sábado, 14 de janeiro de 2017

Vida Solidária – O catador de imagens e cidadãos


Vida Solidária – O catador de imagens e cidadãos
Por Cláudia Piche*

Jornalista com 18 anos de experiência, sabe que, em TV ou em revista, retratar o perfil de um personagem exige acima de tudo uma história interessante, e sensibilidade e inteligência para contá-la. É isso o que o leitor de Idéiasocial terá neste perfil de José Luiz Zagati, o catador de papel que construiu um cinema em Taboão da Serra. Como jornalista de TV, Cláudia acostumou-se a casar imagem com texto, o que explica a forma inusual e a concessão metalingüística deste perfil: a vida do cinéfilo comunitário é contada aqui a partir de uma seqüência de cenas e imagens.

E aí seu Zé, vai ter filme hoje?

Se a resposta for afirmativa, uma fila de crianças começa a se formar na entrada do Mini Cine Tupy, na Gleba C, do Jardim Record, bairro pobre da periferia de Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Com a ajuda de alguns amigos e poucos comerciantes locais, mais as economias conseguidas no lixo, como catador de sucata, é ali que está construído o sonho de José Luiz Zagati, ou simplesmente Zagati como é conhecido. Um sonho que ele começou a sonhar ainda bem pequeno, aos 5 anos de idade, em Guariba, sua terra natal, na região de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

No colo da irmã, entrou pela porta de emergência no único cinema da cidade para assistir a um filme que ele sequer lembra do nome. Sabe que tinha cavalos e homens de chapéu. (Anos mais tarde, a irmã diria tratar-se de “Billy the Kidy”). Foi encanto definitivo. “Quando vi aquela sala escura, a luz que vinha do projetor, a imagem em movimento na tela, tive a certeza de que era aquilo que queria para a minha vida: ter uma sala e passar filmes para que as pessoas pobres, como eu, tivessem essa oportunidade” – conta Zagati, com os olhos marejados. E ele conseguiu. No dia 21 de dezembro de 2003, aos 53 anos de idade, inaugurou uma pequena sala de quatro metros de largura por dez de comprimento, tela de 2,5 x 3,0m e 50 cadeiras, algumas plásticas, encontradas no lixo; outras doadas por amantes de antigas salas de cinema. Corta!!!

Ainda no mesmo ano em que Zagati descobriu o cinema (1955), sua família mudou-se para Taboão da Serra. Mas só cinco anos depois, aos 10 de idade, o menino voltaria à sala de projeção, agora do extinto Cine Tupy, no Largo do Taboão. Para conseguir o dinheiro do ingresso (e do saquinho de pipoca, claro!!), Zagati engraxava sapatos e enchia caixas d’água da vizinhança. “Todo sábado, eu mesmo passava a ferro de carvão minha melhor roupa e ia para o Cine Tupy. Não importava o filme: via os cartazes, as pessoas na fila e achava tudo maravilhoso!”

As suas brincadeiras infantis também eram variações remendadas sobre a sétima arte. “Divertia-me em recortar as revistas de fotonovela da minha irmã e pegar sabão escondido da minha mãe, para colar as figuras numa tábua de madeira e fingir que era um filme.”

Aos 12 anos, ele construiu seu primeiro projetor: com uma caixa de madeira, lente de óculos e uma lanterna, divertia a família exibindo trechos de um filme que encontrara na rua. Só depois de adulto descobriria que eram cenas de Chico Fumaça, de Mazzaropi, ainda hoje, seu maior ídolo do cinema nacional.

Depois de trabalhar como pedreiro, borracheiro e montador de baterias de automóvel, em 1990, aos 40 anos de idade, Zagati ficou desempregado. E decidiu catar papel na rua para sustentar a família (cena atual do Zagati junto aos 9 filhos e 6 netos). Na medida em que puxava o carrinho de sucata pelas ruas do Taboão, ia encontrando, no lixo, a matéria-prima para alimentar o sonho do cinema: pedaços de película que emendava com durex! Faltava, no entanto, o mais importante: o projetor. Um dia, conheceu o dono de um projetor de filmes 16mm que o utilizava para exibição de filmes em igrejas. Tentou comprá-lo, mas não conseguiu. Um mês depois, o homem o procurou em casa e, sabendo que Zagati tinha conhecimento em mecânica, propôs que ele consertasse o seu carro em troca de uma informação sobre onde poderia adquirir um projetor. Zagati não teve dúvidas: passou o sábado trocando suspensão de automóvel para conseguir uma indicação imprecisa, sem o nome da loja, apenas algumas poucas descrições do lugar.

