Foto: Jandyr Nascimento/Agencia RBS
Publicado originalmente no site A NOTÍCIA, em 25/10/2017
Seu Holetz, uma bela memória do cinema do Cidade das Flores Nascimento
Rubens Herbst relembra as conversas com o gerente cinéfilo
do antigo Cine Cidade
Por Rubens Herbst
Podem conferir,
nostalgia é a palavra de ordem na caixa de comentários de cada nova notícia
publicada no AN a respeito das novas salas de cinema do Shopping Cidade das
Flores (que inauguram neste sábado). Elas resplandecem com uma recepção
acolhedora, poltronas recém-saídas da fábrica e tecnologia de última geração,
mas chegam carregando as memórias de quem viu filmes ali em outros tempos. Foi
só dez, 15, 20 anos atrás, mas o quanto não muda - nós, os hábitos, a empresa
exibidora, o shopping, o próprio cinema - num intervalo desses, não é mesmo?
Este jornalista "gastou" o carpete vermelho do
antigo Cine Cidade, de tanto que andou por ali. Guarda até hoje os tíquetes de
Kill Bill volumes 1 e 2 e de uma sessão à meia-noite da ópera-rock Tommy
(1975), e agora lembra até com certo carinho do cheiro de mofo e dos assentos
em frangalhos de quando os dois espaços agonizavam. Mas nenhuma lembrança é tão
querida, nenhum filme ou companhia é tão memorável quanto as conversas com seu
Holetz, o gerente do cinema.
Herbert Holetz era um senhor já avançado na idade, de parcos
cabelos brancos, magro e olhar profundo, mas absolutamente cativante em sua
simpatia e empolgação no que se referia à arte de fazer filmes. O homem era um
arquivo vivo, com um fervor especial em
relação a era de ouro de Hollywood. Mas se atualizava, tanto que fazia questão
de assistir a tudo (ou quase tudo) que era exibido em seu
"território" - porém, gostava de fazê-lo sozinho, numa sessão
particular, sem os indesejáveis cochichos e ruídos de refrigerantes sendo
sugados. Para ele, assistir a um filme era quase um ato religioso.
Isso fazia de seu Holetz muito mais do que um simples
gerente. Além de supervisionar o bom andamento das salas, ele fazia questão de
pegar o ônibus até o AN para entregar pessoalmente a grade de programação,
fotos e releases de imprensa das estreias da semana. Ali, na redação, ficávamos
uns bons minutos em conversas cinematográficas (com o perdão do trocadilho),
que não raras vezes continuavam em sua sala no shopping, localizada no andar
superior, ao lado do projetor e em meio a um sem-número de cartazes e outros
materiais. Seu Holetz era um maníaco colecionador da história do cinema, e não
havia jornal ou revista que resistisse ao seu ímpeto por mais informação.
Assim passei muitas tardes no Cine Cidade, e sem sequer
pisar na sala de exibição. Estar na presença de seu Holetz já era uma aula de
cinema, mas sua simplicidade e seu afeto eram a arte do calor humano em si.
Texto e imagem reproduzidos do site: anoticia.clicrbs.com.br
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