Publicado originalmente no blog Western Cinemania, em 8 de dezembro de 2011.
Archimedes Lombardi agraciado com o prêmio "Cinema" do IBAC
Por Darci Fonseca.
Há 32 anos um apaixonado por cinema exibe filmes em 16 mm
nos circuitos alternativos de São Paulo. Seu nome é Archimedes Lombardi,
nascido na pequena cidade de Santo Anastácio, mas radicado em São Paulo há
quase 50 anos. Quando aqui chegou o cinema brasileiro efervescia com autores
como Anselmo Duarte, Luís Sérgio Person, Joaquim Pedro de Andrade, Glauber
Rocha, Rogério Sganzerla, Ozualdo Candeias e outros. Archimedes tornou-se um
cinéfilo verdadeiro, não só pela frequência com que ia aos cinemas da
Cinelândia Paulistana mas e principalmente aos cinemas do bairro que escolheu
para viver, o histórico Ipiranga. Com seu jeitão simples, extrovertido e
bonachão Archimedes se aproximou e se tornou amigo de cineastas, produtores e
atores. Chegou até mesmo a fazer figuração em filmes, no “Cinema da Boca”, num
tempo em que era magro e tinha vasta cabeleira. Como no Brasil cinema nunca foi
uma atividade muito confiável, Archimedes ganhava a vida como gráfico,
inicialmente exercendo a profissão de linotipista, a mesma que Anselmo Duarte
(Zé do Lino) tinha em “Absolutamente Certo!”. Mais tarde Archimedes tornou-se
empresário do ramo gráfico, atividade que mantém até hoje, aos 68 anos de
idade.
ARCHIMEDES E SEU PROJETO CULTURAL - Tanto Archimedes gostava
de filmes que passou a colecioná-los, isto num tempo em que nem se falava em
VHS. Sua coleção tomou forma mesmo com as latas redondas que guardavam os
inestimáveis celulóides em 16 mm. Paralelamente a sua atividade profissional
como gráfico, Archimedes Lombardi fundou a Associação Brasileira dos Colecionadores
de Filmes em 16 mm, que reunia outros colecionadores e mantinha intercâmbio com
apaixonados como o também linotipista Ângelo Paulino, dono de um fantástico
acervo. Foi então que Archimedes teve a idéia de exibir seus raros filmes em 16
mm, filmes de há muito fora de circulação e que eram apenas doce lembrança na
memória de quem gostava de cinema. Archimedes bateu então à porta da Secretaria
Municipal de Cultura e conseguiu espaço na Biblioteca Municipal do Ipiranga,
hoje “Biblioteca Temática Roberto Santos”, em homenagem ao importante cineasta
paulistano. Autorizado pela Prefeitura Archimedes Lombardi passou a promover
sessões semanais, sempre aos sábados à noite, ali na Rua Cisplatina, aos pés da
Colina Histórica, no mais paulistano dos bairros, o Ipiranga. À medida que os
cinemas se tornavam estacionamentos, supermercados ou igrejas, mais aumentava a
frequência das sessões da Biblioteca do Ipiranga que muitas vezes era pequena
com seus 160 lugares para acolher tantos espectadores. As sessões, claro, eram
gratuitas, mas a satisfação de Archimedes Lombardi atrás de seu projetor vendo
a sala sempre lotada era a sua mais inestimável recompensa.
FILME RARO DE CARLOS REICHENBACH - Essa atividade prosseguiu
por anos a fio, por mais de três décadas. Sempre que possível Archimedes
Lombardi convidava personalidades ligadas ao cinema para fazer palestras antes
das exibições, entre elas escritores como Antônio Leão da Silva Neto, críticos
como Rubens Ewald Filho, produtores como Ari Fernandes, lendas vivas como o
ator Carlos Miranda e cineastas como Anselmo Duarte e Carlos Reichenbach. A
amizade de “Carlão” Reichenbach com Archimedes Lombardi começou quando alguém
avisou Reichenbach que seu primeiro filme, “Paraíso Proibido”, seria exibido
numa sessão lá na Biblioteca do Ipiranga. Para “Carlão” aquele filme estava
desaparecido e o diretor não acreditou que o filme ainda existisse pois
sabia-se que nenhuma cópia havia sobrevivido. Porém a única cópia existente
estava até que bem preservada na coleção de Archimedes Lombardi para alegria de
Reichenbach que havia se tornado o principal cineasta de São Paulo com filmes
como “Lilian M. – Relatório Confidencial”, “Alma Corsária” e “Garotas do ABC”.
CARINHO PELOS COWBOYS - Archimedes Lombardi tem gosto
bastante diversificado, ou melhor, não há gênero de filme que esse misto de
colecionador-gráfico-agitador cultural não aprecie. Raridades do cinema
mexicano, europeu de modo geral, filmes de Kurosawa, Yasujiro Ozu, filmes noir,
terror, melodramas, musicais e certamente faroestes. Este último é um gênero
pelo qual Archimedes tem especial predileção, até porque no Cine Guarani, a
única sala exibidora, lá de Santo Anastácio o que mais Archimedes assistia eram
faroestes de Buck Jones, Hopalong Cassidy, Roy Rogers, Rocky Lane e outros. E
durante a semana, após as aulas, a brincadeira preferida dos meninos da cidade
era brincar de mocinho e bandido nos cenários de Santo Anastácio, cenários que
muito se assemelhavam a Corriganville, Iverson Ranch e Alabama Hills. Com esse
carinho pelo faroeste, Archimedes tem entre seus amigos os cowboys paulistanos
da confraria dos amigos do western.
PRÊMIO IBAC DE CINEMA - Após tantos anos de dedicação quase
anônima ao cinema, especialmente em relação aos filmes em 16 mm, o Instituto
Brasileiro de Arte e Cultura - IBAC, em sua premiação do ano 2011, reconheceu a
inestimável contribuição de Archimedes Lombardi à preservação e divulgação dos
filmes em 16 mm, concedendo a ele Archimedes, o Prêmio IBAC 2011 da Categoria
Cinema. A cerimônia de premiação ocorreu no Auditório da Aliança Francesa, em
São Paulo, no dia 23 de novembro último, tendo como Mestre de Cerimônias o ator
Milton Gonçalves. Curiosamente, aquela mesma sala da Aliança Francesa onde 50
anos antes Archimedes Lombardi assistiu aos clássicos de René Clair, Jean
Renoir, Jacques Tati e aos primeiros trabalhos de Godard, Truffaut, Chabrol e
outros, serviu de palco para que o nome de Archimedes fosse aplaudido por seus
amigos, familiares e principalmente pelos admiradores de seu maravilhoso
trabalho em prol do cinema. Parabéns, Commendatore!
Texto reproduzido do blog: westerncinemania.blogspot.com.br
Foto: ibacbr.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário