitos são os elementos nos filmes que nos provocam sentimentos. Quando você vai assistir filmes, o que espera absorver?
FILIPE CAMÊLO – Geralmente quando vou ver um filme não vou esperando absorver algo. Vou com o intuito de descontrair, relaxar, porém do filme mais blockbuster ao filme que quer de fato transmitir algo importante, em todos eles sempre vamos absorver algo, sempre vamos aprender algo de novo. E como um apaixonado pelo cinema, esse aprendizado vai além do filme em si. Absorvemos algo com a história, com a mensagem que ela passa, mas também absorvemos as novidades do lado técnico, de como um filme é feito, e vamos sendo surpreendidos a cada novo filme.
MARY QUEIROZ – Grandes filmes da história do cinema, geralmente são protagonizados por excelentes atores. Quais deles, você destacaria como tendo as melhores atuações?
FILIPE CAMÊLO – O cinema teve e tem grandes atores, e de tempos em tempos somos surpreendidos por um novo talento. Mas hoje em dia há um ator e uma atriz que sempre entregam as melhores atuações para mim: Tom Hanks e Meryl Streep. É difícil, por mais que o filme seja fraco, que esses dois não entreguem atuações fantásticas. E prova disso é que constantemente vemos um deles ou ambos recebendo indicações ao Globo de Ouro ou Oscar.
MARY QUEIROZ – Citando seus atores favoritos, em que você acredita que sustenta o talento deles em dar vida a um personagem em determinado filme?
FILIPE CAMÊLO – Creio que o amor que eles têm por essa arte faz com que se entreguem por completo ao personagem. Eles estudam e buscam conhecer o personagem e assim desenvolver particularidades, pequenos gestos, que por vezes vão passar imperceptíveis, mas que darão vida única a esses personagens.
MARY QUEIROZ – Quando você analisa as produções brasileiras, quais poderia destacar, levando em consideração sua importância histórica e incentivo a valorização da sétima arte nacional?
FILIPE CAMÊLO – Todos que me conhecem sabem que não sou muito fã de assistir produções nacionais. Então nunca assisti filmes dos anos 60, 70 e 80. Quando comecei a me interessar por cinema, o cinema nacional estava no recomeço do seu ressurgimento. O filme Carlota Joaquina tinha recebido boas criticas e foi bem recebido pelo público. Mas foi com O Quatrilho que nossa produção ganhou força novamente, inclusive recebendo uma indicação ao Oscar de Filme estrangeiro. Um ano depois O Que é Isso Companheiro? repetiu o feito, e alguns anos depois Central do Brasil mostrou que o cinema brasileiro estava de volta. Creio que se não fosse por esses filmes teríamos passado mais alguns anos buscando o ressurgimento. Ainda hoje não é fácil fazer cinema no Brasil, mas esses filmes abriram muitas portas, seja nas leis de incentivos, no surgimento de profissionais, na melhoria da qualidade técnica. Sem esses filmes, sucessos como Cidade de Deus, Tropa de Elite, Se Eu Fosse Você, e as diversas comédias que levam milhares ao cinema provavelmente não estariam aí.
MARY QUEIROZ – Você em é uma das pessoas que mais pode nos falar sobre cada cerimônia do Oscar. Criado em 1927, é a mais antiga e famosa premiação de cinema que existe no mundo, onde teve sua primeira cerimônia em 1929, na cidade de Los Angeles. A 93° cerimônia está prevista para o dia 25 de abril de 2021, adiada devido a pandemia da Covid 19, certamente será uma cerimônia diferente das outras. Comente sobre isso e também sobre as edições anteriores, destacando os principais filmes, atores, diretores e acontecimentos que marcaram ao longo desta trajetória de prêmios.
FILIPE CAMÊLO – Estou bastante curioso para saber quais serão os filmes indicados aos Oscar 2021. Os cinemas voltaram a funcionar com restrições, mas ainda assim os grandes estúdios estão segurando seus principais filmes, o que, mesmo com o aumento do prazo de elegibilidade dos filmes, pode ocasionar em uma premiação onde teremos como principais indicados filmes que chegaram diretamente ao streaming. Mas temos que aguardar os próximos meses e ver qual será a estratégia dos principais estúdios. O Oscar infelizmente não é perfeito é já teve premiações bem equivocadas. Uma das últimas com certeza foi a premiação do Rami Malek como melhor ator pelo papel do Freddie Mercury. Outra foi a premiação de melhor filme para Shakespeare Apaixonado. Também tivemos algumas gafes, como quando entregaram o envelope errado aos apresentadores, e acabaram dizendo que La La Land havia ganho como melhor filme, quando na verdade, ao pegar o envelope correto, o vencedor foi Moonlight. Então por mais previsível que o Oscar possa ser, nem sempre essa previsibilidade é uma certeza.
