segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Cinema Paroquial

Foto reproduzida do site nofilmschool.com e postada pelo blog, 
para simples ilustração do presente artigo

Meninos, Eu vi – Cinema Paroquial

Por Marcos Calaça, jornalista (UFRN)

O padre Antas lançou o Cinema Paroquial, em Pedro Avelino, nos anos de 1960 e permaneceu até meados da década de 70, até a sua morte. O Cinema tinha palco para teatro, sala para máquinas cinematográficas na parte de cima e cadeiras que não deixavam a desejar a nenhum prédio cinéfilo do Estado. O cinema era uma grande novidade, um negócio fascinante que tinha chegado à cidade. Para a meninada, assistir um filme era uma alegria imensurável. Após a sessão, os meninos saíam do cinema para casa contanto os melhores momentos do filme, do sofrimento do artista principal, que no final era o vitorioso. 

A propaganda dos filmes era feita de uma maneira muito peculiar e interessante. Em armações de madeira e compensado, as fotos de divulgação fornecidas pelas distribuidoras eram coladas e, com tinta azul xadrez, eram escritos o nome do filme e dos artistas principais, além de uma frase copiada dos folhetos de divulgação. As armações ou tabuletas de compensado eram colocadas em pontos estratégicos da cidade e tinham várias informações sobre o filme, como horário, elenco, fotos e algumas frases de efeito, como emocionante, não percam, sensacional, espetacular. Era a mídia e o marketing da época. Quando o filme era famoso e caro, a propaganda se tornava mais agressiva: Dois garotos andavam por toda a cidade, com a tabuleta nas mãos, e a meninada corria para ver o filme do domingo à noite, após a missa. Era cinema cheio na certa. Três chamadas alertavam para o início do filme, não sei se do agudo para o grave, ou o contrário.

No início, havia apenas uma máquina para exibição dos filmes e quando ela quebrava precisava ser consertada na mesma hora, caso contrário teria que devolver o valor dos ingressos, pois o tempo de permanência do filme na cidade, através do contrato, não permitia que a exibição fosse feita no dia seguinte. Seu Caldas era perito em consertar rapidamente a máquina. Ele desmontava, descobria o defeito e consertava em menos de dez minutos. Quando surgia um defeito o público não se incomodava pois sabia que dentro de poucos minutos tudo estaria normalizado. Muito tempo depois, o operador começou a trabalhar com duas máquinas, um rolo em cada uma delas.

Eu imagino que seu Caldas tinha apenas uma preocupação concreta no cinema, era a preocupação da mudança de um rolo para outro. Como projecionista ficava atento à sinalização de, no máximo, dez segundos, sem o telespectador perceber.

Francisco Caldas colaborou com essa manifestação cultural, e que o Cinema Paroquial recebia filas de crianças, jovens e adultos numa época telúrica.

Naquela época o faroeste ou bang-bang era o gênero preferido da meninada que ficava atenta a xerifes, pistoleiros, bandidos, mocinhos, diligências, índios etc. Depois do filme, seu Caldas direcionava o público para ficar atento ao seriado Flash Gordon no Planeta Marte. Cada seriado terminava num momento de emoção e de incerteza para que o público ficasse atento para o próximo episódio e, consequentemente, o filme também.

Para agradar ao público, o filme deveria ter muita ação. Os preferidos eram os de cowboy, de piratas, de aventuras e de Tarzan. Os astros preferidos eram Antony Quynn, James Cagney, Alan Ladd, Gary Cooper, Humphrey Bogard, John Wayne, Johnny Weissmuller, Gordon Scott, Lex Barker, Burt Lancaster, Franco Nero. As artistas eram Alex Smith, Bárbara Stanwick e Ann Sheridan, Dorothy Hart, Katherine Hepburn e Maureen D'Sullivan. Toda sexta-feira santa era exibido o filme "Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo", com casa lotada.

Por fim, o cinema se acabou, mas os filmes continuam na minha mente. Infância feliz.

Texto reproduzido do site: marcos.calaca.zip.net 

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