Vida e obra de José de Oliveira.
José de Oliveira, o Zé Pintor, é um dos pioneiros na
atividade cinematográfica na cidade de São Carlos. Nascido em 1930, Zé Pintor
possui um envolvimento com o cinema que data da sua época de menino, quando já
realizava o “Cineminha” – que consistia em uma espécie de teatro de sombras
realizado com bonecos de papel contra a luz de velas – com sessões na sala de
sua casa, ao preço máximo de um quilo de alimento como ingresso, reunindo
diversas crianças do bairro em torno do seu trabalho.
Na adolescência, José de Oliveira se envolveu com as salas
de exibição da cidade de São Carlos. No início como voluntário, e
posteriormente como profissional contratado, trabalhou nos principais cinemas
de rua da época – o Cine São José, o Cine Avenida e o Cine São Carlos – além de
salas em outras cidades do interior, como no Cine Teatro Polytheama (1947) em
Jundiaí, e em Santo André, no Cine Tangará (1948/1949).
José de Oliveira é um artista plástico autodidata (daí seu
popular apelido), que aprendeu a técnica da pintura praticando e estudando
aulas de revistas, e observando alguns pintores durante a sua juventude. Em
1946, Zé Pintor conheceu Liugi De Carli, pintor italiano que residiu em São
Carlos por 1 ano, e que contribuiu no aperfeiçomento de algumas técnicas de
retrato e paisagem.
Logo, Zé assumiu essa habilidade como profissão, pintando
fachadas de comércios, quadros encomendados, réplicas de fotografias e,
principalmente os cartazes de cinema dos filmes a serem exibidos, o que
intensificou sua paixão e sua veia criativa através da produção de imagens.
Nos anos 50, Zé continuou trabalhando nos cinemas da cidade,
aprofundando o seu interesse pela fotografia. Assim, ele adquiriu (comprando e
trocando) algumas câmeras fotográficas da época, tirando fotos, revelando e
ampliando-as no laboratório de sua casa.
Em 1958, o artista comprou uma câmera filmadora portátil
Keystone A12 16mm, e começou a realizar suas primeiras filmagens durante os
finais de semana, quando todos podiam se reunir para atuar nas cenas. Vale
ressaltar que em São Carlos não haviam laboratórios que trabalhassem com a
bitola 16mm. Seus primeiros filmes eram revelados pela Fotóptica de São Paulo,
localizada na rua Conselheiro Crispiniano, e montados em sua casa.
Com o passar dos anos, Zé aprendeu a revelar películas P/B,
transformá-las de negativo em positivo e a fazer cópias – tudo em seu
laboratório, a partir de técnicas empíricas de tentativa e erro, e em pesquisas
sobre fotografia e cinema, sobre os processos químicos e físicos de revelação
de películas.
Para a realização das filmagens, José de Oliveira trabalhava
em todas as etapas da produção e da criação cinematográfica. Além dos roteiros,
ele selecionava e dirigia os atores, montava cenários, criava o maquinário e
maquetes, definia os enquadramentos, montava a luz, fotometrava e focava suas
imagens, realizava trucagens (fusões, fades, intertítulos) com técnicas
alternativas simplificadas e muito criativas. Quando não conseguia fazer todas
essas funções, contava com a ajuda das pessoas ao seu redor – geralmente os
atores dos filmes.
Zé considerava a presença dos atores de seus filmes e as
articulações que esses faziam para contribuir na produção – conseguir locações,
figurinos, convidar atores de terceira idade, crianças, etc – como um elemento
divino em sua obra, um gracejo, uma vontade de Deus que permitia aos envolvidos
vivenciarem o momento da criação de um filme, eternizando-se no imaginário e no
coração das pessoas que participaram daquela experiência.
Após o processo de revelação e replicação de películas, Zé
organizou poucas sessões públicas, frequentadas pelas pessoas envolvidas no
filme e suas famílias. No entanto, esses filmes, idealizados com diálogos e
trilha sonora, não foram sonorizados. Os motivos foram econômicos e
tecnológicos, uma vez que ele não teve acesso a um gravador Nagra, nem a um
estúdio de som para dublar os filmes, e o processo de sonorização em São Paulo
era muito caro para as suas condições.
Tal impasse desestimulou Zé Pintor, que engavetou suas obras
e aos poucos se distanciou da produção e da exibição de cinema. A maior parte
do material produzido por ele foi vendido, outros sumiram (se perderam pela
falta de cuidado na armazenagem, ou por furtos em sua casa) restando apenas
poucas películas em seu laboratório, onde ele armazena os negativos originais
de seus três principais filmes em 16mm.
Nos anos 80 e 90, com a crise dos cinemas de rua, Zé Pintor
se afastou do cinema e concentrou seu trabalho na pintura. No começo dos anos
2000 é organizada uma mostra em sua homenagem, realizada pelo SESC São Carlos e
pela videolocadora Video 21, sobre sua trajetória como cineasta. Essa mostra
permitiu que o realizador de vídeos Eduardo Sá fizesse o telecine amador dos
seus principais média-metragens (intervindo nos filmes com cortes de algumas
cenas e efeitos digitais nas imagens) e dirigisse um documentário sobre a
trajetória do Zé para ser apresentado na Mostra, intitulada Zé Pintor: um olhar
sobre São Carlos.
No ano de 2007, foi organizada pela Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar) através do Festival Contato a Mostra Sanca – uma pesquisa
dos principais filmes já realizados na cidade de São Carlos, e José de Oliveira
foi o homenageado. A organização dessa mostra possibilitou que um grupo de
realizadores conhecessem Zé Pintor e começassem a construir uma relação de
trabalho com ele. Em 2008, o mesmo grupo de realizadores fez o trabalho de
sonorização do filme Testemunha oculta, em um processo de reconstrução do
roteiro realizado pelo próprio diretor em conjunto com a equipe de sonorização
do filme.
Em 2009, o mesmo grupo em conjunto com José de Oliveira
começou a criar o filme Delírios de um cinemaníaco, dando continuidade à sua
obra e expondo ao mundo a sua trajetória de vida.
Filmografia de José de Oliveira como diretor:
- Uma voz na consciência (1961) – média-metragem
- Príncipe Branco (1964) – curta-metragem (Inacabado)
Foto e texto reproduzidos do site: filmesparabailar.com/zepintor/?page_id=31
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