quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Projecionistas estão desaparecendo na era do cinema digital

O projecionista Jesse LoCascio inspeciona uma impressão fotoquímica no 
Jacob Burns Film Center em Westchester, Nova Iorque. (Fonte: Yahoo Finance)

A licença de operador cinematográfico de Lou Rivierzo.
Fonte: Cortesia de Joe Rivierzo

Publicado originalmente no site Yahoo Finanças, em 13 de setembro de 2019

Projecionistas estão desaparecendo na era do cinema digital

“Meu pai costumava dizer que nós poderíamos cumprir pena por uma ofensa criminal, porque a sala de projeção era parecida com uma cela prisional”, disse ao Yahoo Finance Joe Rivierzo, da terceira geração de projecionistas da sua família.

Rivierzo passou o início da sua carreira projetando filmes nas telas do cinema. Ele e seus colegas projecionistas tinham o trabalho de assegurar que o filme corresse suavemente na sala minúscula localizada atrás das fileiras de assentos vermelhos cheios de espectadores comendo pipoca.

“Se tudo corresse bem, você não precisava descer para nada”, acrescentou ele.

O trabalho é tão discreto que, uma vez, Rivierzo foi esquecido dentro da cabine de projeção quando o cinema inteiro foi evacuado devido a uma ameaça de bomba.

“Você precisava ter um certo perfil”, diz Rivierzo, referindo-se à natureza solitária da profissão. “Nós éramos os últimos a tocar no filme depois de todo aquele talento ter sido reunido. O pessoal da luz, do som, atores, roteiristas... para que eu pudesse arruinar um blockbuster ou um clássico”.

Joe Rivierzo, do Sindicato de Projecionistas Local 306 em Nova Iorque.
Fonte: Yahoo Finance

“Meu avô operava o projetor o dia inteiro”

Rivierzo – que aprendeu o trabalho com seu pai, Lou, que também aprendeu com seu pai, Dominick – viu o cinema crescer diante de seus olhos cobertos pelas lentes de seus óculos. Imigrante italiano, o avô de Rivierzo operava um projetor – acompanhado por um piano, porque os filmes com som ainda não existiam – em um cinema de Vaudeville, em Nova Iorque.

“Os pianistas mudavam duas vezes por dia, mas meu avô operava o projetor o dia inteiro. Embora fossem engrenagens em sincronia, ele era mais lento do que o pianista. Então, meu pai trazia o jantar do meu avô e à noite, após a escola, e ajudava a ajustar o ritmo”, conta.

Rivierzo conhece bem a história da profissão de operador do projetor de cinema, e vivenciou esta forma de arte conforme a sua carreira se desenvolveu. Agora, depois de mais de três décadas, ele testemunha a queda do projetor e do projecionista com a chegada das mídias digitais.

“A transição para o digital: foi aí que a minha carreira na cabine de projeção praticamente chegou ao seu fim, depois de 37 anos”, diz. “Alguém está naquela cabine agora. São rapazes mais novos trabalhando em computadores e programando a exibição de uma semana inteira de filmes”.

Richard Peña — Professor de Estudos Cinematográficos da Universidade de Columbia.
 Fonte: Yahoo Finance

Os especialistas não estão surpresos com o que está acontecendo.

“As formas e os estilos de arte vêm e vão”, disse ao Yahoo Finance Richard Peña, professor de estudos cinematográficos da Universidade de Columbia. Peña também atuou como diretor do Festival de Cinema de Nova Iorque de 1988 a 2012, e viu a revolução digital chegar ao cinema em primeira mão.

“Às vezes eu uso o exemplo do blues. Morei em Chicago por oito anos e sempre fui fã de blues, e me tornei ainda mais fã enquanto estava lá. O que eu quero dizer é: alguém realmente acha que o blues ainda é uma arte viva?”

E acrescentou: “Todas as forças da história estão seguindo na direção digital, e eu não acho que elas vão voltar atrás”.

“Ele era muito rápido”

Lou Rivierzo trabalhando como projecionista.
Fonte: Cortesia de Joe Rivierzo

Texto e imagens reproduzidos do site: br.financas.yahoo.com

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