quinta-feira, 24 de abril de 2014

O fim da película, o fim do cinema?


O fim da película, o fim do cinema?
Por  Henrique Borralho.

O pedido de concordata da Kodak e a venda dos negócios de películas fotográficas e de filmes no ano passado abre uma discussão sobre o conceito clássico de cinema. Com a entrada e produção de filmes digitais, gravados e documentados em HD, o mercado de películas se apequenou, perdeu espaço, continuou a ser custoso e mudou a concepção tradicional de cinema.

Desde este invento pelos irmãos Lumière, passando Chaplin, Cinema Russo, Alemão, Orson Welles, a criação da poderosa indústria de Hollywood, até o debate na Escola de Frankfurt acerca da reprodutibilidade técnica produzida pela cinema, esta arte-magia sempre se caracterizou pela reprodução de imagens em película, uma câmara escura, um projetor, uma sala, público.

Muita coisa mudou desde a invenção dessa técnica. Monopólios de distribuição e produção de filmes, a criação de uma mais maiores indústria do mundo, isso mesmo, cinema virou indústria, passando por modificações técnicas, afetando e sendo afetada por novos meneios de modernismos, a sensibilidade humana foi profundamente atingida.

Obrigou inclusive a se repensar o conceito de arte, já que é síntese a mistura/fusão das outras 6 artes. O cinema é tridimensionalidade, é movimento, é expansão, perspectiva, plano de fundo. Usando Marshall Berman como argumento, a arte é ao mesmo tempo receptora/promotora das novas sensibilidades humanas, sendo assim, nos fez sonhar ao mesmo tempo que captou os nossos desejos mais visionários.

O problema é a velha questão da tecnologia como caudatária da reprodução do capital. A promoção do cinema enquanto indústria, além de gerar bilhões de dólares, obrigou estúdios, produtores, cineastas, congêneres, a buscarem novas formas de confecção/distribuição de olho no mercado consumidor. Paralelamente a isso apareceu o fenômeno internet/digital, possibilitando as reduções de custo de produção e o surgimento de indústrias como a Bollywood, da Índia, a Nollywood, da Nigéria, quebrando o monopólio estadunidense.

Como toda transformação, toda mudança produz significativas alterações de rota, o fenômeno digital mudou por conseguinte a própria concepção de cinema para vídeo. Pessoas nas suas próprias casas, com parcos recursos e algum conhecimento de técnica fílmica linguagem/programa de computador, passaram a fazer filmes e exibi-los na rede mundial. Há vários sucessos e exemplos, inclusive de bilheteria (As bruxas de Blair são um deles).

Para atrair o público que deixou lentamente de frequentar as salas de cinema, a indústria cinematográfica teve que se reinventar, adaptar-se às mudanças, que no fundo são do capital. Passaram a filmar remakes, fazer filmes retrôs, filmar quadrinhos, usar recursos tecnológicos para prender a atenção do público. O cinema deslindou-se cada vez mais para espetáculo, para o entertainment. O caso da mini-serie LOST é emblemático: foi a primeira vez que cinema/televisão, internet, pesquisa de opinião foram utilizados na produção/confecção e forma de conceberem uma série. Os produtores acompanhavam passo a passo a recepção do público para conduzirem os capítulos,  além de usarem de mensagens subliminares levando o público a decifrarem quase em tempo real o que iria acontecer nos episódios seguintes.   

A sedução dos filmes 3D (três dimensões) sinalizava que a morte da película era mais que anunciada. Só para se ter uma ideia, Avatar só pode ser filmado quando enfim surgiu uma tecnologia compatível, possível para a megalomania do projeto. A mesma coisa aconteceu com a saga Star Wars. Georges Lucas filmou detrás para frente, ou seja, começou sem explicar como tudo havia começado pelo simples fato de que quando havia idealizado não existia tecnologia suficiente para os efeitos que desejara.

O mundo é dinâmico, é fato. A mesma discussão surgiu quando do surgimento da fotografia, do próprio cinema, da televisão, do disco vinil, do Cd, da fita cassete, do VHS, do Cd, dvd, do Blue ray, dos filmes 3D, agora 4D e da polêmica sobre o futuro das películas.

Talvez a questão seja meramente conceitual, ou seja, cinema passará a ser produção de vídeo, afinal, com a invenção das câmeras fotográficas digitais, o mercado de películas para fotografia praticamente desapareceu, no entanto, a fotografia deixou de existir?

O fim da película representa o fim do cinema? Com certeza não, mas um tipo de cinema fatalmente vai desaparecer para dar lugar a outro.

Texto reproduzido do blog: versura.blogspot.com.br

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