sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Conheça o trio de projecionistas que cuida dos filmes no Cine Passeio

Projecionistas Cine Passeio - Os projecionistas do Cine Passeio, da esquerda para a direita: Allan Sergio Valach, Vanessa Borges de Lima e Luciano Antunes dos Santos. Foto: Tami Taketani/Plural


Luciano opera o projetor dentro de uma das cabines do Cine Passeio. Antes de dar o play no filme, os projecionistas testam as legendas, o som, a imagem, as luzes da sala e até o ar-condicionado. (Foto: Tami Taketani/Plural)

Publicação compartilhada do site PLURAL CURITIBA, de 22 de julho de 2023

Conheça o trio de projecionistas que cuida dos filmes no Cine Passeio

Uma mulher e dois homens são responsáveis por administrar os projetores digitais em oito sessões diárias do cinema curitibano

Por Cecília Zarpelon*

Hoje, com filmes e projetores digitais, a maioria das salas de cinema não conta mais com profissionais responsáveis pelo manuseio e exibição dos filmes – os chamados projecionistas. Em Curitiba, no entanto, ainda há pelo menos um lugar onde as cabines são operadas por mãos humanas – seis mãos, na verdade. E esse lugar é o Cine Passeio.

O Cine Passeio, cinema de rua que fica no centro da capital paranaense, funciona graças ao conhecimento técnico de um trio de projecionistas: Vanessa Borges de Lima e Allan Sergio Valach, ambos de 41 anos, e Luciano Antunes dos Santos, de 33.

São eles que administram as oito sessões diárias que passam nas duas salas do cinema: Ritz e Luz. Apesar de o Cine Passeio não atuar com projeções em película, Lima, Valach e Santos instalam, operam e fazem a manutenção de todo o sistema digital de projeção cinematográfica do espaço.

Cine Passeio

Com uma programação nova a cada semana, o trabalho de montar a playlist com os filmes (que são armazenados em um HD externo) começa no domingo à noite, quando a equipe do Cine Passeio encerra a bilheteria. Na segunda-feira, eles fecham a programação e, na quarta-feira, chegam os arquivos dos filmes que serão exibidos ao longo de uma semana. 

Vanessa Borges de Lima, a primeira projecionista

Primeira mulher projecionista na história da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Lima nunca havia imaginado trabalhar com cinema. Ela era da área farmacêutica quando entrou no Cine Passeio, em 2021, e agora atua na projeção dos filmes. 

“Eu ainda estou engatinhando, mas eles [Valach e Santos] me ensinam todo o dia. É um mundo completamente novo [o da projeção], e eu gosto bastante”, afirma. 

Como não existe esse tipo de formação profissional no Brasil, os projecionistas acabam aprendendo o ofício na prática, a partir do conhecimento que é passado de pessoa para pessoa. Lima conta que tudo o que sabe foi ensinado por Valach e Santos.

“Eu tenho muito a aprender ainda e cada coisa nova é um desafio”, diz ela.

Allan Sergio Valach, o projecionista de película

Dos 21 anos em que Valach trabalha na área cinematográfica, 18 foram dedicados exclusivamente à projeção de filmes. Ele já foi auxiliar de operações, cuidou da bombonière, mas o que gosta mesmo é de ser projecionista, função que exerce no Cine Passeio desde 2019. 

Valach, que acompanhou o processo de digitalização das salas de cinema de Curitiba em 2015, conta que na época houve uma queda no número de projecionistas, que antes eram conhecidos como operadores de cabine.  

“Hoje o projetor antigo está perdendo espaço para o pessoal que vem da tecnologia. Agora é tudo digitalizado. Mas apesar de ter tornado a profissão mais escassa, a digitalização facilitou o trabalho e melhorou principalmente a qualidade da imagem.”

Segundo Valach, as películas vinham em rolos. O filme era colocado na bobina, que aguentava duas horas de produção, e depois disso era preciso emendá-los. “Me lembro que o filme Senhor dos Anéis era muito longo e tínhamos que dar um intervalo no meio. Para isso a gente colocava uma cola preta. O projetor continuava rodando e aquela cola passava por 10 minutos. Depois emendava de novo e voltava o filme. Era bem manual.” 

Naquela época, o projecionista conta que era preciso ficar na cabine durante praticamente todo o filme para resolver qualquer imprevisto. “Às vezes a película enroscava, arrebentava ou queimava. Outras vezes o filme caia no chão, daí não tinha o que fazer, tinha que cancelar a sessão porque não dava tempo de desembolar.”

Luciano Antunes dos Santos, o primeiro projecionista do Cine Passeio 

Santos chegou no Cine Passeio no final de 2018 como técnico geral. “Eu praticamente abri o cinema”, diz. Foi aprender a função de projecionista em 2019, com Valach. “Apareceu a oportunidade e fui aprendendo na marra e na prática.”

Santos, que entrou na área do cinema como contrarregra, hoje faz de tudo um pouco no Cine Passeio. Além das projeções, ele cuida das partes técnicas que envolvem o som e a iluminação do espaço.

“Eu gosto de ser útil para tudo. Então o que precisar eu faço.”

Para ele, o importante é que as pessoas tenham uma experiência boa quando vão assistir aos filmes. “Às vezes o pessoal sabe que a gente trabalha aqui, mas não sabe o que fazemos, só quando dá algum problema na projeção. E nós sempre nos preocupamos em estar lá para tentar resolver a questão. O que não queremos é que não tenha cinema.”

Ofício em extinção?

São poucos os profissionais projecionistas que atuam hoje Curitiba devido sobretudo à automação das salas de cinema. No Cine Passeio, no entanto, apesar de grande parte do trabalho ser digital, ainda são necessárias pessoas para tudo funcionar.

“A profissão vai diminuir cada vez mais, mas tem coisas que a tecnologia não faz sozinha”, diz Valach.

Luciano opera o projetor dentro de uma das cabines do Cine Passeio. Antes de dar o play no filme, os projecionistas testam as legendas, o som, a imagem, as luzes da sala e até o ar-condicionado. (Foto: Tami Taketani/Plural)

“O Cine Passeio é diferente porque temos contato com o público, ao contrário de cinemas de shopping, por exemplo, em que a pessoa faz tudo sozinha. Aqui as pessoas podem conversar com a gente, reclamar do ar, falar sobre o volume, tomar um café. A convivência com pessoas é muito melhor do que com máquinas”, diz Santos.

Para Vanessa, é essencial que o público conheça o trabalho dos projecionistas e se interesse por ele não apenas quando há algum problema com a projeção. “A digitalização, querendo ou não, é uma ameaça para nós e meu sonho é que a profissão não acabe, porque é muito importante.”

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* Cecília Zarpelon – É jornalista formada pela PUCPR. Faz especialização em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global. Tem especial interesse pela palavra escrita e pela fotografia.

Texto e imagens reproduzidas do site: plural jor br

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