Publicado originalmente no site ALAGOAR, em 07 de agosto de 2010
Elinaldo Barros é puro cinema
Elinaldo Barros Soares é um alagoano que vive cinema.
Nascido em dezembro de 1946, na Rua Santa Fé, no bairro da Ponta Grossa em
Maceió, quando completava 51 anos do surgimento do cinema. Teve em sua
vizinhança o Cine Lux e o Cine Ideal. Brincava com pedaços de película e com
gibis para montar suas exibições e contar histórias dos filmes.
Ir ao cinema era uma programação em família, divertimento
com os amigos, e ao gostar do filme ele não media esforços em assistir mais
algumas vezes. Passava cotidianamente pela porta do Cine Lux, era só ver um
cartaz com um artista conhecido ou com uma arte bonita que atendia ao chamado
da sessão. Aos poucos, aumentou e aprimorou sua paixão, transformando-a em
profissão e vida. Conseguiu ainda somá-la com outras paixões, escrever e
ensinar.
Formou-se em Letras pela faculdade de Educação em 1970, mas,
desde 1965, já colaborava no Diário de Alagoas escrevendo comentários
esportivos. Não custou para trocar o futebol pelo cinema. Em 1967, começou a
lecionar inglês e português, e foi convidado para escrever sobre cinema para o
Jornal de Alagoas. Aprendeu a escrever sobre cinema e transpassar sua vivência
de cinéfilo.
Por fim, colaborou com os principais jornais do Estado, com
crônicas e resenhas sobre cinema. Assumiu a missão de professor de escola
pública em 1971. Lecionou português no Colégio Guido de Fontgalland, de 1970 a
1998, e a disciplina Cinema no Centro de Ensino Superior de Maceió (Cesmac), de
1978 a 2009.
A partir 1977, tornou-se jurado do Festival de Cinema de
Penedo, também participou de sua organização a partir de 1978 e realizava
coberturas do Festival para jornais. Elinaldo é autor de três dos poucos
registros sobre o cinema em Alagoas, Panorama do Cinema Alagoano (1983), Cine
Lux – Recordações de um Cinema de Bairro (1987) e Rogato – A Aventura do Sonho
das Imagens em Alagoas (1994). Teve atuações na Ematur, Secretaria de Cultura
do Estado, Teatro Deodoro, Museu da imagem e Som e na Secretaria de Educação do
Estado, onde colaborou com Ranilson França.
A partir de 1990 (na TV Gazeta) e até os dias de hoje (na TV
Pajuçara) faz comentários sobre filmes em cartaz nos cinemas da cidade. Em
1995, consolidou a Sessão de Arte no Maceió Shopping (antigo Iguatemi), que
está completando 15 anos de atividade neste ano. No dia 06 agosto, Elinaldo
será homenageado com o lançamento da 2ª edição de Panorama do Cinema Alagoano
no Centro Cultural Sesi, e com a exibição de um documentário sobre ele
realizado por Pedro da Rocha, O catador de fotogramas.
Onde os nossos caminhos se cruzam
Em 2003, meu primeiro ano de jornalismo na Universidade
Federal de Alagoas (UFAL), fiquei surpresa ao descobrir no curso a disciplina
de Fundamentos do Cinema. E ao saber que existia um escritor e pesquisador
sobre Cinema Alagoano, vi a oportunidade de organizar uma palestra sobre com os
professores Almir Guilhermino e Elinaldo Barros.
Tive a oportunidade de entrevistar Elinaldo algumas vezes
para a elaboração de artigos e trabalhos da faculdade. E ao tomar conhecimento
da existência de seus livros, busquei apreciá-los. Cine Lux é um registro das
recordações de sua infância, adolescência e dos altos e baixos da história de
um dos grandes cinemas de bairro de Maceió. Rogato é uma coletânea de registros
pesquisados por Elinaldo para contar a trajetória do primeiro realizador de
filmes em película em nosso estado, o italiano Guilherme Rogato.
Panorama do Cinema Alagoano é fruto da imersão de ter
vivenciado as sete edições do Festival de Cinema de Penedo em que esteve
presente, só não pode comparecer na primeira edição. Registra todos os filmes
que concorreram no Festival, destaca as curiosidades de alguns filmes, de sua
produção, dos realizadores. Panorama foi sua primeira publicação, com incentivo
de José Maria Tenório Rocha que publicou a cartilha Subsídios à história da
cinematografia em Alagoas (1974). Elinaldo criou um panorama do cinema alagoano
desde o seu princípio em 1921 até o ano da publicação do livro, 1983.
E ao ler Panorama em 2005 fiquei extremamente curiosa para
saber o que tinha acontecido com o cinema alagoano depois de 1983. Culminei por
definir que o meu Trabalho de Conclusão de Curso seria uma maneira de atualizar
e colaborar com o registro que Elinaldo havia iniciado. Em 2008, foi
apresentado o Catálogo da Produção Audiovisual Alagoana, que ainda não foi
publicado, mas que tem parte do seu conteúdo em www.audiovisualagoas.com.br.
Entrevistei Elinaldo, em 2008, para o documentário que fiz
sobre Celso Brandão, e o que mais me impressionou foi a habilidade que ele teve
diante da câmera, pois apenas indiquei o que gostaria de ouvi-lo falar e ele
concisamente narrou a trajetória de Celso como cineasta. Em 2009, inspirada nas
recordações de Elinaldo e com o depoimento dele e mais dois personagens,
realizei o documentário, Contos de Película, uma sessão de cinema que marca o
encontro de um projecionista, um crítico de cinema e um cinegrafista. Mais
recentemente tive a honra de poder colaborar com a revisão da 2ª edição de
Panorama do Cinema Alagoano. E será uma realização para todos que conhecem
Elinaldo compartilhar desta homenagem.
As conversas com Elinaldo são sempre cinematográficas, e
desejo que desperta é de ouvir mais. Estórias e histórias sobre episódios de
suas lembranças, sobre os cinemas de bairro, os grandes clássicos de cinema, as
produções alagoanas ou sobre muitos dos filmes que o marcaram. A cronologia da
vida de Elinaldo é um longa encantador para os cinéfilos alagoanos.
Texto e imagem reproduzidos do site: alagoar.com.br
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