Publicado originalmente no site GAZETA DO VOTORANTIM, em 22/04/2019
Votorantinense é um dos maiores colecionadores do país de
filmes em Super-8
Formato surgiu antes do VHS e foi a primeira forma de cinema
em casa
Por Ivana Santana
Filmes guardados na sala, nos quartos, em estantes, em
caixas, em prateleiras... Essa é a visão que se tem ao adentrar a casa do
professor de matemática Nelson Toledo Filho, o Nelsinho, de 58 anos. Nelsinho
mora no Centro de Votorantim e apresenta o programa Falando de cinema, na TV
Votorantim. Mas se engana quem pensa que os filmes de Nelsinho são em DVD,
Blu-Ray ou mesmo em VHS. O professor é, na realidade, um dos maiores colecionadores
de filmes em Super-8 do Brasil. Sua coleção possui mais de mil títulos, sendo
muitos deles, raros.
“O Super-8 são filmes em película de cinema. O ‘8’ vem da
largura da bitola do filme: são oito milímetros de largura, enquanto a película
do filme de cinema era de 35 milímetros. Essa foi a primeira forma de cinema em
casa”, explica Nelsinho. O Super-8 começou a ser produzido na década de 1960,
antes mesmo das fitas VHS. Nelsinho conta que o auge dos filmes em Super-8 foi
na década de 1970, mas sua coleção começou apenas em 1983.
“Nessa época, esse tipo de filme já estava chegando à sua
fase final. Quando surgiram as fitas de vídeo em VHS, o Super-8 foi perdendo
espaço. Na década de 1970 eu já conhecia os filmes em Super-8, mas eu não tinha
dinheiro para fazer uma coleção. Eu só consegui juntar dinheiro para começar
uma coleção em 1983”, lembra o professor.
A paixão de Nelsinho por cinema começou na infância, e a
vontade de montar a coleção foi motivada pelo amor de toda a sua família pelos
filmes. “Meus avós gostavam de cinema, meus pais gostavam de cinema e desde
pequeno eu era levado as sessões de cinema”, conta.
Dos filmes em Super-8, Nelsinho diz não ter só um preferido:
“têm vários que eu vivo revendo, como por exemplo, Os Pássaros, do Hitchcock, Guerra
nas Estrelas de 1977, os épicos bíblicos, entre outros”.
Super-8 tem suas curiosidades
Para assistir um filme em Super-8, de acordo com Nelsinho Toledo, é preciso apenas ter um projetor de cinema “em miniatura”, que rode os filmes em oito milímetros, uma sala escura e uma parede que fique a uma distância de quatro a cinco metros do projetor. Ele conta que adquiriu seu primeiro projetor quando iniciou a coleção, em 1983. Hoje, o professor tem cinco projetores de Super-8. Ele afirma que atualmente é possível encontrar projetores em sites de produtos usados custando entre R$ 200,00 e R$ 400,00.
“É óbvio que a qualidade de um DVD é superior, mas a graça
do Super-8 é assistir no escurinho, como se fosse no cinema, além de escutar o
barulho do projetor enquanto o filme é projetado. É aquela magia, igual as
salas de cinema de antigamente. Mas no geral, a qualidade do Super-8 é muito
boa”, explica.
Um dos fatores do Super-8 que Nelsinho destaca é que as
versões nesse formato não eram completas, mas sim versões condensadas dos
filmes completos. “A película de cinema era muito cara. Então, os filmes eram
lançados em versões resumidas. A maior parte dessas versões tinha 8 ou 17
minutos de duração. Um Super-8 com oito minutos de duração, por exemplo, tem 60
metros de filme. Nas versões condensadas estão as cenas mais marcantes dos
filmes. O Super-8 é uma lição de edição, porque era preciso pegar um filme que
tinha duas horas de duração e recontar essa história em 17 ou em 8 minutos com
começo, meio e fim. Ou seja, quem não assistiu ao filme na íntegra deveria
entender o filme assistindo a versão resumida. A grande vantagem é que nessa
vida corrida que a gente tem, como os resumos de Super-8 São curtos, é fácil
rever filmes. Em uma noite é possível rever vários filmes famosos”, relata.
Outro fato curioso sobre o Super-8 é que esse formato de
filme, segundo Nelsinho, não tinha como ser pirateado. Por isso, todos os
filmes de sua coleção são originais. “E o Super-8 sobrevive muito bem ao tempo.
A maior parte dos filmes da minha coleção foi fabricada na década de 1970 e
está em perfeito estado”, destaca.
A maioria dos filmes em Super-8 foram fabricados nos Estados
Unidos, Alemanha e Inglaterra, segundo Nelsinho. “O campeão de vendas em
Super-8 é Guerra nas Estrelas. A maioria dos títulos clássicos do cinema
produzidos até o início da década de 80 foi lançada em Super-8. Depois desse
período, o Super-8 parou de ser produzido em grande escala. Mas tinha uma
empresa na Inglaterra que insistiu em sobreviver. Ela só fechou as portas há
uns dez anos. Até então, ela ainda lançava em Super-8 versões de cenas
selecionadas de filmes famosos, inclusive filmes mais recentes, como Matrix e O
Senhor dos Anéis”, afirma.
Professor ainda quer aumentar a coleção
Nelsinho diz que tem a maioria dos grandes clássicos do cinema produzidos em Super-8 em sua coleção, e afirma que atualmente é um dos maiores colecionadores desse tipo de filme do Brasil: “eu comecei tardiamente a minha coleção. Por isso, alguns dos grandes colecionadores do Brasil com os quais eu tive contato, que eram mais velhos e começaram suas coleções antes de mim, já faleceram. No estado de São Paulo eu só conheço mais três colecionadores, mas a minha coleção é maior que a deles. Aqui no Brasil não tem muito colecionador de Super-8. Na Europa tem muita gente colecionando esse tipo de filme ainda hoje”.
Porém, o professor diz que não se preocupa com números e
quantidade, mas sim com os títulos que tem em sua coleção. Por isso, ainda hoje
ele compra títulos de Super-8. “Ainda tem alguns títulos que eu não achei para
comprar. Eu procuro colecionar todos os títulos das séries que eu tenho. Por
exemplo, a série de filmes do Sherlock Holmes com o Basil Rathbone, que ele fez
na década de 1940, é uma série composta por 12 filmes. Eu tinha dez, e tinha
dois que estavam difíceis de encontrar. Apenas em 2017 eu consegui adquirir esses
últimos dois para fechar essa série. Mas eu ainda tenho séries que não estão
fechadas”, explica.
Atualmente, Nelsinho diz que compra a maior parte dos
títulos do exterior, pela internet. “Graças a internet, a gente consegue
contato com outros colecionadores, em todas as partes do mundo. Também existem
sites especializados em leilões e vendas de filmes. Então, eu diria que hoje é
até mais fácil de você encontrar filmes do que na década de 80”, afirma.
Os preços de filmes em Super-8 atualmente, de acordo com o
professor, variam entre R$ 100,00 e R$ 200,00. “Não me lembro qual foi o título
mais caro que comprei, mas tem uns que paguei caro. Por alguns títulos raros eu
já cheguei a pagar R$ 400,00. Mas vale a pena”, conclui.
Reportagem publicada na página 05 da edição nº313, do jornal Gazeta de Votorantim, de 19 a 26 de abril de 2019.
Texto e imagens reproduzidos do site: gazetadevotorantim.com.br
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