Já na segunda-feira, foi atrás do equipamento, numa peregrinação pela região da Santa Efigênia, rua tradicional do comércio de eletroeletrônicos do centro de São Paulo. Estava quase sucumbindo, quando viu uma lojinha de uma porta só na rua do Triunfo, entulhada de computadores e aparelhos de TV usados. Perguntou pelo tal projetor, sem se dar conta de que estava tropeçando num exemplar único. O vendedor – “um tal senhor Virgílio” – recorda Zagati – colocou sobre o balcão, testou, mostrou que o áudio funcionava. E disse o preço: 80 reais. “Aí eu falei assim: olha, eu moro em Taboão da Serra. Vou até lá buscar o dinheiro e volto para levar o projetor. O vendedor botou de volta no chão e mal me olhou na cara.” Zagati lembra que, para economizar tempo e dinheiro, pegou um ônibus da Estação da Luz até o Jardim Macedônia, “torcendo para que ele não parasse nos semáforos”, e literalmente correu alguns quilômetros até sua casa em Taboão. Lá, recolheu os exatos 80 reais que tinha como economia ( “coincidências não existem” – frisa Zagati): 50 obtidos com a venda de sucata e outros 30 ganhos como presente de aniversário do filho mais velho. De volta à rua do Triunfo, o vendedor mal acreditou: “O senhor é mineiro??” – perguntou, querendo dizer que mineiros são pessoas de palavra. “Não, sou paulista. Mas paulista também tem palavra” – respondeu. “Essa eu não podia deixar passar, né??”

A PRIMEIRA PROJEÇÃO A GENTE NUNCA ESQUECE…

“Eu tinha aqueles pedaços de filme em casa, aí no primeiro domingo, à tarde, pendurei um pano numa parede, coloquei o projetor na mesa (treinei um pouquinho em casa, antes, para botar o filme, o som…). E não falei nada para as crianças lá do Sítio das Madres, o bairro onde morava. Tinha muita criança carente. ‘O que é isso seu Zagati??’ É cinema!! E passei então aqueles pedaços de filme que tinha encontrado no lixo. Com aquela curiosidade de criança, olhavam no pano e na luz, não entendiam como funcionava. Não tinha sentido, porque era só pedaço de filme emendado. Mas foi muito importante para mim. Era a primeira vez que aquelas crianças, e até adultos também, viam cinema…”

Isso foi em 1997. Só um ano depois, ele conseguiria seu primeiro filme completo. Àquela altura, já havia feito contato com a Associação Brasileira de Colecionadores de Filmes 16mm, cujas reuniões passou a freqüentar todos os sábados, depois de contar sua história ao presidente da casa. Num dos encontros, ganhou de presente de Arquimedes Lombardi o filme Cruéis Dominadores, uma fita americana de 1951, em preto e branco. “Não via a hora de acabar a reunião para passar o meu filme com começo, meio e fim. Cheguei em casa quase uma hora da madrugada. No domingo de manhã, mal agüentei esperar amanhecer para pegar os dados do filme, que eu não conhecia, e fazer a cartolina com as informações sobre a estória que seria exibida à noite.” Além do elenco, e do nome do diretor, Zagati escreveu: “Hoje, o Mini Cine Tupy apresenta Cruéis Dominadores, às 19 horas.”

“Era um belo domingo, e o pessoal todo endinheirado, gastando, indo pra feira, não podia deixar de ver o cartaz. Caprichei no anúncio do filme. Aí era um cinema de verdade! ” Sem conter as lágrimas, Zagati lembra que nessa noite veio muita gente: uns traziam cadeiras, outros bancos, outros, ainda, blocos de concreto. “Tinha um barzinho do seu Barriga ao lado, bem montado, que vendia refrigerante e salgadinho. Foi o melhor dia de venda pra ele. Vendeu muito!! Todo mundo tomava sorvete, refrigerante, falava do filme. Estava inaugurado o Mini Cine Tupy.”

Dessa noite em diante, o novo cinema comunitário do Taboão da Serra passou a ter programação semanal, sempre aos domingos, com os filmes que Zagati trazia emprestado da Associação dos Colecionadores. Durante a semana, a cada 10 reais obtido por ele com a venda de sucata, dois eram poupados para a compra do milho de pipoca, porque, afinal de contas, cinema sem pipoca não é cinema de verdade!