MARY QUEIROZ – Além de pesquisador, crítico e cinéfilo, você é também um grande colecionador de filmes e séries aqui de Caruaru. Fale como nasceu seu interesse sobre a fascinante arte de colecionar.
FILIPE CAMÊLO – O interesse por colecionar nasceu praticamente ao mesmo tempo que a paixão pelo cinema surgiu. Sempre que assistia a um filme que gostava, queria ter em casa, mas até o começo dos anos 2000 colecionar não era algo fácil. Os filmes originais em VHS além de caros não eram de fácil acesso. Para comprar um VHS original tínhamos algumas opções: ir a uma loja de redistribuição, falar em uma locadora que pedisse uma cópia extra quando ela fosse fazer o pedido dela, ou ligar para algumas das locadoras, de São Paulo, que anunciavam na revista SET a venda de seminovos ou usados. Até mesmo “fazer” cópias era trabalhoso, pois era preciso ter 2 videocassete, fazer a conexão de áudio e vídeo e ter que esperar passar todo filme. No começo dos anos 2000, com a chegada do DVD, ficou mais fácil colecionar. A internet já estava aí, com diversas lojas online que vendiam os filmes, bem como os grandes varejistas disponibilizavam espaços em suas lojas para a venda de filmes.
MARY QUEIROZ – Quais as características de um bom colecionador de filmes?
FILIPE CAMÊLO – Creio que as principais características de um bom colecionar é ser zeloso com sua coleção, sempre a mantendo limpa, evitando acumular poeira, manter em um local que tenha uma boa temperatura ambiente com boa ventilação, pois assim evita que mofo apareça nas fitas e discos, evitar também que o sol incida nas caixas, pois pode “queimar” a imagem da capa ou engelhar o plástico da caixa. Mas a característica fundamental de um colecionador é nunca emprestar os filmes da sua coleção, pois como o nome já diz, é uma coleção.
MARY QUEIROZ – Quais filmes na sua coleção você tem mais apego?
FILIPE CAMÊLO – Basicamente todos eles. Mas há aquelas edições, principalmente os boxes, que tenho um apego maior por ser uma edição mais especial, com mais conteúdos, uma embalagem diferenciada. Então diria que as coleções Bond 50, Alien Anthology, The Superman Anthology, O Senhor dos Anéis: A Trilogia Completa Versões Estendidas e a edição de 25 anos da Trilogia de Volta Para o Futuro são as que tenho mais apego.
MARY QUEIROZ – Na sua coleção, tem algum filme ruim que não tem uma boa história mas o você ama mesmo assim?
FILIPE CAMÊLO – Sim. Como um bom fã do Batman eu não poderia deixar de ter Batman & Robin na coleção, um filme que está na lista de piores de quase todo cinéfilo.
MARY QUEIROZ– Quero finalizar, agradecendo sua atenção e contribuição ao Clube do Filme e ao Jornal de Caruaru, te desejando desde já, um Feliz Natal e um Ano Novo próspero, cheio de dias melhores, com filmes bons para assistir e colecionar. Deixo agora o espaço para você fazer suas considerações finais.
FILIPE CAMÊLO – Eu que agradeço pelo convite. Não apenas foi um prazer contribuir com o Clube do Filme por 8 anos como parte da equipe, como ainda é um prazer participar quando recebo um convite. O Clube do Filme me proporcionou coisas que eu nunca pensava que iriam acontecer comigo, como comentar a premiação do Oscar ao vivo, participar das cabines de imprensa, participar de festivais, conhecer grandes críticos brasileiros, além de artistas, diretores e outros profissionais que trabalham diretamente com a produção de filmes nacionais, bem como outros fãs de cinema. Sou eu que tenho que agradecer ao Clube do Filme por tudo isso. E sempre um prazer conversar sobre cinema. E se alguém tiver interesse pode me seguir no Instagram nos meus 2 perfis: o meu pessoal @filipe.camelo.79, ou então no @fccollection, onde posto detalhes e curiosidades sobre os filmes que possuo na coleção.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldecaruaru.com.br
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