Publicado originalmente no Jornal ZH, em 02/12/2012
O fim da fita
Depois de mais de cem anos de serviços prestados, película
de 35mm sai de cena
Reviravolta tecnológica consolida-se com a alta qualidade do
suporte digital
por Marcelo Perrone.
A resistência foi brava. Na ativa desde que os irmãos
Lumière rodaram a manivela de seu cinematógrafo, em 1895, o filme 35mm começa a
se despedir do papel de protagonista na história do cinema.
Com o suporte digital finalmente à altura da qualidade do
registro em película, consolida-se mais uma reviravolta tecnológica, que agora
envolve todas as etapas da realização de um, veja só, ainda chamado filme: da
captação da imagem à exibição nos cinemas.
Nos Estados Unidos, a previsão é de que em 2013 toda a rede
de exibição comercial esteja digitalizada. No Brasil, apenas 20% das 2.352
salas estão digitalizadas no parâmetro estabelecido pela DCI (Digital Cinema
Initiatives), comissão formada pelos grandes estúdios de Hollywood que, em
2005, firmou os padrões técnicos do cinema digital. Grandes redes exibidoras do
país, porém, já exibem índices superiores a 30%. O avanço digital foi possível
também pela superação de entraves burocráticos, como definir quem paga por essa
transição. Foi criado o modelo de financiamento chamado VPF (Virtual Print Fee,
ou “taxa de cópia virtual”), um “racha” que envolve estúdios, distribuidores e
exibidores.
A digitalização do circuito no Brasil conta com apoio do
governo federal, que, via Fundo Setorial do Audiovisual e BNDES, financiará a
maior parte dos investimentos das empresas nacionais em equipamentos DCI. Em
2012 também foi reduzida em 30% a carga tributária para importação do sistema
de projeção DCI. Uma sala neste padrão, que possibilita ainda a exibição 3D,
tem custo de
R$ 400 a R$ 500 mil.
– Esse apoio fará a digitalização deslanchar em 2013 – diz
Flávio Panzenhagen, presidente do Sindicato das Empresas Exibidoras
Cinematográficas do RS e dono de salas em Santo Ângelo. – Desde junho, só opero
com o DCI. Pude estrear filmes como Amanhecer junto com todas as capitais.
Antes, teria de espera mais de quatro semanas para receber uma cópia em
película.
A cópia em 35mm tem custo superior a US$ 1 mil e exige uma
complexa logística para levar as latas com o filme ao exibidor e, depois,
retorná-las ao distribuidor. A cópia digital, por cerca de US$ 200, circula num
HD (disco rígido), que é acoplado ao equipamento DCI, com o arquivo
criptografado, e pode ser reutilizado. Além de proteger contra a pirataria, a
criptografia garante que a projeção naquele equipamento será dentro dos padrões
de qualidade pré-definidos.
O desempenho de Amanhecer – Parte 2 ilustra esse novo tempo.
Um terço das 1,2 mil salas que exibem o filme no Brasil o fazem em formato
digital. O lançamento maciço atingiu praças periféricas e ajudou o filme a ser
visto, em duas semanas, por 7 milhões de espectadores.
– A partir de 2013, essa entrega deve ser feita via
satélite. O HD também pode ter problemas logísticos, pois depende de
transporte, de aeroporto – diz Jorge Assumpção, gerente de programação da Paris
Filmes, distribuidora de Amanhecer.
Segundo Assumpção, em alguns lançamentos, como a comédia
nacional De Pernas pro Ar 2, dia 28 de setembro, a Paris fará cópias digitais
para também atender salas que ainda operam os sistemas Auwe e Mobz, que
popularizaram a exibição digital no país de forma controversa – os cinéfilos
mais exigentes torcem o nariz para a qualidade inferior deste modelo de
projeção.
Em tempos passados, o espectador gritava e vaiava diante de
um vacilo do projecionista com o foco ou a troca de rolo. Agora, esse
espectador precisa reeducar o olhar, um tanto destreinado pela diversidade de
estímulos visuais, para voltar a valorizar uma projeção de qualidade – garantia
asssumida pela nova era do cinema digital.
Digitalização no mundo
Percentual de salas com equipamento de projeção no padrão
DCI, homologado pelos grandes estúdios:
> 70% nos EUA
> 60% na Europa
> 100% na Noruega e em Hong Kong
> 22% no Brasil (35% nas redes Cinemark, Cinépolis e
Araújo)
Fonte: Filme B e Luiz Gonzaga de Luca, especialista em
tecnologia do setor cinematográfico
Vampiros digitais
Como base no grande sucesso e nos recordes batidos pelo
desfecho da saga Crepúsculo, pode-se observar a evolução da projeção digital no
Brasil:
Amanhecer – Parte 2 (2012) foi lançado em 1.223 salas, 400
delas com exibição digital
Amanhecer – Parte 1 (2011) foi lançado em 1.100 salas, 150
delas com exibição digital
Fonte: Paris Filmes.
Filme 35mm começa a se despedir do papel de protagonista na
história do cinema
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Agencia RBS
Texto e Imagem reproduzidos do site: zh.clicrbs.com.br
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