Saudosismo e expectativa antes da reinauguração - Antônio Moya, técnico do local
há 29 anos, aparece entre projetor antigo e o novo: "O bom cinema resiste"
Publicado originalmente no site Folha de Londrina, em 27 de janeiro de 2018
Ibiporã terá cinema de volta
Por Pedro Marconi (Reportagem Local)
O Cine Teatro Padre José Zanelli, um dos poucos do país
administrados pelo município, voltará a funcionar com tecnologia 3D
Com a expansão das grandes redes de cinemas pelo Brasil, os
espaços públicos que exibem filmes foram diminuindo ou até mesmo extintos ao
longo dos anos. Na Região Metropolitana de Londrina, que engloba 17 municípios,
Ibiporã é a única cidade que conta com este tipo de local. É o Cine Teatro
Padre José Zanelli, que após permanecer pouco mais de dois anos fechado voltará
a exibir longas entre janeiro e fevereiro de 2018.
As telonas do cinema não exibem títulos cinematográficos
desde novembro de 2015, quando foi entregue o equipamento de projeção em três
dimensões. Na época, a justificativa seria a necessidade de realização de
processo licitatório para adequações da estrutura e equipamentos. Além disso,
era preciso a parceria com uma associação, para se responsabilizar pela gestão
dos filmes. Isso ocorreu no final de 2017, quando a Apasi (Associação de Pais e
Amigos dos Surdos de Ibiporã) venceu uma concorrência pública aberta pela
prefeitura.
Segundo o secretário municipal de Cultura e Turismo de
Ibiporã, Agnaldo Adélio, a entidade apresentou o menor valor de ingresso que
poderá ser cobrado, no total de R$ 18. "Não tínhamos como fazer a
negociação para contratação dos filmes de forma direta com as companhias, nem
fazer o controle do borderô, por ser um órgão público. Com essas questões,
optou-se por realizar a cessão do cinema. Assim, a associação fará a coleta do
dinheiro e venda dos ingressos, explicou.
O termo de permissão com a entidade da cidade, que não
possui fins lucrativos, terá vigência de doze meses, podendo ser prorrogado ou
até mesmo aditivado. Não foram estabelecidos valores, já que parte do que for arrecadado
será destinado para manutenção do cinema e o restante será dividido entre a
Apasi e companhias de filmes.
CIRCUITO MUNDIAL - Em dezembro, foi iniciado o processo de
cadastro da instituição e do Cine Teatro Padre José Zanelli junto à Ancine (Agência
Nacional do Cinema), o que leva cerca de 40 dias. Com a finalização desta
etapa, será possível entrar em contato de forma direta com as distribuidoras de
filmes, ingressando assim no circuito mundial e nacional para trazer os
lançamentos para a cidade, como acontece com as grandes redes.
"A quantidade de filmes que estarão à disposição
dependerá da demanda e do público. Se pensar em um cinema de shopping, ele terá
outras condições para atrair as pessoas. Como nós só temos o Cine Teatro, com
no máximo a bomboniere, precisamos verificar como será a aceitação. Não adianta
ter três lançamentos, se não tivermos público para absorver isso",
explica.
RETORNO COM QUALIDADE - Adélio também defende a qualidade do
cinema do município que, de acordo com ele, não fica distante do que pode ser
encontrado em Londrina. "Este retorno é importante por permitir que
tenhamos essa atração. É uma oportunidade para as pessoas poderem frequentar um
cinema na própria cidade. Temos um espaço ótimo, com equipamentos modernos, tecnologia
3D, som e visual positivos", ressaltou. A lotação máxima é de 500 pessoas.
Importante fomento cultural, o cinema, no caso de Ibiporã,
também será uma forma de transformação social. A renda obtida com as exibições
títulos vai ser utilizada pela Apasi para a construção de uma sede própria.
Atualmente, ela presta serviços de proteção especial para 49 pessoas com
deficiência auditiva e suas famílias. "Será uma oportunidade de promover a
inclusão social e também de que mais munícipes conheçam nosso trabalho",
projeta Ivete Pereira Semprebom, coordenadora geral da associação.
"Cinema é cultura e agrega. Por isso, filme para mim
somente no cinema". A frase é do comerciante Jaime Jacobowski, 46, que
muito além de admirador da sétima arte, é um dos maiores apreciadores do Cine
Teatro Padre José Zanelli, em Ibiporã. O espaço, que deverá voltar a exibir
longas nas próximas semanas, foi inaugurado em 1988 e desde esta data tem entre
seus mais fiéis espectadores Jacobowski.
"Lembro que quando inaugurou, as filas eram enormes e
chegavam a dobrar a esquina do quarteirão tamanha a novidade. O rapaz que
passava os filmes morava no mesmo bairro que eu e vendo que sempre estava lá,
me adiantava qual longa ia entrar em cartaz", relembra. "A diversão
em Ibiporã era o cinema. Íamos com os amigos e quando tinha alguma namoradinha,
o cinema também era lugar para paquerar", conta.
Por conta da pouca presença do público, em vários momentos
da história do Cine Teatro ele chegou a chamar pessoas na rua para irem
assistir aos filmes. "Eles só abriam se tivesse, no mínimo, sete pessoas,
pois ao contrário não compensava. Tinha vez que era eu e mais dois. Então, para
dar 'quórum', fazíamos isso", diverte-se. Entre os títulos que viu no
local e recorda com saudosismo estão as sequências de "Rambo" e
"Robin Hood".
A vontade que o retorno do espaço público seja triunfal e
atinja todos é tanta, que Jaime Jacobowski sugeriu um projeto de lei para que
crianças de escolas públicas que se destacarem possam ganhar ingressos ou
outras vantagens. A expectativa é grande para poder levar a filha de seis anos,
Lívia, e a esposa Leda. "Quando passamos em frente ao cinema minha filha
já olha para mim e avisa que quer ir. Com toda a certeza levarei, pois será uma
comodidade e um prazer rever a memória da minha vida e da cidade."
TÉCNICOS E CINÉFILOS – O sentimento de ansiedade para ver as
projeções cinematográficas novamente na telona do Cine Teatro Padre José
Zanelli também faz parte da rotina dos funcionários. Operador técnico do
cinema, Antônio Moya trabalha no local há 29 anos. "Sou um cinéfilo
apaixonado. Antes, era eu quem fazia o contato diretamente com as companhias de
filmes. Como essas empresas focavam muito na renda, acabavam nos deixando de
lado. Tinha amizade com os responsáveis e era isso que ajudava na hora de
trazer lançamentos para cá", recorda.
Com a experiência de ter lidado com exibições de filmes em
uma emissora de televisão durante 23 anos, ele ainda faz uma avaliação sobre o
atual momento do cinema. "Antes era um acontecimento e acabou se tornando
algo comum. Temos filmes que não focam na qualidade, mas somente no grande
público. Mas vejo que é uma fase e o bom cinema ainda resiste", considera.
Entre as principais memórias desde que trabalha em Ibiporã estão as sessões com
numerosa presença de público. "Na época que exibimos 'Titanic' e as
primeiras histórias do 'Rei Leão' lotava todos os dias os 500 lugares. Ia para
casa feliz, porque meu prazer era exibir filmes para um monte de pessoas. Me
sentia bem em ver as pessoas saindo alegres."
Texto e imagem reproduzidos do site: folhadelondrina.com.br
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