Luiz Carlos prepara projeção
Foto: Marcos Curvello
Museu particular de cinema em Campos
Apaixonado por antiguidades, Luiz Carlos coleciona
projetores, câmeras e filmes em 8mm e 16mm
Músico de muitas atribuições, Luiz Carlos descobriu cedo sua
paixão pela arte. Durante décadas manteve bandas nas quais tocava os mais
diversos instrumentos, além de cantar. Filho de Carlito Gonçalvez dos Reis,
mais conhecido como Carlito Oficial de Justiça, devido ao cargo público que
ocupava, Luiz Carlos herdou do pai, um quase homônimo do mais famoso personagem
de Chaplin, um gosto pelo colecionismo, que tornou sua casa em uma espécie de
museu não oficial da sétima arte em Campos.
" Sir Charlie Chaplin foi um dos maiores talentos que o
cinema já viu, mas penso que Mazzaropi era ainda melhor. Além de desempenhar
todas as mesmas funções, como produtor, roteirista, diretor e ator,
Mazzaropiainda cantava e tinha uma bela voz, como mostra em filmes comoTristeza
do Jeca. Sim, ele é o Chaplin brasileiro, só que melhor!", diz o campista
Luiz Carlos Gomes dos Reis, um aficionado, entre outras coisas, por itens relacionados
aos primórdios do cinema.
"Foi com meu pai que aprendi a valorizar nossa história
e tudo aquilo que a representa. Foi ele, também, que me ensinou a amar o
cinema. Era um homem de grande inteligência, capaz de criar invenções, e de
aptidão para a expressão artística", diz Luiz Carlos, que, próximo a um
projetor Cine Mecanica italiano de 16mm com cerca de 70 anos, cita Os bravos
morrem de pé (Pork chop hill, 1959), com Gregory Peck, como o mais antigo filme
a ter assistido no cinema.
De fato, as idas às salas de exibição, ora abundantes na
cidade, eram um hábito, uma espécie de happy hour dominical.
"Trabalhava a semana inteira esperando o domingo. Então
ia ao Coliseu, que exibia três filmes, mais antigos, pelo preço de um. O cinema
era horrível, cheio de goteiras, mas nos divertíamos. Quando estava namorando,
ia no drive in. Cheguei a ir, também, no Capitólio", relembra, garantindo
que, mesmo com as possibilidades que a tecnologia oferece, ainda vai ao cinema.
"É diferente, não há TV, DVD ou home theater que transforme a experiência
de ver um filme em algo próximo à sensação da sala escura."
Mas a coleção começaria realmente em 1980, quando adquiriu
seu primeiro projetor antigo. A partir de então, o acervo só aumentou, apesar
das dificuldades.
"O primeiro projetor que comprei foi um Movie Sound de
16mm, adquirido de um amigo. De lá para cá, consegui outros objetos, como uma
câmera Super-8 Sankyo Sound XL-40S e o Cine Mecanica 16mm. Porém, é muito
complicado manter esse equipamento funcionando. As lâmpadas, que variam de 500
a 1 mil watts de potência, são caras e difíceis de encontrar. Tenho que ir à
Belo Horizonte comprá-las".
Além de projetores e câmeras, Luiz Carlos possui um grande
acervo de filmes em diferentes mídias, além de material relacionado ao cinema.
São mais de 30 títulos em rolo e cerca de 250 em fitas VHS.
Tenho, ainda, vários DVDs. Obviamente, possuo, também, os aparelhos necessários
para rodá-los. Obtive, também, ao longo dos anos, vários livros e catálogos
sobre o assunto. Sempre que posso, aumento a coleção. Porém, infelizmente,
muitas vezes, para que isso seja possível, alguém deve morrer, pois apenas
herdeiros se desfazem desse tipo de material, nunca quem os aprecia e
guarda", lamenta o colecionador, que, quando questionado a respeito de seu
filme favorito, responde sem pensar muito: — ...E o vento levou. Clark Gable e
Viven Leigh estavam maravilhosos.
Preocupado com a memória, Luiz Carlos vê em seu vasto rol de
objetos uma chance de contato com algo que já é passado.
"Gosto muito de coisas antigas, pois com elas, viajamos
a uma época que, de outra maneira, jamais poderíamos visitar. Temos que
respeitar nosso passado, pois é através dele que definimos quem somos",
sentencia.
Nem só de ficção
Além do prazer de assistir aos filmes de que gosta e do
desafio proporcionado pela procura de novos artigos para a coleção, a paixão de
Luiz Carlos Gomes dos Reis gerou também algumas situações memoráveis, a
primeira delas, quando o colecionador restaurava um de seus rolos recém adquiridos,
que embora o título não se lembre, lhe é bastante fresca na memória a
emocionante reação de uma platéia formada à sua revelia.
Colaboração de Marcos Curvello
Foto e texto reproduzidos do site: cultura.rj.gov.br
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