Alan Duarte em frente a tela de seu cineminha
Um sonho de Cinema Paradiso...
Por Gabriela Angeli
A paixão de Alan pelo cinema começou bem cedo. Aos 7 anos,
ao entrar na sala escura, seus olhos encheram de lágrimas e mal podia acreditar
na imagem que via naquela tela enorme; achava que os cavalos do filme estavam
bem atrás dela. Havia ficado encantado com a possibilidade de ver inúmeras
histórias, bem à sua frente.
E como uma boa criança de 7 a 10 anos, Alan colocou na
cabeça que deveria ter um cinema só dele. Descobriu na cidade na qual morava um
homem que tinha um projetor e, por acaso, era pai de um amigo seu. Durante um
bom tempo tentou negociar com o tal homem a venda do equipamento e, após várias
tentativas, o pai de seu amigo enfim vendeu a aparelhagem para o jovem garoto,
pois não aguentava mais tanta insistência.
Mas ele ainda não estava contente. Já mais crescidinho
comprou uma nova casa e conseguiu toda a aparelhagem que precisava trabalhando
como jornalista e cantor. Começou então a deixar o portão de sua casa aberto
para que todos pudessem entrar e assistir suas relíquias. Tinha montado seu
próprio cinema.
Amante das velhas películas, Alan sempre aceitava doações de
filmes antigos e também fazia trocas com outros cinéfilos. Nesta época já tinha
mais de 300 obras e orgulhava-se de ter viajado para vários lugares do Brasil
só para buscar um novo filme, porém não foi preciso ir muito longe para buscar
o último: um rolo de película de nitrato de prata de Marcelino, pão e vinho, a
história que mais gostava. Para ter o que tanto queria havia apenas uma
condição: não assistir ao filme e guardá-lo como lembrança, já que o material
era bem antigo e altamente inflamável.
Era uma noite de quinta-feira e Alan ouviu atentamente as
recomendações do doador, mas não suportou deixar o filme guardado. Assistiu
sozinho o primeiro rolo e, ao colocar o segundo, nem imaginava o que iria
acontecer. Sentado em seu próprio cinema ouviu uma explosão na cabine de
exibição e em pouco tempo o fogo destruiu o que ele levou anos para construir.
A cena era quase uma refilmagem de Cine Paradiso.
Após o triste incêndio, Alan começou a reconstruir tudo.
Enquanto isso levava os poucos projetores e seus filmes que restaram em uma
caravan e os exibia em qualquer lugar, bastava convidá-lo. Sem a ajuda de
ninguém, começou a levar cultura a pessoas que nunca tinham tido a oportunidade
de ir a um cinema e criou o projeto Cinema Itinerante, que mantém até hoje
(mesmo após ter reconstruído a sala de cinema em sua casa).
Quem quiser conferir esta história pode ir até Itatiba,
interior de São Paulo, e perguntar ao próprio Alan Duarte se tudo isto que
escrevi é real ou não. Para encontrá-lo basta ir ao seu novo espaço, batizado
de Cineclube José Cesarini. Lá você encontrará um cinema à moda antiga, com
gongo anunciando o início da sessão e uma grande cortina, que é aberta para que
o filme seja exibido. Com certeza vai se surpreender tanto ou ainda mais que eu...
Texto reproduzido do blog: agoraeujafalei.blogspot.com.br
De: Gabriela Angeli
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuitos anos depois fui encontrar meu texto em seu blog, Armando. Deixou meu dia mais feliz. Obrigada pelo carinho!
ResponderExcluirGrande abraço Gabrieli e receba também meu muito obrigado.
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