quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Confira o perfil de um homem apaixonado pelo cinema

Cidadão Benemérito de Ponta Grossa, João Ostrovski 
cresceu projetando filmes em cinema curitibano 
e ponta-Grossense (Foto: Karin Del Nóbile).

Publicado originalmente no site Cultura Plural, em 13/5/2014.

João Ostrovski: O menino do ‘Cinema Paradiso’

Confira o perfil de um homem apaixonado pelo cinema

por Fernanda Penteado e Karin Del Nóbile.

Nascido em 4 de abril de 1946, em Curitiba, o atual técnico em eletrônica João Ostrovski, é um filho do cinema. Da mesma forma que o filme "Cinema Paradiso", que menciona a história de um menino hipnotizado pelo cinema e que faz amizade com o projetista local, fazendo com que se envolvesse ainda mais no mundo das telonas, João teve contato com o cinema cedo, logo na época das telenovelas que tinham seus capítulos exibidos semanalmente nas salas de cinemas.

Fascinado pelos cartazes dos filmes, João olhava-os sempre e foi graças a eles que arrumou o seu primeiro emprego. Em 1954, com oito anos e em um cenário de muita chuva e lama, João viu a oportunidade de ter um dos cartazes para si. Porém, resolveu devolvê-lo ao dono do Cinema Morgenau,  que em gratidão ofereceu um emprego de "limpador de cadeiras" e como pagamento ingressos para as matinês, tão adoradas por crianças e jovens da década de 50.

Chegava pontualmente as 18h ou 18h15 e limpava 260 cadeiras, aproximadamente. Começava do encosto e seguia em direção aos assentos e, depois disso, ficava para a sessão das 20h. Depois de um tempo, seu gosto pelo desenho o promoveu à cartazista, cargo que ocupou por pouco tempo, pois aos 15 anos assumiu a cabine de projeção, da qual só saiu com 22 anos, um ano após o seu casamento com Wilma Ostrovski.

Desses encontros nas matinês, João e Wilma começaram a namorar e se casaram um ano depois. O casal foi morar numa casa nos fundos do cinema, cedida pelo patrão Jorge Souza. Após um ano de casados e muitos "diz-que-me-disse" o casal se mudou de lá. Mesmo longe da cabine, seu João, já um senhor, visitava o patrão e o cinema, sempre que estava em Curitiba. Hoje, na rua Conselheiro Laurindo, perto da Rodoviária da capital, o Cinema Morgenau continua funcionando.

Como projecionista, João presenciou muita coisa. As fitas chegavam ao cinema muito danificadas por rodarem em cinemas paranaenses antes de chegar ao cinema do bairro de Seu João. Era preciso manejá-las manualmente para que fossem exibidas sem problemas. Mas, mesmo assim, “haviam sessões que elas arrebentavam cinco ou sei vezes”, conta João Ostrovski com alegria. A rotina do Cinema Morgenau era corrida, filmes de sucesso formavam filas que ultrapassavam os limites do quarteirão e não era raro quando havia a necessidade de repetir as sessões logo em seguida. Foi nesta função que João conheceu sua esposa, Wilma, quando um dia ela, ainda garota, estava observando os cartazes do Morgenau.

 O gosto pelo cinema veio através de seu pai, que carregava fitas para o Morgenau. Ele era incumbido de transportá-las do centro até a cabine, dentro de um saco de estopa. Tudo isso pela troca por ingressos das matinês.  Atualmente, com 68 anos, João Ostrosvski não esqueceu sua paixão pelas produções cinematográficas e é dono de uma verdadeira relíquia em forma de coleção de fitas, cartazes e rádios antigos, outra paixão do técnico em eletrônica por profissão, mas projecionista de cinema de coração.

Coleções

A paixão de João pelo mundo do cinema foi muito além de seu trabalho como projecionista. Após sair do cinema, em 1968, ele começou a colecionar filmes de diversos gêneros. Hoje, o filho do cinema conta que deve ter mais de 6800 filmes. O número não é exato, pois ele parou de contar quando chegou a marca de 6500. Nesta coleção há filmes em fita, Video Home System (VHS) e Digital Versatile Disc (DVD).

O filme mais antigo de sua coleção é “The Great Train Robbery” (O Grande Roubo do Trem), filme estadunidense de 1903, o qual promoveu grandes mudanças no âmbito cinematográfico americano. Foi ele o responsável pela inovação e pioneirismo em filmagens de locações externas e no uso das montagens paralelas, por exemplo.

João possui, ainda, seis versões de “A Paixão de Cristo”, a original de 1903, de Ferdinand Zecca, e também, a mais famosa, de 2004, com Mel Gibson. Entre os gêneros que mais gosta de colecionar, os que se encontram na categoria clássicos, estão os faroestes e filmes de guerra. Além das coleções de ‘Os 3 Patetas’ e ‘O Gordo e o Magro’, dos quais gosta muito.

Outra coleção feita por Seu João é a de máquinas de passar filme, projetores e bitolas cinematográficas. Ele conta que deve ter entre 12 e 15 máquinas e projetores. Às vezes, exibe filmes para as máquinas não estragarem e para os rolos não ficarem parados e danificarem. O fascínio pelo meio cinematográfico não para por aí. Seu João tem com alguns amigos uma espécie de “clubinho de colecionadores”, como é denominado por ele.  O cinéfilo e seus amigos trocam filmes sem custo algum.

Vida Princesina

A vida princesina de João Ostrovski se inicia no final dos anos 70, quando sai de Curitiba e vem morar em Ponta Grossa. O motivo de sua mudança foi a necessidade de um técnico em eletrônica na cidade.

Nos quase 35 anos em que mora na cidade, Seu João trabalhou na maior parte do tempo na área de eletrônica. Hoje tem a Eletrônica 2001, empresa de conserto e reparos de eletrônicos, de rádios antigos e televisões. Apesar de se dedicar aos eletrônicos, Seu João trabalhou, ainda, com cinema na cidade. Foi ele o responsável por projetar o último filme em 35 mm que o Cine-Teatro Ópera, ainda no prédio velho, projetou. O projecionista João ficou nesta função por mais de um mês, na exibição do filme paranaense “Conexão Brasil”.

A partir disso, começou a visitar as salas de aula, a Apae e outras instituições, levando “Tom e Jerry” e festivais de desenho para as crianças que, em sua maioria, nunca foram ao cinema ou nunca viram um filme ser projetado. Diz, com emoção, que foi gratificante e emocionante essa experiência, concretizando uma forma de aprender a valorizar a vida.

A figura de João Ostrovski é bem conhecida na cidade de Ponta Grossa. Em 2011, a prefeitura o homenageou ao levar seu nome para um concurso, denominado Concurso Municipal de Vídeos-Documentários João Ostrovski “Lugares de Ponta Grossa”, além disso, foi nomeado Cidadão Benemérito de Ponta Grossa pela lei nº 5660 de 03/09/1996, pelo prefeito Paulo Cunha Nascimento. 

Texto e imagem reproduzidos do site: culturaplural.com.br

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