Título em inglês: The projecionist
País: República Dominicana
Duração: 1 h e 34 min
Gêneros: Drama, mistério, thriller
Diretor: José Maria Cabral
Sinopse: Eliseo, um homem solitário que opera um projetor de filmes, encontra seu único consolo em uma mulher desconhecida que vê em um rolo de filme. Depois que o carretel é destruído em um acidente e ele encontra outros rolos, Eliseo decide encontrar a mulher nos lugares mais remotos e pobres da República Dominicana.
QUANDO O CELULÓIDE REVELA A VERDADE.
Mais uma vez volto a ressaltar o quão gratificante é “garimpar” filmes de todo o mundo, e a lista de submissões para o Oscar de Melhor Filme Internacional é uma ótima mina de pérolas da sétima arte, pois, espera-se que cada país envie o que tem de melhor no ano de referência. O filme em destaque vem da República Dominicana, um país que muita gente não sabe nem que existe, e representou o país no Oscar 2020. Trata-se de uma obra que homenageia o cinema de uma forma já vista em outras obras como “O homem das estrelas” (1995), “Cinema Paradiso” (1988), entre outras, evidenciando o amor por essa arte tão especial, e, no caso específico do filme em tela, fazendo com que o protagonista simplesmente ame o intangível, notabilizando o poder que uma simples imagem advinda de um projetor, mesmo antigo, possui.
Ao continuar o ofício de seu falecido pai, Eliseo sai de cidade em cidade nos rincões da República Dominicana projetando filmes para a alegria das populações de tais localidades – e tudo isso é feito à moda antiga, com equipamentos obsoletos e infraestrutura precária. Em determinado momento, ele é apresentado à modernidade do cinema, mas refuta prontamente, delineando um direcionamento nostálgico e romântico que o filme apresenta em relação à arte chamada cinema. Quanto a esse tópico, não se pode deixar de ressaltar que o filme não se furta de promover aquele velho embate entre o cinema tradicional e a evolução tecnológica – mesmo apresentando riscos já ultrapassados, como a TV, por exemplo, pela condição social que o país apresenta – que tanto prejudica a continuidade das salas de exibição de todo o mundo hoje em dia. Nesse sentido, a cena em que Eliseo provoca uma queda de energia na cidade, para que os moradores deixem de assistir TV e vão à sua exibição em praça pública, é hilária e muito especial.
Mas não só de homenagens à sétima arte e temáticas correlatas vive o filme, senão seria apenas mais do mesmo. “O projecionista” possui uma narrativa intrigante desde o início, pois apresenta seu protagonista interagindo de forma obsessiva com gravações antigas descobertas dentre as coisas de seu pai – mais especificamente com uma mulher que nunca viu pessoalmente em toda a sua vida, e pela qual aparentemente cultiva profundo amor. A curiosidade automaticamente vem à tona e várias elucubrações vêm à mente do espectador após a apresentação desse ponto de partida, inclusive algum tipo de loucura que Eliseo porventura possa ter. Esse é o fio condutor da história, pois, em determinado momento, após a descoberta de novos rolos de filme, ele volta as atenções para procurar a misteriosa mulher novamente pelo país – algo que ele já tinha feito há muito tempo. Assim, vários aspectos concernentes à família tomam corpo, resultando em uma reviravolta espetacular no desfecho do filme, que deixa até o desejo de ter havido um desenvolvimento mais aprofundado das situações reveladas, pois, ao fim, resta a necessidade de algum grau de interpretação, principalmente no tocante aos sentimentos vivenciados pelo protagonista. De qualquer forma, há aspectos simbólicos que embelezam bastante a experiência proporcionada, mesmo ante a bomba atômica que a narrativa lança mão.
Outra personagem interessante que o filme trabalha é a jovem Rubi, que acaba embarcando na jornada de Eliseo para fugir de sua realidade difícil. Ele concede muito vigor ao filme, por seu comportamento proativo, contestador e desafiador, fazendo um contraponto ao ranzinza e solitário Eliseo, que prefere continuar “tocando o intangível” e levar a vida no automático, de forma até melancólica. O espectador mais atento notará que, a partir da curiosidade da moça, que resulta em um comentário aparentemente despretensioso, o filme dá pistas importantes sobre o que acontecerá em seu desfecho, e, a partir de algumas de suas ações, o protagonista abre os olhos para nuances importantes dentro da narrativa. É uma personagem muito importante!
Através de seu filme, José Maria Cabral, diretor do primeiro filme dominicano a “rodar” em festivais pelo mundo, “Carpinteros” (2017), consegue alcançar vários objetivos: continuar sua carreira promissora; introduzir mais uma vez seu país no mapa da sétima arte a nível mundial através da qualidade de sua película; homenagear o cinema e desenvolver um roteiro surpreendente. “O projecionista” não é uma obra-prima, mas é um filme que merece ser visto com olhos admirados.
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