segunda-feira, 3 de julho de 2017

Anibal Alencastro guarda a memória dos cinemas de Cuibá



Anibal Alencastro guarda a memória dos cinemas.

Historiador viveu época de glória quando Cuiabá chegou a ter 50 salas de cinema espalhadas pelos bairros.

João Bosquo.
Da Reportagem

O historiador Aníbal Alencastro começou sua carreira de historiador logo depois de sair do cinema ao assistir ao filme “Cinema Paradiso” de Giuseppe Tornatore, pois se viu naquela história de cinema e projetista de filmes e resolveu contar a sua história em livro. Nascido no Distrito da Guia, em 1943, e em 48 já estava morando em Cuiabá e inicia seus estudos. A primeira escola Barão de Melgaço, que ficava ali na Praça da República, no Palácio da Instrução, e depois no Liceu Cuiabano.

O fato de conhecer Cuiabá de cor e salteado, conta Aníbal, é porque morou em diversos bairros e decorou todos os caminhos até chegar à escola. Como exemplo conta que, quando estava matriculado na Escola Barão de Melgaço, ele morava no Mundéu e lembra da primeira professora, Dona Oló. Ele ajudava a professora Oló a levar os materiais até a casa dela, na Praça Bispo Dom José e depois seguia para casa. No Liceu Cuiabano faz o ginásio e o científico além de estudar particular com o renomado professor Sebastião Figueiredo, preparando-se para o vestibular.

Antes de entrar para a faculdade, veio o casamento, 1967, e começa a trabalhar no Cine São Luiz, que ficava bairro do Porto, como projecionista, ou seja, a pessoa que operava o projetor cinematográfico. Depois vai para o Cine Bandeirantes – o lançador dos grandes sucessos – e, por último para o Cine Teatro Cuiabá, a convite dos arrendatários da época, Cleto Meireles e Caliop Nunes de Barros.

O Cleto Meireles era um empresário empreendedor e foi ele que fundou o Cine Tropical – localizado na Barão de Melgaço, onde hoje é o prédio da agência central do Banco Bradesco, ao lado da Caixa Econômica.

Esse cinema foi uma pequena revolução em Cuiabá. Era uma sala com 1.200 lugares com poltrona de courvim vermelho e o cinema era cheio de nove horas. Entre a bilheteria e o hall de espera, tinha um pequeno jardim, no qual conjuntos, como Jacildo e seus Rapazes fazia música ambiente ao vivo. Foi no Tropical que aconteceu uma das primeiras apresentações de Roberto Carlos e seu conjunto RC 7, em nossa capital.

Quanto ao Bradesco, uma hora temos que resgatar essa história que “demoliu” o centro histórico de Cuiabá. Explica-se. Com a construção da Avenida Monumental – hoje Rubens de Mendonça, o governo projetou um trecho que deveria ser o centro bancário de Cuiabá, logo acima de onde hoje está o viaduto do CPA. O Bradesco, porém, por essas coisas que não se explica, conseguiu um alvará da prefeitura de Cuiabá e construiu a sua nova agência na Barão, num outro caixotinho, onde está o BMG e Losango. Ora, o Bradesco, era a maior potência, ficando no centro, os demais bancos não tiveram dúvidas. O Banco do Brasil construiu sua agência na Getúlio com a Barão, em frente à agência do HSBC, à do Itaú, idem, idem. O setor bancário idealizado para preservar o Centro Histórico, dançou, com os bancos no centro e todo mundo reclamando do trânsito.

Voltemos ao Aníbal. Quando ele foi para o Cine Teatro Cuiabá ele também tinha uma missão de implantar novas salas de projeção no interior do Estado, conforme o projeto delineado por Cleto Meirelles, e vai para São Paulo para fazer um estágio na empresa de projetores. Em Rondonópolis implanta o cinemascope de 35 mm; segue para Poxoréo, vem para Cuiabá e ruma para Poconé e Guiratinga. Além disso, dava assistência técnica, já que era quem montava os equipamentos nessas novas salas pelo interior para substituir os de 16 mm.

A carreira de projecionista encerra-se quando começa a trabalhar no Estado, mais especificamente na Codemat – Cia de Desenvolvimento de Mato Grosso, como desenhista copista e depois se torna topógrafo e como tal que vai viajar por todo Mato Grosso, naquele momento em que o Estado estava criando novos municípios frente à demanda de seu crescimento pós-divisão. Por estar na área de topografia tomou a decisão de fazer geografia e especializou-se em aerofotogrametria, em Santa Maria, no Rio Grande Sul. E como cartógrafo fez diversos mapas dos novos municípios. Em uma dessas reformas, quando da criação da Fundação Cândido Rondon, vai para essa entidade que era uma espécie de guardiã da memória do Estado de Mato Grosso, ‘bravamente’ extinta pelo governo do PSDB, de Dante de Oliveira.

Depois de aposentado, desperta o gosto pela escrita e escreve a sua própria história, contando a história do Distrito no qual nasceu, no livro “Freguesia de Nossa Senhora da Guia”, quando descobre todos seus antepassados, lembrando que Antônio Pedro de Alencastro foi presidente da Província por duas vezes e José Maria de Alencastro, mais tarde, que foi quem construiu o jardim, que mais tarde receberia o seu nome, hoje Praça Alencastro.

O gosto pelo cinema continua e, por essa época, inicio dos anos 90, assiste ao filme “Cinema Paradiso” e lembra a sua própria história quando projetista e escreve o livro “Anos Dourados de Nossos Cinemas”, contando as histórias dos cinemas cuiabanos, da inauguração até sua extinção, bem como os grandes filmes exibidos por estas paragens.

A história dos cinemas, claro, começa com o Cine Teatro Cuiabá, que sempre foi administrado por um concessionário desde sua fundação. Se o governo fosse da UDN o concessionário era um udenista de carteirinha. Vinha o governo seguinte do PSD, o cinema passava para um correligionário, assim era. Hoje não acontece mais isso, vamos fazer um esforço para acreditar nisso. Quando dessas mudanças, até as cadeiras eram retiradas. Entre uma gestão e outra, o cinema ficava fechado para reforma.

Além das histórias dos cinemas profissionais – como ele denomina -, o livro fala também dos cinemas poeiras que existiam nos bairros de Cuiabá que, em seu auge, chegou a contar, vejam só, com quase 50 cineminhas. Eram pequenas salas, com projetores de 16mm, e tinha um representante, Bella Tabori, que vendia as máquinas e alugava os filmes. Aníbal Alencastro também chegou a ter seu cinema poeira, o Cine Popular, na Rua Marechal Deodoro, e por conta de seus conhecimentos pegava o filme diretamente de São Paulo. Tabori, porém, não aceitou a independência de Aníbal, montou uma sala vizinha ao cinema dele e exibia os filmes de graça e o acabou derrubando. A televisão, porém, surgiu nas décadas seguintes para fechar de vez as portas de todos os cines poeiras.

O terceiro livro de Anibal Alencastro é “Cuyabá – História, crônicas e Lendas”, com histórias de ruas e causos; segue-se o livro também de história “Cuiabá: de vila a metrópole nascente”, em parceria com Elizabeth Madureira. Atualmente é um dos editores da revista “Almanaque Cuiabá”, onde, além da pagina de causos do Aníbal, escreve as pílulas, como chama os pequenos textos informativos.

Aníbal Alencastro brinca que, apesar de ser ‘dono’ da Praça Alencastro, já que foi José Maria de Alencastro que a construiu, já não conhece mais a Cuiabá que chega aos 300 anos de forma efervescente.

Texto reproduzido do site: diariodecuiaba.com.br

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