CESTA BÁSICA DA CULTURA

O que faz um homem pobre, da periferia de Taboão da Serra, oferecer cultura, de graça, para crianças e adultos de poucas oportunidades, em vez de distribuir, por exemplo, leite em pó, roupas, remédios ou cestas básicas? Zagati nunca freqüentou nenhum seminário sobre terceiro setor, por isso desconhece o fim do paradigma assistencialista no campo das ações sociais. Mas sua resposta é certeira. Do alto da sabedoria dos sonhadores, diz: “Cesta básica é uma coisa que acaba. Cultura não: a pessoa vai colher mais tarde o que ela aprende agora. A cultura permanece com a pessoa, amadurece com ela.”

Com suas projeções dominicais de cinema, Zagati é, há cinco anos, um distribuidor comunitário de cultura. Sejam na garagem de sua casa ou no meio da rua de outros bairros, já alcançados pela fama de Zagati, as suas sessões apenas são canceladas debaixo de um argumento incontestável: a chuva.

Um dia, observando que as escolas da região permaneciam fechadas aos domingos, ele cismou de consegui-las emprestadas para as projeções do Mini Cine Tupy. Achou o telefone da Secretaria de Cultura de Taboão, foi até um orelhão e pediu para falar com ninguém menos do que o titular da pasta. Obviamente não conseguiu. Mas como desistir é palavra riscada do seu dicionário, voltou para casa, trocou de roupa e seguiu rumo à Prefeitura, determinado a conversar com o secretário cujo nome nem mesmo sabia. Acabou sendo recebido por uma assessora que, diante da veemência de Zagati, lhe propôs, dias depois, a realização do primeiro festival de cinema brasileiro de Taboão da Serra, no auditório da secretaria. Ponto para Zagati, que daí para a frente, nunca mais seria um anônimo…

A FAMA QUE NÃO TRAZ CAMA…NEM MESA

A história do catador de papel que se transformou em coordenador de um festival de cinema, e de quebra acumulava uma surpreendente trajetória de superação e perseguição de um sonho, atraiu emissoras de televisão e jornais de grande circulação. Tamanha superexposição acabou rendendo a Zagati um outro convite, desta vez da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. “O secretário da época me chamou e perguntou quanto ganhava como catador de papel. Disse que tinha estabelecido uma meta de 10 reais por dia, o mínimo para sustentar minha família.” Assim ele foi contratado, em 2000, com salário de 300 reais por mês. Trocou o carrinho de sucata pela função de promotor de eventos de cinema do governo do Estado, cargo que exerce até hoje. No começo, exibia seus filmes nas favelas da Grande São Paulo. Depois, nos asilos de idosos. E até no Hospital Psiquiátrico do Juqueri, onde esteve por duas vezes.

Uma saga tão rica – claro – só poderia mesmo virar cinema. Três curtas metragens nacionais já levaram às telas a história de Zagati (ver quadro) e um longa com roteiro pronto está em fase de captação de recursos. A TV francesa também produziu um documentário.

Zagati fez fama. Mas não consegui deitar na cama! É certo que as andanças por São Paulo o levaram para mares nunca dantes navegados. No entanto, o sonho ainda não estava completo: era preciso construir uma sede própria para o Mini Cine Tupy, até para que algumas sessões não tivessem de ser canceladas pela chuva. Foram três anos investindo parte do salário na compra de material de construção para levantar a tão sonhada sala, na frente da casa onde mora. Para essa tarefa, não teve o financiamento de nenhuma empresa socialmente responsável, nem contou com a benção de nenhuma fundação ou o aporte das muitas ONGs internacionais que despejam algumas centenas de dólares em empreendimentos sociais no Brasil. O único apoio que teve veio das pessoas mais simples, gente com a mesma origem dele: a comunidade de Heliópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, colaborou com uma vaquinha de mil reais!!

Até hoje, Madalena, mulher de Zagati, não se conforma. Para ela, a fama não melhora em nada a vida da família. “Isso me dói muito. Ela e muita gente que até zomba de mim não sabem o quanto ganho com isso. Não ganho dinheiro, mas nunca fiz por dinheiro. Imagine cobrar 50 centavos que seja de uma criança de periferia”, desabafa. “A criança de periferia, nasce aqui, cresce aqui, casa aqui, morre aqui e nunca vai ao cinema!! Acho que deve ser assim em todas as periferias do Brasil.”

