sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O cinema e a arte de projetar



Fotos: Milena Schafer.

Publicado originalmente pelo Blog Arte é Tri, em 16/11/2013.

O cinema e a arte de projetar
Por Milena Schäfer.

Há mais de 18 anos, Rudimar Balbinot é projetista do Cine Ideale, cinema independente localizado em Carlos Barbosa. A atividade, passada de pai para filho, é executada como hobby, mas exige comprometimento, responsabilidade e, acima de tudo, paixão incondicional pela sétima arte

Uma sala de cinema vai muito além da mera exibição de um filme. Durante aproximadamente duas horas – às vezes menos, às vezes mais – o espaço se torna palco de grandes emoções transmitidas pelas imagens do filme. Cenas de amor, suspense e ação contagiam o público, provocando risos e lágrimas com cheiro de pipoca.

Por trás de tudo isso, em uma salinha de poucos metros quadrados, um rolo gira e, iluminado pelo projetor, torna possível que todas essas emoções sejam transmitidas, sejam sentidas por quem trocou a novela, o jogo, e até mesmo os estudos, pelo cinema.

Das cerca de 150 pessoas que podem lotar a única sala do Cine Ideale, poucas – quem sabe duas ou três – percebem a presença dele, atrás de uma janelinha iluminada, em uma espécie de mezanino: o projetista, Rudimar Balbinot. Aos 44 anos de idade, o barbosense se dedica, há quase duas décadas, ao ofício que aprendeu com seu pai, Darci Balbinot, hoje com 73 anos.

Darci começou a projetar filmes ainda nas décadas de 1960 e 1970, em um cinema que funcionava no Salão Paroquial da Igreja Matriz de Carlos Barbosa, administrado por Celso Dolzan, hoje com 81 anos. Com a extinção da sala, e inauguração do Cine Ideale, em 1992, Darci voltou a projetar, contando em seguida com a ajuda de seu filho.

 “Perdemos muitos compromissos, casamentos e aniversários, para projetar filmes no cinema”, lembra Rudimar, que calcula ter assistido aproximadamente 600 filmes ao longo de sua trajetória no Cine Ideale. “É uma vida para quem é casado, e não tem muitos compromissos, faço por hobby mesmo”, completa o projetista, que tem outras atividades profissionais e recebe apenas um valor simbólico para projetar filmes no cinema de Carlos Barbosa.

Com o passar dos anos, Darci acabou passando para o filho a tarefa. “Ele ainda vem algumas vezes, mas a maior parte fica comigo”, explica Rudimar. O Cine Ideale exibe um filme por semana, com um total de cinco sessões, somente à noite, com exceção de alguns filmes (geralmente os de público infantil, que ganham matinês extras).

A projeção hoje é realizada com um equipamento elétrico, de segunda geração. “O primeiro era movido à carvão”, afirma Rudimar, que gosta do que faz e a esse sentimento atribui a responsabilidade e comprometimento que dedica para tal atividade. “O Cine Ideale nunca deixou de ter exibição por falta de projetista. Meu pai e eu faltamos apenas no dia do meu casamento, e conseguimos um substituto para aquela noite”, relembra ele. Atualmente um rapaz está sendo capacitado para também projetar os filmes na sala de cinema barbosense.

Sobre o Cine Ideale.

 Em atividade desde 1992, o Cine Ideale é a única sala de cinema em Carlos Barbosa, que também recebe público de cidades da região como Garibaldi, Barão e São Vendelino. Administrado pela Associação de Cinema, Cultura e Arte (ACCARTE), o Idelae é um dos poucos “cinemas de rua” que ainda sobrevive em meio às redes cinematográficas instaladas em shoppings e grandes centros.

A sala funciona no prédio da antiga estação férrea, que ainda é preservado pelo Poder Público como patrimônio histórico. Além de promover a sétima arte para os moradores da cidade e arredores, a ACCARTE também apoia outras atividades de cunho cultural e de interesse social, como shows, teatros, palestras e debates.

A barbosense Maria Cristina Chies, que fez parte do primeiro grupo da associação do cinema, ressalta o princípio de atuação da ACCARTE na cidade. “Nunca tivemos compromisso com uma distribuidora e, além do mais, não objetivávamos lucro, apenas arrecadação suficiente para mantermos o cinema”, afirma ela, lembrando de muitos títulos que foram exibidos somente em Carlos Barbosa, enquanto outros cinemas adotavam apenas filmes lucrativos, que rendiam bilheteria, deixando os interesses culturais em segundo plano.

21 anos depois, o Cine Ideale mantém a mesma premissa: levar cultura à comuinidade, sem fins lucrativos. Presidida atualmente por Crisitano Piacentini, a associação conta com aproximadamente 10 sócios, que contribuem com uma mensalidade e também com trabalho voluntário (cuidando das sessões durante a semana).

As sessões ocorrem cinco vezes por semana, por um valor relativamente baixo se comparado ao preço pago em outros cinemas. Com o valor arrecadado, a associação cobre o valor do filme e despesas com a manutenção e administração da sede, visando ainda uma reforma no local. “Estamos buscando recursos federais para executar um projeto de reforma que inclusive já temos no papel”, conta Piacentini, com a ideia de que o “cinema de rua” de Carlos Barbosa perdure por muitos anos.

Texto e fotos reproduzidos do blog: arteetri.wordpress.com

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