O projecionista Miciano Manoel da Silva, 42, entre o digital brasileiro
(ao fundo) e o tradicional projetor de 35 milímetros, em SP
Tanto no Cinemark, terra dos blockbusters, quanto no Reserva
Cultural, espaço dos filmes de arte, dois equipamentos disputam espaço na
cabine de projeção.
"Quando comecei, usava carvão pra iluminar a tela.
Agora, no digital, é só apertar o play. Perdeu toda a magia", descreve o
projecionista Miciano da Silva, do Reserva. Mas, queiram os amantes da película
ou não, a transição é um caminho sem volta - e com algumas pedras.
Se no mundo todo o processo tem sido marcado por certa
confusão e muita disputa comercial, no Brasil há um grande espaço vazio a ser
ocupado e uma ausência de regras que começa a causar transtornos.
"Tenho quatro salas e oito projetores", diz,
espantado com o próprio negócio, Jean-Thomas Bernardini, do Reserva.
"Estamos mandando nossos técnicos fazer faculdade de engenharia elétrica
ou eletrônica. O cinema está deixando de ser mecânico", constata Marcelo
Bertini, do Cinemark.
Há, porém, uma diferença fundamental entre os dois cinemas.
O Cinemark usa o sistema DCI (Digital Cinema Iniciative), acordado pelas sete
grandes distribuidoras mundiais.
No Reserva, existe o sistema Rain, criado no Brasil e
recusado por Hollywood. Enquanto o DCI tem projetores de capacidade 2K, o
sistema Rain trabalha com 1,3K. A diferença estende-se para luminosidade,
segurança antipirataria e som.
Pois é esse sistema nativo que está em xeque. "Conforme
chegam os projetores 2K, fica evidente a limitação. Fora daqui, o sistema Rain
nem é considerado digital", diz Rodrigo Saturnino Braga, da Sony Pictures.
As falhas originaram até um manifesto assinado por críticos
inconformados com o que aconteceu a "Ervas Daninhas", de Alain
Resnais, no Festival do Rio. A versão digital do filme chegou com formato e
condições técnicas alteradas.
"A ausência de normas técnicas para o digital no Brasil
fez com que o sistema se desenvolvesse sem alguns cuidados. Como se vai medir a
luz necessária se não existe um padrão?", avalia Luiz Gonzaga de Luca,
autor do livro "A Hora do Cinema Digital" (Imprensa Oficial).
Para os filmes em 2D, resta, por ora, a Rain. "EUA,
Europa, Ásia e até o México estão entrando na transição", diz Braga.
"Estamos ficando atrasados". (Ana Paula Sousa da Folha de S. Paulo).
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Sistema Rain viabiliza lançamento de brasileiros
Em cinco anos, não haverá mais cinema analógico. Mas o
modelo DCI foi desenhado para as grandes salas dos EUA e da Europa.
No Brasil, ainda temos mais filmes do que salas. Imagina
excluir ainda mais exibidores?" Com essa declaração, José Eduardo Ferrão,
da Rain, justifica a existência do sistema engendrado no Brasil."
Devem ser buscados projetores adequados para diferentes
mercados", defende.
O argumento se fortalece quando se trata de filmes
brasileiros ou produções estrangeiras menores. "Com o digital, lanço o
filme em mais salas e arrisco mais", diz Jean-Thomas Bernardini,
distribuidores dos filmes de Alain Resnais ("Ervas Daninhas") e
Michael Haneke ("A Fita Branca").
Não houvesse a Rain, teriam ficado escondidos numa só sala
documentários como "Cartola" e "Santiago". "Vai ver se
em Fortaleza ou Tubarão alguém reclama da qualidade do sistema Rain. Elas ficam
é felizes de poder ver determinado filme", diz Adhemar Oliveira.
O que torna o lançamento pelo sistema Rain mais viável é a
diferença de custo. O distribuidor deixa de gastar com negativo, transporte e
armazenamento.
"Não se trata de simples troca de projetores",
escreve Luca, no livro "A Hora do Cinema Digital". "Mas toda
mudança tecnológica no cinema é trágica, no sentido de que beneficia os maiores
e mais ricos.
"A mudança não diz respeito apenas ao cinema, mas ao
negócio do entretenimento. "Poderemos ter shows ao vivo, partidas de
futebol, peças de teatro ou uma ópera sendo exibida nas salas", diz Fábio
Lima, criador do MovieMobz, que organiza sessões pela internet. "Cada
público poderá buscar o que for do seu interesse." ( Ana Paula Sousa).
Publicado no Blog do Júnior em 18 de novembro de 2009.
Foto e texto reproduzidos blogdojuniorr.blogspot.com.br
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