Hilário Daudt, na cabine de projeção do Cinema Brasil
de São Leopoldo. (Foto Jornal Vale dos Sinos).
Fantasia não entra na cabine de projeção
Por Alexa Gonzalez
Sao Leopoldo – Ao longo de toda esta semana dezenas de
pessoas sentaram-se nas cadeiras do Cine Brasil, para assistirem Cinema
Paradiso, a inebriante história de um cineasta que iniciou sua carreira como
operador cinematográfico numa cidade do interior da Itália.
No filme, o público vibra, dá gargalhadas, chora, sofre todo
tipo de sensações. O público do lado de cá da tela acompanhando as reações das
pessoas diante do cinema e principalmente a vida do operador. Esta brincadeira
gostosa, que é ir ao cinema, é garantida por uma figura que raramente é
lembrada: o operador cinematográfico da vida real.
Andando de um lado para o outro dentro da cabine de
projeção, Hilário Daudt, trabalha há vinte e três anos no seu Cinema Paradiso
particular. Ele, sem que ninguém sinta ou saiba, “perde” todas as noites a
semana e quase todo o dia de domingo para acalentar os sonhos e emoções dos
cinéfilos.
É ele que recebe todas as fitas, que por incrível que
pareça, vêm sempre subdivididas. Filmes
com cerca de duas horas vem sempre em quatro latas. Cinema Paradiso, por
exemplo, tem mais de três quilômetros de celulóide. A primeira exibição é mais
trabalhosa. Para averiguara a idoneidade da película e detectar emendas mal
feitas, ele passa um por um todos os quatro rolos.
Muitos detalhes
Não, a sessão nunca é interrompida. Para concretizar tal
façanha, Hilário utiliza os dois projetores. Quando um rolo está prestes a
terminar, ele fixa o olho na tela e a guarda o sinal: um rápido e inexpressivo
ponto branco e aciona a alavanca do outro aparelho. No primeiro dia, faz isto
três vezes, nos restantes apenas uma.
Por que tanto trabalho? Porque são poucos os filmes que
cabem num só caarretel. Assim, enquanto as pessoas se divertem, ele fica na
penumbra, rebobinando a segunda parte da história. A exemplo dos operadores do
filme, Hilário movimenta manualmente a roladeira e volta a fita para a posição
adequada.
O outro projetor mantém um ruído constante e característico.
Enquanto o som for contínuo , o operador tem certeza que a película não vai
arrebentar. Hilãrio sabe que aquele som peculiar indica que a Cruz de Malta dá
um pqueno repuxo no filme a cada 24 quadros. O cinema é isto, milhares de quadros,
muito parecidos com os negativos de fotografia, correndo a uma velocidade
acelerada e enchendo a tela com movimento. A cada segundo o espectador assiste
24 quadros.
Olhos atento
Como o filme tem várias emendas, a fita pode de repente,
sair do enquadramento. Nesta hora a platéia chia, assobia e as vezes até grita
e o operador corre para corrigir a falha. Os estranhos saltos durante a
projeção, por exemplo, não são culpa nem do operador nem do projetor. O filme
já foi emendado e desemendado tantas vezes que já está meio adulterado. Agora,
se a imagem começar a tremer, é sinal que a régua que segura a película bambeou
e só o operador pode ajustá-la rapidamente.
Com os olhos e os ouvidos abertos, ele evita este e outros
problemas. “É preciso ver o filme com atenção no primeiro dia, para ter a
certeza que não há defeitos” explica. ” Depois temos que acompanhar todas as
sessões para evitar qualquer erro – as
vezes a fita arrebenda no último dia.
Manejando as duas máquinas, projetores italianos cheios de
botões, engrenagens, lentes e luzes ( a principal com 250 W) Hilário não tem
muito tempo para filosofar sobre o cinema. A tanfasia apenas sai da cabine de
projeção. A rotina do trabalho não deixa que ela entre.
Texto e imagem reproduzidos do site: debobagensaviagens.com
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