Foto: Rafaella Fraga/G1.
Publicado originalmente no site G1 RS, em 15/08/2014.
Festival de Cinema de Gramado tem o mesmo projecionista há
34 anos
José Luis de Almeida, 61 anos, participa de cerca de 40
festivais pelo país.
Engenheiro paulistano conta que paixão por projetar começou
na infância.
Por Rafaella Fraga.
Do G1 RS, em Gramado.
Há mais de três décadas, o mesmo homem é o responsável por
projetar, na telona do Palácio dos Festivais, todos os filmes que disputam os Kikitos
do Festival de Cinema de Gramado, na serra gaúcha. Distante da badalação e
apesar de ficar quase o tempo inteiro dentro de uma pequena e escura sala com
dezenas de aparelhos, o engenheiro paulistano José Luis de Almeida, 61 anos, é
peça chave dentro do evento. Das 42 edições, Zé, como é conhecido entre os
funcionários e organizadores, esteve em 34 delas, consecutivamente.
“Gramado para mim é uma experiência totalmente diferente.
Tem mais glamour. Os outros festivais tem uma parte mais técnica. Aqui, as
pessoas aparecem mesmo para ver os artistas e essa beleza toda”, analisa o
projecionista.
Atualmente, Zé viaja quase o ano inteiro para trabalhar em
cerca de 40 festivais de cinema pelo país. Com formação superior em engenharia
eletrônica, ele conta que a paixão pelo ofício de projetar filmes começou
quando ainda era criança.
Aos 9 anos de idade, entrou em uma sala de cinema pela
primeira vez e ficou curioso com o ponto de luz que gerava a imensa imagem em
movimento que via projetada na tela. “Eu era muito moleque, mas lembro que
fiquei encantando mesmo com aquela luz que saía da cabine para a tela.
Encantado mesmo. Na época não tinha nem televisão direito”, relata.
A partir disso, passou a assistir aos filmes de dentro da
sala de projeção, em um cinema de rua situado ao lado do restaurante do pai, no
bairro Vila Maria, em São Paulo. “Aquilo me levou para cabine. Fui lá, fiz
amizade com todo mundo, perguntava muito. Ia todo o domingo para a cabine e fui
aprendendo. E fui fazer engenharia por causa de cinema”, sustenta.
Cuidadoso, Zé reserva 30 minutos antes do início de cada
exibição para preparar o próprio equipamento e testar detalhes de som, luz e
imagem. “Nunca deixei de passar um filme. A gente resolve tudo nos bastidores”,
afirma.
Diferente de quando era criança, hoje ele garante ser
impossível assistir aos filmes dentro da sala de projeção. “É uma mentira isso
de que projecionista vê os filmes aqui de dentro. Ver por aquele buraquinho é
horrível. Sem falar que você fica preocupado se está tudo passando bonitinho. É
melhor não ver. Só em uma sala de cinema”, avalia.
Longe do tapete vermelho, a estrela anônima do Festival de
Gramado diz saber lidar com os diretores de cinema, em sua maioria exigentes
com a qualidade da projeção. Alguns, inclusive, o procuram para fazer testes
antes da exibição. “Todos os diretores são difíceis, porque eles acham que o
filme deles é o filho deles. Então você não pode falar mal do filho do cara.
Mas eu estava preparado para lidar com esse tipo de público”, justifica.
A paixão pelo trabalho é tanta que não o deixa sequer pensar
em aposentadoria. “Eu quero morrer em pé trabalhando. Com saúde, eu quero fica
trabalhando. Não quero me aposentar, não”, conclui.
Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul
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