sábado, 16 de junho de 2018

Amor à arte mantém o Cine Veneza

 Projetor de última geração reproduz filmes em 4K (ultra HD) e com som digital (Dolby)

 Primeiros projetores são preservados pelo proprietário

Único representante da “época de ouro” dos cinemas da cidade é mantido pelo próprio
 dono para não fechar as portas. Sala tem capacidade para receber até 220 espectadores
 Fotos: Jota Gomes/Diário da Amazônia

Publicado originalmente no site do Diário da Amazônia, em 03/06/2015 

Amor à arte mantém o Cine Veneza

Os cinemas de rua perderam espaço para as salas de cinema dentro de shoppings.

Por Emerson Machado

Os cinemas de rua marcaram época em todo o Brasil, sendo que em várias cidades eles se tornaram pontos de encontro de sociedades inteiras. Em Porto Velho, a história do cinema começou na década de 1950, quando a família Lacerda inaugurou o Cine Lacerda. Com alguns empreendimentos no decorrer dos anos, muitos tiveram as portas fechadas e, atualmente, apenas o Cine Veneza sobrevive na capital.

De acordo com o Dr. Francisco Alves Lacerda, que ainda hoje é o proprietário do Cine Veneza, relembrar a época em que os cinemas eram uma sensação em Porto Velho é algo que faz com alegria. “Sempre gostei muito de cinema, cresci gostando desta arte e lembrar de quando investíamos no entretenimento de Porto Velho é algo que faço com orgulho”, contou ao Diário.

Entretanto, Dr. Lacerda afirma que o único sobrevivente desta época de ouro dos cinemas da família na capital é mantido pelo próprio dono para não fechar as portas. “Hoje em dia o Cine Veneza não se mantém por si só, mas eu me recuso a fechar as portas, pois é um lugar que ainda preserva o que Porto Velho já teve e tem no ramo do entretenimento”, destaca.

PIRATARIA É A GRANDE VILÃ

Lacerda ainda revelou que a pirataria de DVDs nos anos 2000 foi um dos momentos mais difíceis para o mercado do cinema em Porto Velho. “Na época que a pirataria se instaurou na cidade, precisamos fechar o Cine Brasil – que era um dos que mais atraíam o público da cidade. Filmes como ‘Anaconda’ tinham tanto apelo que os espectadores chegavam a formar filas que contornavam o quarteirão”, relembrou empolgado.

O Cine Brasil ficava na avenida Sete de Setembro e fechou as portas em 2007 – quando o negócio se tornou insustentável. Sobraram então o Cine Rio (que ficava no antigo Rio Shopping, outro empreendimento que passou por dificuldades nos últimos anos) e o Cine Veneza, que ainda recebe o público na rua Joaquim Nabuco, centro da capital rondoniense. “Fechamos o Cine Rio mais recentemente, que ainda recebia certo público, mas as dificuldades no Rio Shopping atingiram todas as lojas”, disse.

Apesar de tanta riqueza histórica e várias salas fechadas, o Cine Veneza continua firme na batalha de levar entretenimento aos porto-velhenses. Segundo o Dr. Lacerda, o público do Cine Veneza agora é mais familiar – pais e mães que decidem levar os filhos para assistir a algum filme. “Por isso, as animações fazem bastante sucesso e enche a sala, então conseguimos um público considerável para os padrões atuais”, revela.

DIFICULDADES NO DECORRER DA HISTÓRIA

A família Lacerda, que desde cedo investia em entretenimento para a capital de Rondônia e também em outras cidades do Estado, abriu os estabelecimentos para projetar filmes em Porto Velho porque via como um nicho a ser explorado. “Construir e manter uma sala de cinema é muito caro, então é preciso ter amor pelo que se faz para que dê certo. Por muito tempo deu certo, mas as coisas passaram a ficar cada vez mais difíceis”, admitiu.

Ele relembra que nos primórdios do cinema em Porto Velho, as pessoas se reuniam em peso para assistir aos filmes – que, às vezes, chegavam a levar dois ou três anos para serem exibidos aos porto-velhenses. “Eram poucos filmes disponibilizados pelo País e eles iam passando de cidade em cidade até chegar a Porto Velho, então, muitas vezes, quando eles chegavam já tinha se passado três anos do lançamento”, lembrou.

A chegada da televisão local também abalou os negócios da família Lacerda. “Quando chegou a televisão as pessoas deixaram de ir ao cinema porque preferiam ver o que passava na TV. A programação era feita com comediantes e outras personalidades da época e chamava a atenção dos espectadores”, acrescentou. A transmissão televisiva nacional também foi relatada como algo que dificultou os negócios. “A Globo chegou com a inovação de passar filmes que eram até recentes, que talvez chegasse aos nossos cinemas meses depois”, contou.

CONCORRENTE TROUXE VANTAGENS

Depois do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), o Corpo de Bombeiros pediu que o Cine Veneza passasse por diversas adequações. Hoje em dia, o cinema não conta mais com as cortinas vermelhas e o carpete, mas tem um poderoso sistema de emergências para os possíveis 220 espectadores – caso todas as poltronas sejam ocupadas. “Ficamos três meses fechados depois daquele incêndio para fazer as adequações e aproveitamos para aprimorar a tecnologia do cinema”, explica Dr. Lacerda.

As informações são confirmadas por Eduardo Aldunede, administrador do Cine Veneza há 8 anos. “O Dr. Lacerda entende de cinema, ele ama esta arte, então ele busca o melhor para o Cine Veneza. Temos equipamentos de última geração e um som potente de qualidade para receber os espectadores”, conta Aldunede. A cabine de projeção conta com sistema de som digital (Dolby), dois projetores de última geração – um deles que reproduz filmes em 4K (ultra HD) – e duas relíquias para preservar memórias: projetores antigos que são de valor inestimável para o dono.

Outro ponto destacado pelo administrador é a série de vantagens que o Cine Araújo (que é instalado dentro do Porto Velho Shopping) trouxe para Porto Velho desde 2008, depois de ter abocanhado parte dos espectadores nos primeiros anos de funcionamento, inclusive para o próprio Cine Veneza. “A concorrência do Cine Araújo, no shopping, nos fez modernizar o Cine Veneza, aumentamos a qualidade para um público que merece conforto e uma sessão perfeita”, afirma.

E com relação ao momento econômico da cidade e do País, Dr. Lacerda declara que mesmo com tantas dificuldades não pretende fechar o Cine Veneza. “Já pensei em fechar sim. Mas não consigo. Então pensei em reformular, construir mais uma sala e passar a administração para a minha filha, mas ainda não decidi. Muitos amigos me perguntam se eu fechei ou vou fechar o cinema, eu garanto que não. É o meu xodó”, finaliza.

Texto e imagens reproduzidos do site: diariodaamazonia.com.br

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