IMPACTO SOCIAL

Para tristeza de Madalena, a vida de Zagatti pode não ter mudado além da fama nacional e internacional que passou a ter. Mas a vida de sua comunidade mudou muito. Embora nem mesmo o catador de sucata saiba dizer quanto e como. Homem simples, de poucas letras, faltam-lhe as palavras certas: ao tornar acessível para pessoas de baixa renda um bem cultural como o cinema, o seu esforço contribui para educar e construir a cidadania. “Quando a gente bota aqui um monte de crianças, ou até adultos, para assistir um filme, além de sair da rua, e estar num lugar seguro, algumas delas com certeza vão ter um futuro promissor, porque estão vendo uma coisa boa para sua formação. A gente mostra um outro caminho, uma outra direção”. Com a expressão de quem nunca pensou muito sobre o assunto, ele continua: “Algumas crianças aqui já quiseram fazer teatro, por causa dos filmes. Outras, quando vêem a gente dar entrevista, falam que querem ser jornalistas. Penso que algumas dessas crianças podem ser prefeito, vereador, e até presidente da República no futuro”, filosofa o catador de cidadãos.

Nas sessões do Mini Cine Tupy, há exemplos vivos que confirmam a crença do cinéfilo. Andréia, de 12 anos, freqüenta o cinema de Zagati desde pequena. Está na sexta série do ensino fundamental. E nunca repetiu de ano. Diz que assistir aos filmes ajuda a ter melhores idéias para as redações na escola. A mãe de Andréia, Eliandra Oliveira Sales, tem mais duas filhas: Bruna, de 14 anos, e Stefanie, de dois meses, que “freqüenta o cinema desde que estava na barriga”, orgulha-se. Eliandra conta que uma vez foi ao shopping do Taboão porque as filhas queriam “conhecer um cinema de verdade”. Chegando lá, o dinheiro só dava pra dois ingressos. “Elas não quiseram entrar sozinhas porque falei que era muita escuridão lá dentro. Voltamos pra trás. Mas elas perceberam que o cinema daqui não é muito diferente.” Eliandra, que freqüenta as projeções de Zagati desde que elas aconteciam na rua e cada um levava sua cadeira, confessa que só foi mesmo umas poucas vezes ao cinema comercial: “Acho que umas quatro.” E arremata: “Prefiro o daqui. É perto de casa, de graça e o seu Zé explica muita coisa boa pra gente!!”

Atualmente, as sessões do Mine Cine Tupy também complementam o programa “Agente Jovem” – uma parceria do governo federal com as prefeituras municipais – em que adolescentes entre 15 e 17 anos em situação de vulnerabilidade social recebem ajuda financeira para permanecer na escola, além de participar de atividades profissionalizantes e culturais extra-classe. Zagati dedica duas sessões por semana ao atendimento do projeto. Mas não recebe nenhum dinheiro extra – apenas o salário de monitor estadual que hoje gira em torno dos 600 reais.

Além disso, uma vez por mês atende pacientes psiquiátricos de um centro comunitário da região. Segundo Zagati, eles vêm a pé acompanhados de psiquiatras e enfermeiros. “Hoje não é mais como antes, que os pacientes ficavam presos. Você tem que conversar com eles, arrumar a cabeça deles. Aqui eles se sentem normais, porque assistem o filme, conversam com todo mundo, comem pipoca. Não sei como explicar, mas eles sentem que fazem parte da sociedade!!” . Falou, dr. Zagati!!

EMPREENDEDOR SIM!! POR QUÊ NÃO??

A narração dessa história pessoal na boca de Zagati soa invariavelmente como um roteiro de cinema. Ouvi-la traz a impressão de que ele mesmo se enxerga como um personagem da telona, coisa que já o foi, e continua sendo, nos tantos filmes sobre sua vida. Mas, para além do personagem, é possível enxergar claramente um Zagati empreendedor social, embora, muito provavelmente, ele não se enquadre neste ou em qualquer outro conceito. Em princípio, ao ser provocado, estranha até mesmo o termo empreendedor, mas rende-se ao fato de que ele cabe sim dentro dele: “Nunca tive essa intenção. .. Mas, por tudo o que aconteceu, chegar aonde chegou, acho que posso me considerar um empreendedor! Estou conseguindo realizar coisas importantes….”

