Películas de 16mm e 35mm são a grande relíquia do local.
"Pra um filme, é preciso quatro rolos", explica Seu Vavá
Do corte à projeção
Sempre ligado ao cinema, sua paixão, Seu Vavá não só
aprendeu a mexer com a técnica — é ele quem corta os filmes, projeta, etc. —
como também saiu do Estado para montar cinemas de bairro por algumas cidades do
Brasil. “Já estava com 24 anos, ainda era solteiro (só casei em 1955). Como eu
já tinha conhecimento de eletrônica, pagaram outro curso pra mim”, relembra.
Quando terminou todos os estudos, já tinha conhecimento de
rádio, cinema e televisão. “Aí fui pra São Paulo. Quando o Cinema Familiar
(outro local onde ele trabalhou) fechou, comecei a receber convite pra fazer
montagem de cinema em Belém, Castanhal (PA), Santarém (PA), Imperatriz (MA),
etc”.
É clara também sua lembrança dos tempos difíceis pelos quais
o cinema passou no Brasil daquela época. “Trabalhei direto de 1970 a 1973. Aí
veio exatamente a crise e, como não tinha como escapar, o meu cinema fechou
também. Aí no prédio, colocaram então uma oficina mecânica”.
"Esses shoppings de hoje em dia têm umas televisões
grandes!"
Raimundo Carneiro de Araújo (Seu Vavá) Proprietário do Cine
Nazaré
Antes do Cine Nazaré, Seu Vavá se aventurou por outras
profissões. “Já trabalhei com moldura de quadro, daqueles (em formato) oval que
hoje em dia nem tem mais, trabalhei com conserto de fechadura, móveis”. Mas seu
negócio era conseguir um emprego no cinema. “Até que um dia, um padre me
convidou pra fazer a limpeza do Cine Familiar (bairro Otávio Bonfim)...”
Depois veio o Cine Nazaré. Fechado por conta da crise, Seu
Vavá conseguiu reativá-lo. “Até então, eu continuava pagando o aluguel do
prédio. Tive muita dificuldade pra conseguir ele, tive que fazer as maiores
estripulias. A luta foi grande, mas eu consegui vencer. Ele é de minha
propriedade”.
E essa paixão, Seu Vavá, seguiu para os filhos? “Ave Maria,
eles não querem nem saber! Eu até entendo o porquê: eu os colocava, ainda
crianças, pra trabalharem comigo...”.
A memória do cinema permanece, até segunda ordem, com seu
único guardião.
Texto e imagem reproduzidos do site: opovo.com.br
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