terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Projetor Alemão Ernermman da Década de 20

De volta ao escurinho do cinema

Pequeno comerciante de Ourinhos utiliza projetores antigos para exibir filmes de sua coleção particular, em seu estabelecimento na rua dos Expedicionários

Thelma Yeda Roder Kai *
Da Reportagem Local

Um singelo estabelecimento comercial que vende água-de-coco e peças de artesanato pode ser considerado atualmente o único cinema de Ourinhos — e dos antigos, com projetor e filmes de rolo.
A loja “Onde Vô”, na rua dos Expedicionários, tem promovido sessões de cinema à noite nos finais de semana, projetando os filmes em um telão de 1,8 x 2 metros. Em meio a redes, bolsas de crochê e casas para pássaros repousam quadros com cenas de clássicos do cinema americano, certificados do antigo departamento de censura nacional e um enorme projetor para filmes de 35 milímetros, funcionando perfeitamente.

O projetor alemão Ernermman da década de 20, de acionamento manual e com geração de luz a partir de bastões de carvão (que posteriormente foram substituídos por lâmpadas xenon), é apenas uma amostra do monumental acervo do comerciante Ubirajara do Carmo Zambotto, 43, o Bira. Ele guarda 40 projetores de cinema e mais de dois mil rolos de filmes — entre eles “Marcelino Pão e Vinho” em sépia, o clássico “King Kong” de 1933 (o mais antigo do acervo), “Tarzan and Leopard Woman” e todos os traillers dos filmes de Mazzaropi.

Bira também possui preciosidades históricas como 600 cópias originais dos roteiros do “Canal 100” da década de 70, narrado por Cid Moreira. Em um dos roteiros, de 1975, o assunto é o jogo entre Fluminense e América no Maracanã pela Taça Guanabara, com Rivelino em campo.
Registro interessante para as novas gerações são os ofícios que obrigatoriamente eram enviados junto com os filmes na época da ditadura militar com orientações detalhadas sobre os cortes que as obras deveriam sofrer (leia texto nesta página).

Bira está há apenas quatro meses em Ourinhos. Natural de Jarinu, perto da capital, durante 10 anos ele passou filmes nas escolas e até nas ruas da cidade, colocando o projetor em cima de um carro. Seu pai, Jorge Teodoro Zambotto, chegou a montar na década de 40 uma sala de cinema em Jarinu. “Desde os 14 anos adoro cinema, principalmente a técnica”, afirma o comerciante, que já realizou uma exposição de parte do seu acervo na Universidade de Campinas (Unicamp) no ano passado.

Nas sessões promovidas em Ourinhos o comerciante tem optado por documentários. “Os filmes são muito longos e o pessoal não fica muito tempo”, avalia. Na última semana, havia no projetor um documentário sobre a fabricação de cristais.

Procura — Para montar seu acervo Bira tem atuado como um verdadeiro caçador de relíquias. Já passou por diversas cidades buscando cinemas desativados para comprar os projetores.

O Ernermman que está em exposição em sua loja foi adquirido do Cine Theatro de Alumínio de Poços de Caldas (MG). Bira também visitou e fotografou os cinemas de Jales, Andirá, Cumbica, Santa Rita do Sapucaí, Cerqueira César, Jacarezinho, Santa Cruz do Rio Pardo e até andou atrás de uma máquina usada para projetar filmes em uma usina de açúcar.

Ele também costuma usar em Ourinhos uma máquina para filmes 16 mm da década de 50, com geração de luz a partir dos bastões de carvão, funcionando perfeitamente. A queima dos bastões de carvão, aliás, é um fator que ajuda na busca do colecionador. A combustão do carvão gera fumaça no início da projeção, o que obrigava os antigos cinemas a terem chaminé. “Quando chego a uma cidade vou a um ponto bem alto e observo se existe algum telhado grande com chaminé. Se achar, sei que foi um cinema”, explica. Com todo esse material, o sonho do comerciante não poderia ser outro: ter um cinema próprio — mas não um cinema qualquer. “Queria um como o Cine Splendore, do filme com o Marcello Mastroiani, com teto que abre para o público ver as estrelas”, conta.

O mais interessante da coleção de Bira, porém, é que tudo está ao alcance do público. “O interessante é mostrar isso para outras pessoas. Não gosto daquele negócio de museu, onde as coisas ficam dentro de caixas de vidro e ninguém pode ver direito”, afirma.

*Foto e texto reproduzidos do site: www2.uol.com.br 

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