sábado, 2 de janeiro de 2021

"Ver bem um filme significaria revê-lo algumas vezes"


Publicado originalmente no site O POVO, em 29 de janeiro de 2018

"Ver bem um filme significaria revê-lo algumas vezes"

Em entrevista, Régis Frota, jurista e presidente da Academia Cearense de Cinema, conta mais sobre sua paixão pela cinematografia e destaca nomes que o inspiram

Por Sonia Pinheiro (csonia@uol.com.br)

Presidente da recém-criada Academia Cearense de Cinema (ACC) – sonho que acariciava há muito tempo - o professor de Direito e escritor Régis Frota é, desde adolescente, um lover da chamada sétima arte. E sua lista de filmes preferidos é algo de bastante clássica e icônica, juntando os mais variados títulos internacionais: desde Os Ladrões de Bicicleta, de Vitorio de Sicca, ao nacionalíssimo Deus e O Diabo na Terra do Sol. Idem a relação de atrizes, como Ingrid Bergman, Claudia Cardinale, Sofia Loren e a brasileira Fernanda Montenegro, e de atores tipo Jean Paul Belmondo e Othon Bastos. No rol de diretores, elege de Elia Kazan a Polanski, Buñuel, Saura e Godard, passando por Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos.

Você, que é advogado, professor universitário e escritor, como se descobriu um cinéfilo?

Descobri-me um cinéfilo desde muito cedo. Na verdade, ainda no Seminário da Prainha. Aos 15 anos, fui apresentado, em 1965, ao então presidente do CCF [Clube de Cinema de Fortaleza], sr. Darcy Costa, o qual passou a nos emprestar os extraordinários filmes que o CCF obtinha das embaixadas estrangeiras (França, Canadá, Holanda etc), trazidos do Rio de Janeiro – os exibíamos e debatíamos após as projeções. Foi uma escola. Posteriormente, já com o jornalista Antônio Frota Neto na presidência daquela entidade, secretariamos e ampliamos a cinefilia e o cineclubismo, jamais abandonados.

Régis Frota é, desde adolescente, um lover da chamada sétima arte. E sua lista de filmes preferidos é algo de bastante clássica e icônica.

Como surgiu a ideia da criação da Academia Cearense de Cinema e quais os seus propósitos?

A ideia de criação de uma Academia Cearense de Cinema acompanhava-me há muito e, somente neste ano em curso, nós a viabilizamos por meio da aprovação de seu estatuto. O documento estabelece como objetivo da entidade congregar cineastas, estudiosos de cinema, cinéfilos etc para preservação da memória da cinematografia mundial e cearense, estímulo à produção, divulgação e exibição do cinema de arte em terras alencarinas, em continuidade a todos os esforços de realização de cinema no Ceará, desde os anos 1940.

Quais os grandes filmes nacionais e internacionais de todos os tempos?

São muitos os grandes filmes internacionais e nacionais, de todos os tempos, a meu juízo. Ciclos cinematográficos como o Neorealismo italiano (1940/1960), a Nouvelle Vague Francesa (1954/1969), o Cinema Novo brasileiro (1959/1970), a nova Hollywood (1969/1978) produziram grandes filmes como Os Ladrões de Bicicleta (1948, Vitorio de Sicca), Paisá (1942, Rober-to Rossellini), A Estrada da Vida (1954, Federico Fellini), O Acossado (1960, Jean Luc Godard), Hiroshima, Meu Amor (1959, Alain Resnais), Terra em Transe (1964) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (1965), ambos Glauber Rocha, Sem Destino (1969, Dennis Hopper) e O Poderoso Chefão I e II (1972/74, Francis Ford Copolla). As razões porque admiro tais películas referem-se à importância e ao papel que desempenham na história do cinema da segunda metade do século XX.

Quais os atores e as atrizes que mais o marcaram, ontem e hoje?

As atrizes e os atores que mais me marcaram até o presente foram Ingrid Bergman e Kim Novak, de Hollywood; Claudia Cardinale e Sofia Loren, do cinema italiano; Jeanne Moreau e Jean Paul Belmondo, do cinema francês; e Fernanda Montenegro e Othon Bastos, do cinema brasileiro.

"Não gostaria de ser um cineasta profissional porquanto se cuida de uma atividade muito estafante. Prefiro contribuir com minha atividade teórica e de magistério."

E os diretores?

Já os diretores são numerosos: Ingmar Bergman e Carl Theodore Dreyer, no cinema eslavo; Fellini e Antonioni, no cinema italiano; François Truffaut e Jean-Luc Godard, na França; Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, no Brasil; Elia Kazan, Francis Ford Coppola e Steven Spielberg, nos EUA; Luis Buñuel e Carlos Saura, na Espanha; Sergei Mikhailovich Eisenstein e Pudovkin, na Rússia; Polanski e Krzysztof Kieslowski, na Polônia, e muitos outros, naturalmente.

Fala-se que o nosso dear Lúcio Brasileiro assistiu centenas de vezes ao Casablanca. Há algum filme que o inspire tanto assim?

Acredito que ver bem um filme significaria revê-lo algumas vezes, na medida em que, a cada revisão, acrescentam-se detalhes não percebidos na visão ou projeção anterior. Contudo, não identifico algum filme específico que me tenha inspirado tanto quanto Casablanca ao Lúcio Brasileiro.

Gostaria de ser um cineasta?

Não. Não gostaria de ser um cineasta profissional porquanto se cuida de uma atividade muito estafante e um tanto incerta, sobretudo no Brasil. Prefiro contribuir com minha atividade teórica e de magistério.

Texto e imagem reproduzidos do site: 20.opovo.com.br

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