segunda-feira, 16 de junho de 2014

Apresentação da proposta do filme: "Delírios de um Cinemaníaco"

O presente projeto se propõe a filmar a biografia de José de Oliveira, 
artista plástico e cineasta amador de São Carlos, interior de São Paulo.



Apresentação da proposta do filme
por Felipe Barquete e Hiro Ishikawa

O presente projeto se propõe a filmar a biografia de José de Oliveira – artista plástico e cineasta amador de São Carlos, interior de São Paulo.

Aos 80 anos de idade, José de Oliveira possui uma obra em 16mm composta por curtas e médias-metragens, quase todos inacabados.

A grande paixão pelo cinema data da sua adolescência, quando começou a trabalhar nas  salas de exibição  de São Carlos, nos anos 40.  No trabalho, José de Oliveira se destacou pela sua habilidade de desenho e pintura, criando os cartazes dos filmes exibidos  no cinema. Dessa habilidade com a pintura, José ganhou o seu popular apelido de Zé Pintor.

Seus filmes foram feitos nas décadas de 50, 60 e 70. Como as condições para a realização de cinema no interior não eram propícias, José de Oliveira inventou um método próprio de criação – da produção ‘a copiagem dos filmes.Além dos roteiros, ele selecionava e dirigia os atores, montava cenários e maquetes, definia os enquadramentos, montava a luz, fotometrava e focava suas imagens, realizava trucagens (fusões, fades, intertítulos) com técnicas alternativas, simplificadas e muito criativas. Quando não conseguia fazer todas essas funções, ele contava com a ajuda das pessoas ao seu redor – geralmente os atores dos filmes e seus familiares.

A sua criação cinematográfica era tecida pelas relações de afeto, haja visto o seu modo de produção, sempre baseado na amizade, na cooperação, na mobilização de conhecidos para a realização das filmagens, que ocorriam nos finais de semana.

No entanto, esses filmes, idealizados com diálogos e trilha sonora, não foram sonorizados. Os motivos foram econômicos e tecnológicos, uma vez que ele não teve acesso a um gravador Nagra, nem a um estúdio de som para dublar os filmes, e o processo de sonorização em São Paulo era muito caro para as suas condições.

Tal impasse desestimulou Zé Pintor, que engavetou suas obras e aos poucos se distanciou da produção e da exibição de cinema. A maior parte do material produzido por ele foi vendido, outros se perderam pela falta de cuidado na armazenagem, restando apenas os negativos originais de seus três principais médias metragens – Uma voz na consciência (1961), Testemunha Oculta (1969), Sublime Fascinação
Em 2008, um grupo de realizadores fez o trabalho de sonorização do filme Testemunha Oculta, em um processo de reconstrução do roteiro realizado pelo próprio diretor, que assim finalizou o seu primeiro filme 40 anos após as filmagens.

Nesse ano de 2010, o mesmo grupo, em conjunto com José de Oliveira, está concentrado na produção de seu filme biográfico que tem como título Delírios de um Cinemaníaco. O roteiro foi escrito pelo próprio cineasta, em um exercício de expôr no texto, as suas paixões mais sinceras, consciente do papel que o filme desempenha na avaliação e na reconstituição da sua memória.

A vida de José de Oliveira é marcada por sucessivas tragédias. Ficou orfão muito cedo, aos 10 anos ele já havia perdido pai, mãe e avós. Renegado pelos irmãos, foi viver na rua, encontrando abrigo em pensões da cidade.

Aos 15 anos, José perde o seu primeiro e único amor – Edna – que a partir de então  se torna  sua companheira espiritual e a inspiração para a sua criação.

O trabalho nos cinemas de São Carlos foi a oportunidade de se sustentar e amadurecer. Nesse momento, o cinema – notadamente o cinema clássico  norte-americano e europeu – influenciou diretamente seus valores morais e estéticos, delineando a sua subjetividade e o seu olhar sobre o mundo.

Foi com o imaginário do cinema clássico que José de Oliveira se identificou e quando resolveu fazer filmes, recriou-o à sua maneira: amadora, resultando em uma estética singular, retratando a sociedade sãocarlense – os seus valores, seus hábitos, seu imaginário coletivo -  com um grande poder de sedução.

A linguagem clássica é o ponto de partida da proposta do longa-metragem de ficção, fazendo do filme uma experiência de fácil absorção por parte do público, para acompanhar a trajetória da vida do Zé – passagens que todos nós vivemos de algum modo: brincadeiras na infância, morte de parentes, primeiro emprego, dificuldades emocionais.

Foi a partir do encadeamento dos acontecimentos da sua vida, que Zé Pintor escolheu ser cineasta, ser artista, para encarar as dificuldades e os dramas da sua vida material. José de Oliveira se construiu Zé Pintor, em uma relação imanente com as condições que a vida lhe apresentou.
Para ele, o cinema é a magia divina que permite um homem viver duas vezes, afastando as tristezas, encarando os fantasmas e resolvendo os ressentimentos do coração.

As escolhas estéticas de Zé Pintor evidenciam como a precariedade de recursos financeiros, técnicos e artísticos, possibilitam a criação de um cinema singular, que, autodidata, utilizou a intuição artística e o amor passional ao cinema, para criar uma estética rústica. Modo de pensar e fazer filmes que levou o imaginário clássico de cinema a uma beleza simples e paradoxal.

Fotos e texto reproduzidos do blog http://zepintor.wordpress.com/

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