Qual o significado da palavra empreendedor, afinal? Zagati pensa um pouco. E arrisca: “Empreendedor é aquela pessoa que o patrimônio cresce. Tudo o que ele se propõe a fazer dá certo e ele tem a certeza de que vai dar certo. É, sou um empreendedor. Social!”

De fato, o patrimônio de Zagati cresceu. E se modernizou. Além da sede própria, o Mine Cine Tupy tem, hoje, uma coleção com 8 projetores 16mm, mais uns 4 ou 5 em super 8, além de um VHS e, claro, o DVD – preferência unânime da garotada (muitas das fitas de Zagati, entretanto, estão danificadas, por falta de acondicionamento apropriado do arquivo).

Atualmente, o empreendimento de Zagati está constituído juridicamente como uma OSCIP – a Associação Cultural Zagati – resultado do cumprimento de uma promessa de campanha do atual prefeito de Taboão da Serra. O próprio Zagati confessa, no entanto, desconhecer os benefícios do título. Os apoiadores do Mini Cine Tupy continuam os mesmos de todo o sempre – a comunidade, claro, o Depósito Trianon e o Center Rebelo – duas pequenas lojas de material da construção – além da Imobiliária Pirajuçara, “que ajuda nas festas de Natal e do Dia das Crianças com os comes e bebes e mais os brinquedinhos para as crianças” – diz.

Mas, efetivamente, o principal patrimônio do empreendedor Zagati não pode ser medido pelo passivo de imóvel e equipamentos. Está na mudança que promove na comunidade. “O que cresce é o que a gente está dividindo, partilhando com as pessoas, que é o cinema, a cultura. Então acredito que é um grande empreendimento”.

CINEMA PARADISO TUPINIQUIM

Para o leitor que se ressentiu até aqui da inevitável e obrigatória comparação da saga do Mini Cine Tupy com o filme de Giuseppe Tornatore (Cinema Paradiso, 1989), ok, aqui vai ela!

Zagati vê, sim, muita semelhança entre a história dele e a do projecionista Alfredo e seu ajudante, Toto. Ao contrário do menino da ficção, no entanto, Zagati não deixou sua comunidade para retornar mais tarde como um cineasta de sucesso. Continua fazendo cinema, à sua moda, na mesma periferia pobre da mesma Taboão da Serra onde chegou 51 anos atrás.

Quem disse, porém, que ele não sonha em ser cineasta???

“Acabo de dirigir um curta metragem, em VHS, chamado Pai. Trata do problema dos transplantes e da doação de órgãos no Brasil. O roteiro é de um rapaz aqui da comunidade, o Luiz Bezerra, que é ator. Além de dirigir o filme, interpreto Pedro, personagem principal, pai de Luiz.”, conta com certa timidez.

Zagati revela, ainda, que tem outro roteiro pronto, escrito por ele: O Pescador de Lambari – “um drama sertanejo”. Mas é também aqui, na periferia de Taboão da Serra, que ele pretende escalar seu elenco. Em seus filmes – atente para o plural! – Zagati quer tratar as questões da comunidade. E exibi-lás, obviamente, no Mini Cine Tupy.

Ele ainda não tem uma câmera na mão. Mas, com certeza, anda cheio de idéias na cabeça…

FIM

Filmes já produzidos sobre a história de Zagati

Zagati
 Direção: Nereu Cerdeira e Eduardo Felistoque/ SP
Ano de Produção: 2001
Formato: 35mm/PB/documentário dramatizado
Tempo: 17min
Onze prêmios em festivais nacionais, entre eles o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio Canal Brasil no Festival de Cinema de Gramado em 2002.

Mine Cine Tupy
Direção: Sérgio Block/ RJ
Ano de Produção: 2002
Formato: vídeo/colorido/documentário
Tempo: 6 min

Z.inema
Direção: Carol Thomé
Ano de Produção: 2005
Formato: vídeo/colorido/videorreportagem documental
Tempo: 20 min

*Cláudia Piche é repórter de TV. Com passagens pelo SBT, TV Bandeirantes, CNT e TV Cultura, foi finalista do Prêmio Embratel 2005, na categoria Televisão, pela série 30 anos sem Vladimir Herzog.

Texto reproduzido do site: ideiasustentavel.com.br

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